Esplanada das gambiarras

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Autor(es): SAULO ARAÚJO

Correio Braziliense – 26/11/2012

 

Com manutenção precária, os 19 prédios que abrigam os 30 ministérios sofrem com toda a sorte de problemas. Tetos sem gesso, fios expostos, vidros quebrados e infiltrações preocupam os servidores. Os bombeiros começam hoje a fazer vistorias

 

Mofo, infiltrações, paredes rachadas e fios expostos são problemas comuns nos 19 prédios situados na Esplanada dos Ministérios. Apesar de abrigar os órgãos mais importantes do governo federal, as edificações carecem de reparos pontuais. As falhas parecem pequenas, mas irritam e preocupam os servidores. Especialistas ouvidos pelo Correio alertam que a falta de manutenção periódica pode, futuramente, comprometer a estrutura das instalações. Hoje, o Corpo de Bombeiros começa a vistoriá-las. A primeira pasta a ser inspecionada é a do Esporte, onde um eletricista da Companhia Energética de Brasília (CEB) morreu há 10 dias, após a explosão de um gerador (leia Memória). 

No 8º andar do edifício que abriga os ministérios do Esporte, do Desenvolvimento Agrário, além da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, chama a atenção a falta de blocos de gesso no teto. Situação semelhante pode ser vista no Ministério do Turismo. Nem mesmo os ambientes próximos ao gabinete do ministro Gastão Vieira ficam de fora. No 9º andar, próximo ao acesso às escadas, uma das portas ameaça cair. Dois lances abaixo, buracos no telhado denunciam a ausência de reparos no lugar. No mesmo piso, persianas foram retiradas e acomodadas em um corredor.

Já o Ministério da Cultura apresenta condições melhores. Alguns espaços passam por reformas, mas pequenas fissuras já causaram acidentes. No 2º andar, servidores contam que um ralo está aberto há pelo menos três meses. “Há alguns dias, uma mulher desatenta enfiou o pé aí dentro. Ela teve uma torção e saiu mancando. Graças a Deus, não foi nada sério, mas é algo que poderia ser evitado”, reclama um homem que preferiu não se identificar.

No prédio onde estão instaladas as pastas do Planejamento e do Desenvolvimento Social, o mofo consome algumas paredes. Há pavimentos que passam por reparos, mas ainda é possível se deparar com portas empenadas e enferrujadas. Em algumas unidades, nem é preciso entrar nas salas para constatar as imperfeições. No Ministério da Saúde, vidros trincados ameaçam quem passa pelo lugar. “É um perigo alguém cortar a mão aí. Enquanto não acontecer um acidente sério, ninguém toma providências”, protesta o motorista José Carneiro da Silva, 58 anos. No mesmo prédio, aparelhos de ar-condicionado estão danificados, explica.

No prédio da Fazenda, vagas de estacionamento precisaram ser isoladas devido ao risco dos vidros se soltarem. “Já caiu um vidro. Por sorte, já era fim de tarde e não tinha carro parado no lugar”, disse um dos vigilantes do prédio, que não quis se identificar. O susto levou funcionários do setor de Serviços Gerais a contratarem uma empresa para substituir algumas janelas.

Já o Ministério do Trabalho e Emprego possui espaços limpos e bem conservados, mas só até o térreo. No subsolo, preocupa a quantidade de fios expostos por todos os lados. Em um corredor, o teto está sem forro, expondo a fiação. Um risco a quem passa por lá.

Em outubro do ano passado, o Correio mostrou a situação degradante no piso onde funciona a Assessoria Especial do Ministério da Educação, fundada em 1960. Na ocasião, a combinação de fios com infiltrações no telhado tornava iminente o risco de curtos-circuitos. Na quarta-feira, a reportagem voltou ao local, que, agora, passa por reformas. Um trabalhador da empresa terceirizada responsável pelo serviço informou que a estrutura elétrica será substituída. 

Inspeções rigorosas

O engenheiro civil e professor da Universidade de Brasília (UnB) Dickran Berberiam critica a fórmula de “maquiar” os ministérios com pequenas modificações. Ele alerta para a necessidade de inspeções criteriosas e com periodicidade regular. “Em Brasília, como as construções são, de um modo geral, muito boas, os gestores acabam relaxando e promovendo apenas reparos que escondam os problemas a olho nu. Mas os prédios não são eternos. Pelas normas brasileiras e internacionais, a cada cinco anos, deve ser realizada uma vistoria normal e, a cada 10 anos, uma inspeção rigorosa. Mas a realidade é que ninguém faz esse tipo de prevenção”, afirma o docente, também especialista em patologia de estruturas.

O docente ainda esclareceu que a falta de cuidados pode resultar em um gasto alto a médio e longo prazo. “Construção é igual a dor de dente. Se você tratar a cárie no início, não dói, sai barato e não será preciso uma cirurgia complexa. Agora, se você demorar para ir ao dentista, vai ficar bem mais caro, a dor tende a ser mais intensa e o tratamento pode durar meses”, comparou Dickran. 

A maior parte das edificações situadas na Esplanada dos Ministérios foi construída há mais de cinco décadas e nunca passou por uma grande reforma. De um ano para cá, a maioria dos prédios começou a receber reparos pontuais. O Ministério da Saúde informou que uma empresa terceirizada é responsável pela manutenção do edifício. Existe um projeto em andamento para dar início a uma grande reforma. As obras ainda não têm prazo para começar. 

O Ministério do Esporte, por meio de nota, informou que várias intervenções foram feitas há dois meses, além de manter uma rotina de prevenção. “O Ministério realiza manutenções preventivas e corretivas periodicamente nas áreas comuns do Bloco A. Em setembro, foram substituídos todos os corrimões das escadas de circulação do Bloco A, atendendo a uma solicitação do Corpo de Bombeiros. Nos anos de 2010 e 2011, o sistema elétrico do 7° e do 8° andares foi revitalizado”, diz o texto.

Já o Ministério do Planejamento esclareceu ter aplicado 
R$ 3 milhões neste ano para promover 15 reformas estruturais. Destacam-se a substituição de forros e da parte elétrica, a mudança da tubulação e a impermeabilização das caixas d’água. 

Memória

Explosão e morte

Um funcionário da Companhia Energética de Brasília (CEB) morreu no último dia 15 ao ser atingido por uma explosão de um gerador localizado na subestação de energia do prédio do Ministério do Esporte. Wilson de Pádua Pires, 51 anos, foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros, mas não resistiu a duas paradas cardiorrespiratórias, traumatismo craniano e queimaduras de terceiro grau. Um companheiro de trabalho de Wilson, José Pereira dos Santos, 58 anos, também se feriu. Ele teve escoriações e queimaduras e se recupera em casa. Segundo os bombeiros, o acidente ocorreu em virtude de um dos seis geradores do Ministério entrar em curto e incendiar.