Compra antecipada para fugir das eleições

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Autor(es): PAULO DE TARSO LYRA

Pressionada pelos militares a decidir sobre a compra dos caças do programa FX-2, que se discute desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, a presidente Dilma Rousseff bateu o martelo para adquirir as aeronaves suecas em outubro. Segundo informações do Palácio do Planalto apuradas pelo Correio, a decisão só foi anunciada na quarta-feira por três motivos. Um deles é que Dilma dá uma resposta aos americanos após a revelação da espionagem sobre autoridades brasileiras, incluindo ela própria, descredenciando a Boeing, produtora do Super Hornet. O governo também avaliou que, se deixasse o anúncio para 2014, ano eleitoral, poderia ficar sujeito a críticas e pressões externas.

Para manter as relações diplomáticas com os franceses, um governo também de esquerda, Dilma esperou para anunciar a decisão oficialmente apenas após a visita do presidente da França, François Hollande, ao Brasil na semana passada para não o constranger. Ela fez questão de informar o dirigente francês de que escolheria os suecos. O anúncio oficial do Brasil poderia prejudicar a primeira viagem do colega francês ao país, já que a empresa Dassault, produtora do Rafale, acabou preterida ao lado da americana Boeing.

Orçamento
O dinheiro da compra dos caças entrará no orçamento do Ministério da Defesa somente a partir de 2015. De acordo com assessoria de imprensa da pasta, não há qualquer previsão de desembolso de recursos em 2014. Conforme explicou o ministro Celso Amorim, os investimentos da ordem de US$ 4,5 bilhões estão previstos em um cronograma de desembolso que se estenderá até 2023. Tudo será definido nas negociações contratuais. O valor representa o montante anual que a Defesa tem para investir na compra de equipamentos e execução de obras. Por isso, não deverá haver grandes dificuldades para bancar a aquisição das aeronaves. Um cálculo médio mostra que a pasta teria que ter cerca de R$ 1 bilhão anual a mais para comprar os caças nos próximos 10 anos.

Além disso, caso o governo precise de auxílio financeiro, é possível que bancos suecos ajudem os brasileiros a financiar a compra. No caso do Programa de Desenvolvimento de Submarinos, também executado pela Defesa, o Brasil conta, por exemplo, com financiamento de bancos da França — o mesmo expediente poderia ser utilizado no caso dos jatos, caso houvesse necessidade.

Até que os primeiros Gripen NG comecem a voar para proteger o território brasileiro, a defesa aérea ficará a cargo dos caças F5-M que foram recentemente modernizados pela Embraer.“Existe a possibilidade de o país vencedor do FX-2 colocar à disposição da FAB, como solução intermediária, um quantitativo de caças Gripen, modelo CD, para reforço da proteção do espaço aéreo brasileiro, em condições e prazos a serem definidos”, explicou a pasta em nota. A Boeing e a Dassault também haviam sinalizado ao Brasil que poderiam ceder aviões menos modernos enquanto não entregavam os principais.