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O governo não cansa de reclamar do que considera um pessimismo exagerado em relação à economia. Mas bem que poderia dar uma boa ajuda — real, sem maquiagens — para tentar reverter parte da desconfiança que tomou conta da sociedade e está condenando o país a registrar, na administração Dilma Rousseff, a menor taxa de crescimento em 20 anos.

Até a próxima sexta-feira, o Ministério do Planejamento terá de encaminhar ao Congresso a proposta orçamentária de 2014. Não é segredo para ninguém que esse instrumento sempre foi uma peça de ficção. Contudo, seria de bom grado se o governo, desta vez, explicasse direitinho como será cumprida a meta fiscal do ano que vem, independentemente se de 1%, 2,3% ou 3,1% do Produto Interno Bruto (PIB).

Boa parte do mau humor dos agentes econômicos com o governo tem como base a farra nas contas públicas. Nos últimos três anos, foi vergonhoso ver a forma, descarada, com que o Tesouro Nacional recorreu a truques, malabarismo, artimanhas, para atingir a meta de superavit primário. Portanto, se ao menos, agora, houvesse sinais claros, consistentes, de que a transparência prevalecerá, talvez os investidores dessem um voto de confiança ao Palácio do Planalto.

Dado o histórico do governo Dilma, é difícil acreditar. Desde a desastrosa era Collor de Mello, apeada do poder por corrupção, não se via uma administração tão ruim. A qualquer pessoa que se pergunte hoje qual o grande legado da primeira mulher a ocupar o Palácio do Planalto, ninguém conseguirá responder. Mesmo depois de muito esforço da memória e da boa vontade de quem estiver sendo questionado.

Na verdade, quando se avalia a administração Dilma, o que se constata é um governo perdido, que recuou em quase todas as medidas que anunciou como conquistas para o Brasil. A mais notória delas, a queda da taxa básica de juros (Selic) para o menor patamar da história, de 7,25% ao ano, em outubro de 2012. Isso, mesmo com a inflação em alta, encostando no teto da meta perseguida pelo Banco Central, de 6,5%.

Depois de ter brincado com a inflação, que solapou o poder de compra das famílias e tirou a previsibilidade das empresas, em abril último, o Planalto autorizou o Comitê de Política Monetária (Copom) a elevar a Selic. A taxa saltou para 8,50% e deve passar a 9% ao ano na quarta-feira. Com um discurso ainda titubeante, o presidente do BC, Alexandre Tombini, avisou que os juros subirão ao nível que for necessário para que o custo de vida volte ao controle e se situe mais próximo de 4,5%, o centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

Esse arrocho, porém, não seria necessário em uma economia que está crescendo abaixo de 2% se a taxa Selic não estivesse atrelada aos interesses da presidente Dilma de se reeleger em 2014. Também o país não estaria pagando um preço tão alto neste momento, com a disparada do dólar. Está evidente que parcela importante da desvalorização do real — de 20% apenas nos últimos três meses — decorre da perda de credibilidade da política econômica.

Nu e de joelhos
Com os investidores mais seletivos, voltando a direcionar recursos para os países ricos, em especial os Estados Unidos, ficou claro o quanto o Brasil estava nu. Além de não fazer nenhuma das reformas estruturais para modernizar o ambiente de negócios, o governo adotou uma postura intervencionista cuja principal meta foi represar a inflação. Reduziu à força as tarifas de energia, adiou o quanto pode o reajuste das passagens de ônibus e trens — aumento derrubado pelos protestos das ruas — e vem corrigindo, a conta-gotas, os preços dos combustíveis.

Mesmo com essa política ultrapassada, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) jamais ficou abaixo de 6% em 12 meses ao longo deste ano. Os especialistas garantem que a inflação real do Brasil estaria girando hoje entre 8% e 10% — um escândalo para um país que pagou um preço tão alto para alcançar a estabilidade agora ameaçada.

Dependência
Mas não é só. Ao insistir em estímulos ao consumo, o Planalto provocou um desequilíbrio perigoso nas contas externas. Com o aumento desenfreado das importações, já que a indústria nacional não teve condições de atender a demanda crescente, as transações correntes do país com o exterior saíram de um superavit (sobra de recursos) de 1,25% do PIB, em 2006, para um rombo de 3,4% em julho último.

Para fechar essa conta, o governo está tendo de recorrer a capitais especulativos, que deixam qualquer nação de joelhos ao menor sinal de estresse. São justamente os países mais dependentes desses recursos — Brasil, Índia e Turquia — que apresentam as moedas mais desvalorizadas.

Quando havia o tsunami cambial criticado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, os investidores pouco ligavam para as fragilidades dessas economias emergentes. Bastaram, contudo, os Estados Unidos avisarem que a enxurrada de dólares no mundo promovida pelo Federal Reserve (Fed) está chegando ao fim, para que a bolha estourasse.

Incompetência
Apesar das evidências claras dos estragos provocados na economia pelas escolhas erradas de Dilma, o Planalto já mandou preparar os tambores para tocarem na sexta-feira, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgará o PIB do segundo trimestre. O crescimento, ante os primeiros três meses do ano, deverá ficar entre 0,9% e 1,1%. Para o governo, será o sinal de que a atividade retomou o fôlego.

Para os que preferem lidar com a realidade, sem rodeios, será o retrato de uma economia que esboçou alguma reação, mas não conseguiu resistir à incompetência de quem dirige o país. Melhor será olhar para a frente e enxergar, com humildade, o que ainda pode ser feito rapidamente para que a situação não degringole de vez.

» Vicente Nunes é editor de Economia