As mosqueteiras do Planalto
ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que já foi articulador político do governo Lula, foi um dos principais artífices da aprovação do programa Mais Médicos pelo Congresso, sancionado na terça-feira, mas acabou desautorizado pela presidente Dilma Rousseff. Fez um acordo para a aprovação do programa e o dispositivo acabou vetado. “A Ideli e a Gleisi é que fecham os acordos, elas não aprovam nada sem antes consultar diretamente a presidente Dilma Rousseff”, explica o líder do PSD na Câmara, Eduardo Francisco Sciarra (PR), que hoje comanda uma bancada de 42 deputados. Segundo ele, não adianta nenhum ministro forçar a barra, “elas só batem o martelo depois de consultar a presidente da República.”
Além de desautorizado por Dilma, Padilha apanha da oposição no Congresso. Foi para o pelourinho porque não pode sequer assumir que fez o acordo e levou um puxão de orelhas. Pelo contrário, é obrigado a tergiversar sobre o assunto. A emenda da oposição condicionava a permanência dos médicos contratados na segunda fase do Mais Médicos à criação de uma carreira específica, como reivindicam as entidades da categoria. O líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), apoiou a aprovação do programa por causa da emenda. Agora, acusa Padilha de romper o acordo. A situação de Padilha não é nova na Esplanada, praticamente todos o ministério já passou pela mesma situação.
A ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, e a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, são tratadas pela maioria dos políticos do Congresso como duas Genis. O mínimo que dizem a respeito delas — inclusive parcela da bancada do PT — é que não têm competência para os cargos que ocupam. As duas, porém, são uma espécie de mosqueteiras da rainha, sobrevivem nos respectivos cargos desde a posse de Dilma, apesar da forte oposição instalada na própria base do governo. Quem tromba com elas acaba se dando mal, como aconteceu com o ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza (PT-SP). Na verdade, o nome da muralha é Dilma Rousseff.
Outra mosqueteira é a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que monitora a execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e negocia a aprovação do Orçamento da União com o Congresso. O relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), deputado Danilo Forte (PMDB-CE), aprovou ontem seu relatório na comissão mista do Congresso, já prevendo a nova redação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento Impositivo, que torna as emendas parlamentares de execução obrigatória. Só fechou o texto depois de semanas de negociação com a ministra. Acabou limitando as emendas dos deputados e senadores a irrisórios 1,2% da receita corrente líquida (RCL) do ano prevista na proposta orçamentária, sendo que metade será destinada obrigatoriamente para “ações e serviços públicos de saúde”, conceito que abrange o Sistema Único de Saúde (SUS). Foram derrubados 1.081 destaques, sendo 82 do senador Walter Pinheiro (BA), estrela petista na Casa, que recebeu orientação da ministra para retirá-los. Para alegria dos desafetos, Gleisi e Ideli devem deixar a Esplanada para concorrer às eleições, mas ninguém se surpreendará se Miriam Belchior acabar deslocada para a Casa Civil, cujo funcionamento conhece muito bem.
Miscelânea
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung (PMDB) para uma conversa em São Paulo, na semana passada, e disse-lhe que, segundo as pesquisas internas do PT, ele seria o favorito ao governo capixaba — do qual o PMDB acaba de desembarcar. A proposta de Lula é que Hartung seja candidato ao Palácio Anchieta contra o governador Renato Casagrande (PSB), abrindo a vaga do Senado para o ex-prefeito de Vitória João Coser (PT). O vice-presidente da República, Michel Temer, que tratou do assunto no seu encontro com Lula, já trabalha para remover da disputa o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES).
Em tempo: o Ibope divulgado ontem foi de tirar a oposição do rumo: quem apostou no desgaste de Dilma com o leilão do poço de petróleo de Libra(pré-sal), perdeu. Resumo da ópera: Dilma tem 41%; Aécio, 14%; e Campos, 10%. Marina, no lugar de Campos, teria 21%; Dilma, 39% e Aécio, 13%. Com Serra no lugar do Aécio, Dilma teria 40%; o tucano, 18%; e Campos, 10%. Conclusão: risco de segundo turno somente com Marina Silva (21%) e José Serra (16%). O Ibope esteve uma semana na rua, em 143 cidades, até ontem.
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