Metade das famílias gasta mais que ganha

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Pesquisas mostram que, apesar do endividamento elevado, famílias não deixam de comprar os produtos mais sofisticados

Autor(es): Márcia De Chiara

O comportamento do brasileiro de não abrir mão do padrão de consumo conquistado levou auma situação inusitada. Mais da metade dos domicílios (51%) gastou mais do que ganhou em 2012, apesar de a renda média das famílias ter superado as despesas em 2%. Foi o segundo ano consecutivo que a renda ultrapassou o gasto e a fatia de famílias com o orçamento comprometido continuou alta, aponta pesquisa da Kantar Worldpanel. Em 2011, 52% das famílias estavam nessa condição.

A perspectiva é que número de domicílios com o orçamento comprometido – e, portanto, endividados – continue elevado. Isso porque essas famílias não deixaram de comprar alimen-tos,bebidas e artigos de higiene e limpeza mais sofisticados que experimentaram nos últimos anos. As famílias optaram por cortar quantidades compradas, diminuir as idas às lojas e até trocar o local de compras para preservar as conquistas.

Issoéo que revelam duas pesquisas que representam o universo de consumo de bens não duráveis de 48 milhões domicílios. Essas pesquisas são feitas regularmente pelas consultorias Nielsen e Kantar Worldpa-nel. Apesar de os números serem diferentes por questões de metodologia, os resultados apontam paraamesma direção,

“Agora o brasileiro busca substituição de produtos em al-
FONTE: NIELSEN
gumas cestas, em outras mantém itens mas reduz volumes e, no geral, está diversificando os canais de compras”, afirma Ole-gário Araújo, diretor de Atendimento daNielsen. “É um consumidor malabarista: vive na cor-dabamba para mantero padrão de compras com o orçamento apertado.”

A ginástica para preservar o que conquistou é nítida. No primeiro semestre deste ano, as quantidades consumidas de uma cesta com 131 categorias de alimentos, bebidas e artigos de higiene e limpeza apurada pela Nielsen caíram 2,6% em relação a igual período de 2012. Apesar da retração dos volumes, houve aumento de 1,9% da cesta em
• Conquista

“Hoje o consumidor brasileiro é um malabarista: vive na corda bamba para manter o padrão de consumo conquistado nos últimos tempos com o orçamento apertado atual.” Olegário Araújo

DIRETOR DE ATENDIMENTO DA NIELSEN
valor, já descontada a inflação doperíodo.NapesquisadaKan-tar Worldpanel, o volume consumido de um cesta com 78 categorias cresceu 2% no primeiro semestre deste ano em relação a igual período de 2012 e em valor houve um acréscimo de
11% no mesmo período, sem descontar a inflação.

Na pesquisa da Nielsen, foi a primeira vez desde 2003 que houve queda nos volumes na comparação anual, com aumento real do gasto. Isso significa, segundoAraújo, que o consumidor não trocou a marca preferida e líder por outra de segunda linha. “Ele simplesmente com-proumenos.” Esse movimento, segundo ele, ocorreu nas cestas de produtos de higiene e beleza e em bebidas, isto é, em categorias nas quais o consumidor en-xergamaisvalornoproduto. Iogurte e condicionadorparaoca-belo são exemplos de produtos nos quais houve essa mudança no padrão de consumo.
INFOGRÁFICO/ESTADÃO
Christine Pereira, diretora Comercial da Kantar Worldpa-nel, ressalta que 9 categorias deixaram de ser tidas como supérfluas entre 2008 e 2013,mes-mo com o comprometimento elevado do orçamento. São elas creme de leite, extrato de tomate, molho de tomate, cereal tradicional, tempero, absorvente higiênico,leite em pó e maionese. Esses produtos foram comprados pelo menos uma vezpor 70% dos lares nos últimos 12me-ses,especialmente entre as classes de menor renda (C, D e E).

Atacarejo. “Como o consumidor não abre mão das compras, ele optou por ser mais racio-nal”,observaChristine. Isso sig-
nifica, por exemplo, diversificar os locais de compras. Em 2001, por exemplo, 61% da população fazia compras em mais de três canais diferentes. Hoje esse índice subiu para 84% na média do País. Nas regiões metropolitanas de São Paulo e do Rio deJaneiro, o indicador atingiu 90%, com destaque para o atacarejo, mistura de atacado com varejo, e farmácias.

Segundo aNielsen, no primeiro semestre de 2013 ovarejo tradicional teve retração nas quantidades vendidas. Em compensação, tanto as lojas de atacare-jo como as farmácias ampliaram as quantidades vendidas porque ofereceram preços menores ante o varejo tradicional.