Mulheres que inspiram: “A aprovação é um caminho certo para aqueles que persistem, independentemente do tempo necessário para alcançá-la”

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O especial Mulheres que inspiram, produzido especialmente pela Associação de Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento (Assecor) para apresentar histórias e desafios cotidianos enfrentados por milhares de profissionais pelo país, chega ao seu fim mostrando a história pessoal e profissional de Patrícia Pereira, uma jovem servidora pública federal que é exemplo de resiliência e persistência.

Desde que começou a trabalhar no serviço público, há 18 anos, Patrícia precisou enfrentar e questões que deveriam ter sido banidas da sociedade: o preconceito e o machismo. Um desses casos ocorreu quando ela ocupava um cargo em comissão. Por ser negra, ela conta que, “em situações específicas, (as pessoas no trabalho) desconsideram que eu sou servidora pública”, destacou. Pensamento retrógrado para aquelas pessoas que pensam que a cor da pele define o cargo ou a profissão de uma pessoa.

No episódio mais recente, ocorrido anos antes dela ingressar no cargo de Analista de Planejamento e Orçamento, ouviu de um colega de trabalho que, por ser mulher (e frágil), ali não era o seu lugar. A jovem servidora decidiu responder com palavras firmes, de quem não aceita imposições machistas. “O lugar da mulher é onde ela quer estar. Fique à vontade para reclamar com o chefe sobre a minha alocação”.

Engajada nas causas que buscam a equidade de gênero e raça e diversidade na esfera profissional e nos direitos básicos aos cidadãos, a servidora lista uma série de instrumentos que poderiam ampliam a participação do público minoritário em cargos de destaques: “para a ocupação de pessoas negras, é de extrema relevância a continuidade da política de cotas. Para a ampliação da participação de mulheres, é fundamental que sejam garantidas políticas públicas, como a ampliação de vagas em creches, por exemplo, que possibilitem maior tempo para dedicação à ingresso em carreiras diversas”, sugeriu.

Confira, a seguir, a entrevista completa da servidora Patrícia Pereira.

Veja também

As entrevistas anteriores da série Mulheres que inspiram podem ser acessadas abaixo:

Mulheres Que Inspiram: “Posso ser uma exceção, sou negra e mulher”
Mulheres Que Inspiram: “Nós mulheres, não podemos abaixar a cabeça e podemos, sim, disputar qualquer vaga sem medo”
Mulheres Que Inspiram: “A Equidade De Gênero E Raça É Enriquece As Políticas Públicas”

Quando entrou na carreira de planejamento e orçamento?

Em 2017.

Como era a participação das mulheres e pessoas negras na carreira quando você entrou?

Ingressei no primeiro concurso com cotas para Analista de Planejamento e Orçamento (APO). Não havia participação de gênero igualitária entre os aprovados. A política de cotas possibilitou uma maior participação de pessoas negras na carreira. Esse aspecto foi inclusive mencionado durante várias aulas no curso de formação para ingresso na carreira.

Houve alguma percepção de melhora ou piora na participação das mulheres e das pessoas negras na carreira desde então?

Não houve outro concurso para a carreira de analista de planejamento e orçamento. Então, não é possível avaliar se houve melhora ou piora participação de mulheres e de pessoas negras.

E com relação à participação das mulheres e pessoas negras na ocupação de cargos em comissão, você enxerga alguma mudança desde a sua admissão na carreira?

A partir desse ano, há um maior recorte de gêneros, mas esse recorte não é ainda multicolorido.

Você já ocupou cargos em comissão? Se sim, quais foram os principais desafios enfrentados?

Já ocupei cargos em comissão. O maior desafio foi, em situações específicas, desconsiderem que eu sou servidora pública, em razão da minha cor.

O que você acha que poderia ser feito para ampliar a participação das mulheres e das pessoas negras nas carreiras das finanças públicas?

Para a ocupação de pessoas negras, é de extrema relevância a continuidade da política de cotas. Para a ampliação da participação de mulheres, é fundamental que sejam garantidas políticas públicas, como a ampliação de vagas em creches, por exemplo,  que possibilitem maior tempo para dedicação à ingresso em carreiras diversas.  É preciso uma reflexão sobre o aumento da escolaridade das mulheres em todos os níveis educacionais e proporção de mulheres que ingressam nas carreiras públicas.

Que conselho você daria para as mulheres e pessoas negras que estão ingressando ou que pensam em ingressar em alguma das carreiras das finanças públicas?

Sejam perseverantes, mesmo diante das dificuldades. Não internalizem estereótipos discriminatórios, como “Mulheres com filhos não conseguem estudar”. “Mulher é frágil”. A aprovação é um caminho certo para aqueles que persistem, independentemente do tempo necessário para alcançá-la.

Como estamos falando sobre experiência de APO, não citei minha experiência anterior onde ouvi de um colega de trabalho que eu não deveria estar no mesmo local de trabalho dele, pois mulher é frágil. Eu respondi: o lugar da mulher é onde ela quer estar. Mas que o colega era livre para reclamar com o chefe sobre a minha alocação.

Por que você escolheu a carreira no serviço público?

Atuo no serviço público desde 2005. Inicialmente, escolhi para ter maior estabilidade financeira.  Resolvi mudar de função em busca de maior motivação profissional.

Quem é sua maior referência profissional? E por quê?

Como APO, não posso citar uma única referência, pois posso ser injusta. Sempre tive contato com profissionais brilhantes que, apesar do tempo no serviço público, continuam motivados em busca do melhor resultado para as políticas públicas. Da minha experiência anterior, o desabafo de um chefe: “as pessoas esquecem que as instituições são feitas de carne e osso”. É uma referência para mim. De forma geral, como servidora pública e mulher, posso citar como referência profissional minha professora de Ciências Políticas, Maria das Dores Campos Machado, que é um exemplo de dedicação e profissionalismo.

De alguma forma, você acredita que seu trabalho incentiva outras mulheres a ingressarem ou progredirem na carreira?

Sim. A conquista de uma mulher é uma conquista de todas.

Por que é tão importante a equidade de gênero e raça nas organizações?

Porque possibilita a valorização das profissões tradicionalmente femininas, além de possibilitar a inserção da mulher nas profissões predominantemente masculinas.