Mulheres que inspiram: “a equidade de gênero e raça é enriquece as políticas públicas”

420

A frase destaca acima é da experiente servidora Sandra Sato, que há mais de 20 anos atua no Governo Federal. Ela é a terceira personagem da série Mulheres que inspiram, lançada pela Associação de Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento (Assecor) para homenagear e reconhecer o excelente trabalhado desenvolvido por milhões de brasileiras para o especial semana da mulher.

Acostumada a coordenar diferentes grupos de trabalhos em ministérios e órgãos da esfera federal, Sandra Sato destaca que a ausência de igualdade de gênero e raça é um dos grandes desafios enfrentados no funcionalismo público, juntamente com a falta de continuidade de trabalho após a troca do titular máximo do órgão. Em todos os lugares em que trabalhou, a servidora afirma que os cargos de gestão são predominantemente destinados a profissionais do sexo masculino.

“Ainda que as qualificações profissionais das mulheres sejam melhores, observo que os cargos em comissão são preferencialmente ofertados no contexto da cultura ainda dominante do homem provedor. Outro ponto que destaco é a permanência no cargo em comissão visto que a quebra da resistência à liderança da mulher ainda é uma construção diária”, menciona. Na entrevista concedida, Sandra também fala sobre carreira, perspectiva de futuro, referência profissional, entre outros temas.

A entrevista com uma das pioneiras na carreira de Analista de Planejamento e Orçamento pode ser conferida abaixo.

Veja também

As duas primeiras entrevistas com mulheres que inspiram podem ser acessadas a seguir:

Mulheres Que Inspiram: “Posso ser uma exceção, sou negra e mulher”
Mulheres Que Inspiram: “Nós mulheres, não podemos abaixar a cabeça e podemos, sim, disputar qualquer vaga sem medo”

Quando entrou na carreira de planejamento e orçamento?

Em 2000.

Como era a participação das mulheres e pessoas negras na carreira quando você entrou?

Sempre minoria. No curso de formação, nós mulheres éramos somente algumas, em torno de 20%; pessoas negras não atingiram nem o percentual de 10%.

Houve alguma percepção de melhora ou piora na participação das mulheres e das pessoas negras na carreira desde então?

Minha percepção é de houve uma pequena evolução na participação de mulheres na carreira. Hoje encontramos mulheres APO em cargos de direção, entretanto, como em todos os órgãos e carreiras, estamos muito aquém da igualdade de gênero na ocupação dos espaços de decisão. Quanto às pessoas negras essa percepção é de evolução muito mais lenta.

E com relação à participação das mulheres e pessoas negras na ocupação de cargos em comissão, você enxerga alguma mudança desde a sua admissão na carreira?

Sim, visto a representação de mulheres nos cargos máximos das duas carreiras irmãs, APO e AFC. Nesses últimos 20 anos, duas mulheres ocuparam o posto máximo da Secretaria de Orçamento Federal e uma da Secretaria do Tesouro Nacional. Ressalto que estes fatos parecem pouco dado à quantidade de secretários federais dessas duas áreas, mas ressalto que a marcação de espaços dessas mulheres são referência para todos os integrantes das carreiras de finanças públicas.

Você já ocupou cargos em comissão? Se sim, quais foram os principais desafios enfrentados?

Sim, ocupei cargos em comissão no Ministério da Saúde, Ministério do Desenvolvimento Social e posteriormente no de Cidadania, e agora no Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania. Sempre na área setorial do sistema de planejamento e orçamento federal. Os desafios para este setor de finanças públicas são grandes, desde a legislação complexa da área, caminhando pela defasagem tecnológica dos sistemas e a inconstância dos órgãos. A exemplo, nesses últimos 6 anos, passei por incorporação e desmembramento de 5 órgãos/entidades.

Outro desafio que destaco é a forma de escolha dos servidores para ocupação de cargos comissionados. A falta de sistema de mensuração de produtividade ou mesmo de sua qualificação faz com que a desigualdade de gênero esteja sempre no contexto central das nomeações de cargos. Ainda que as qualificações profissionais das mulheres sejam melhores, observo que os cargos em comissão são preferencialmente ofertados no contexto da cultura ainda dominante do homem provedor. Outro ponto que destaco é a permanência no cargo em comissão visto que a quebra da resistência à liderança da mulher ainda é uma construção diária.

O que você acha que poderia ser feito para ampliar a participação das mulheres e das pessoas negras nas carreiras das finanças públicas?

Creio que um projeto de ascensão na carreira, em termos de ocupação de cargos em nível decisório, seria um bom atrativo para além da boa remuneração.

Uma mudança na gestão da carreira, no sentido de ocupação gradual de cargos decisórios por mulheres ou pessoas negras, teria como ganhos a mudança gradual na cultura na área de finanças publicas que na minha visão reverberaria para as outras carreiras.

Que conselho você daria para as mulheres e pessoas negras que estão ingressando ou que pensam em ingressar em alguma das carreiras das finanças públicas?

Diria que as carreiras de finanças públicas são ainda um espaço que devemos, mulheres e pessoas negras, nos apropriarmos visto que se trata de área estratégica nas três esferas de governo, e que a visibilidade de nossa atuação e as mudanças que conseguirmos promover serão catalizadores também para outros espaços profissionais.

Por que você escolheu a carreira no serviço público? Houve incentivo por parte de alguém?

A escolha se deu de forma natural, criada em Brasília, meus amigos e colegas à época também seguiram o mesmo caminho. Hoje, vejo que salário, a estabilidade e trabalhar para a sociedade (não para uma empresa privada) são grandes estimuladores para permanecer na carreira publica.

Quem é sua maior referência profissional? E por quê?

Tive a sorte de encontrar ao logo da vida profissional excelentes chefes, totalmente comprometidas com as causas publicas.

De alguma forma, você acredita que seu trabalho incentiva outras mulheres a ingressarem ou progredirem na carreira?

Sim, o fato de ocupar cargos decisórios ao longo de minha profissional creio que são estímulos para as demais servidoras. E também estímulo às servidoras com quem trabalho a assumirem cargos decisórios.

Por que é tão importante a equidade de gênero e raça nas organizações?

Enriquece os modelamentos de políticas publicas e fortalece as politicas de inclusão e diversidade. Em última instância se trata de direitos humanos.