
Como já se tornou hábito na imprensa brasileira, os servidores públicos mais uma vez saem mal na foto com a manchete publicada pelo portal UOL no dia 28 de maio, em que se noticia a assinatura de uma Medida Provisória para reajuste salarial do serviço público federal.
A reportagem “Senado aprova reajuste de R$ 73 bilhões para servidores do governo federal” usa o antigo expediente de selecionar informações e combiná-las de forma a gerar uma manchete que gera escândalo em quem lê.
Como já é de conhecimento comum, verificado em centenas de editoriais e reportagens, a disposição da imprensa brasileira para com o serviço público é amarga. Muito frequentemente, são feitas críticas ácidas contra as carreiras de Estado, sem considerar o critério jornalístico de “ouvir o outro lado”, e assim pespegando sobre todos os servidores uma imagem de privilegiados.
Este novo caso se enquadra nesse antigo esforço de negativar a imagem dos servidores públicos brasileiros. Porém, acreditamos que mais do que uma manchete tendenciosa, estamos diante de um possível erro de informação. Ao afirmar que os servidores federais terão aumento de R$ 73 bilhões, a matéria do UOL faz uma somatória de números que talvez não devessem ser somados.
O que diz o texto oficial
A matéria do UOL informa (apenas dentro do texto, e não na manchete) que os supostos R$ 73 bilhões de reajuste salarial serão implementados ao longo de três anos. De fato, a MP apresentada pelo governo em dezembro de 2024 estabelece um prazo de três anos para o reajuste: 2025, 2026 e 2027.
Mas na Exposição de Motivos da MP, que você pode ler clicando aqui, consta que os valores de impacto orçamentário ao longo destes três anos perfazem uma soma diferente. Trata-se de um documento assinado pelas ministras Esther Dweck (MGI) e Simone Tebet (MPO). Vejamos:
O parágrafo 15 da Exposição de Motivos afirma: “o impacto orçamentário, primário e financeiro, da proposta nos exercícios de 2025 para reajustes, reestruturações de carreira e gratificações, bem como para cargos comissionados e funções de confiança será de R$ 17.987.199.520,68, em comparação com 2024 (…). Já para o exercício de 2026, o impacto orçamentário será de R$ 8.769.659.795,21 em comparação com 2025 (…). Por fim, em 2027, com a anualização integral das despesas, o impacto orçamentário será de R$ 2.410.719.500,68 em comparação com 2026 (…). Tudo somado, o impacto orçamentário acumulado da proposta nos exercícios de 2025, 2026 e 2027 será, respectivamente, de R$ 17.987.199.520,68, de R$ 26.756.859.315,88, e de R$ 29.167.578.816,57”.
Ora, a soma dos números oficiais declarados na Exposição de Motivos, assinada por duas ministras de Estado, é exatamente o número final apresentado: R$ 29.167.578.816,57.
Isto deixa claro que os acumulados apresentados ao final do parágrafo 15 do documento (lembremos, assinado por duas ministras de Estado) se referem a um quantum acumulado ano a ano em progressão aritmética. Parte-se de um dado de 2024 e soma-se a ele o primeiro número (R$ 17,89 bilhões); depois soma-se a esta soma o segundo número (R$ 8,76 bilhões); em seguida soma-se a esta soma o terceiro número (R$ 2,41 bilhões). Perfazendo assim o impacto orçamentário acumulado de R$ 29,16 bilhões distribuídos em três anos, um número muito menos escandaloso do que os supostos R$ 73 bilhões anunciados pelo UOL.
A reportagem do UOL chegou a este número pela conta errada: somou apenas os acumulados ano a ano, sem se dar conta de que os acumulados (como aliás o próprio nome diz) não permitem somar duas vezes os mesmos valores. Foi exatamente este o erro do UOL. Consideremos que foi apenas um erro, e ainda assim a dignidade dos servidores públicos segue arranhada.
A Assecor contra isto se posiciona e, respeitosamente, chama atenção do público geral e em especial dos servidores federais para esta má informação sobre as carreiras de Estado.