Não existe banda cambial, diz Tombini

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Autor(es): Por Eduardo Campos, Thiago Resende, Monica Izaguirre e Ribamar Oliveira | De Brasília

Valor Econômico – 23/11/2012

 

 

O regime de câmbio no Brasil é flutuante e o Banco Central (BC) não tem nenhuma meta ou banda para o dólar, mas o país não vai deixar o real se valorizar “além de seus fundamentos”.

Tais afirmações marcaram boa parte da prestação de contas que o presidente do BC, Alexandre Tombini, fez na quinta-feira na Comissão Mista de Orçamento (CMO), em audiência pública que ocorre duas vezes ao ano por determinação da Lei de Responsabilidade Fiscal (LFR).

“Temos o regime de câmbio flutuante, mas tomaremos as precauções para evitar que o país seja uma praça de desvalorização de outras moedas”, disse.

O discurso de Tombini está afinado com o da presidente Dilma Rousseff, que inclusive foi citada por ele durante sua fala sobre o câmbio. “A própria presidente Dilma mencionou isso recentemente”, lembrou.

Dilma tem reiterado insatisfação com a taxa de câmbio e mostra preocupação com as políticas adotadas por outros países que, na sua concepção, afetam o preço do real.

“Não temos banda formal ou informal. O BC não defende qualquer nível de taxa de câmbio. Nem para cima nem para baixo”, disse o presidente do BC.

Tombini lembrou, no entanto, que a autoridade monetária está sempre pronta para atuar no mercado para que ele funcione dentro da normalidade.

Dentro desse contexto de manter a normalidade é que o presidente falou que, se preciso for, o BC vai ofertar liquidez ao mercado no fim de ano, como fez em outras ocasiões.

“Se preciso, interviremos na provisão temporária de liquidez na virada do ano”, disse o presidente da autoridade monetária.

Como não poderia ser diferente, Tombini defendeu a convergência da inflação para o centro da meta, mesmo que de forma não linear. Apontou que a política monetária se mantém e se manterá vigilante e que essa é a melhor forma de manter a inflação sob controle.

O presidente indicou que o crescimento já está mais intenso e que assim vai permanecer em 2013, com ajuda da demanda interna que segue forte. Para ele, a recente desvalorização na taxa de câmbio real vai ajudar a indústria no processo de expansão.

Sobre a política de juros, já na breve sessão de perguntas e respostas, Tombini disse que os ajustes serão feitos quando a autoridade monetária achar necessário.

“Quando preciso for, faremos ajustes para cima ou para baixo”, visto que os ciclos monetários permanecem. A ideia é “atender o que foi definido no nosso regime de metas de inflação”.

Ao se referir, por exemplo, à redução da taxa Selic, o presidente do BC disse que estamos em outro ambiente. “Estamos num outro intervalo, mais próximo do que ocorre no resto do mundo”, completou.

Olhando o quadro externo, a avaliação do BC permanece a mesma: baixo crescimento por longo período de tempo. A possibilidade de eventos de risco extremo está menor após as ações tomadas na zona do euro, mas isso não muda o quadro geral de depressão econômica.

Sobre os Estados Unidos, Tombini disse que se o “abismo fiscal” não for resolvido, o impacto será importante, mas indicou que a expectativa é que parte dos efeitos desse corte de gastos e aumento de impostos previstos para tomar lugar no começo de 2013 seja evitada.

No lado da política fiscal, o presidente da autoridade monetária apontou que a relação da dívida sobre Produto Interno Bruto (PIB) é inequivocamente de queda. E ilustrou que a situação brasileira é bastante confortável frente ao que se vê em alguns países da Europa, que estão tentando se comprometer a reduzir a relação dívida/PIB para 120% em alguns anos. Por aqui, essa métrica está ao redor dos 35% do PIB.

Pode-se dizer que “prestar contas” é fácil para o BC, já que o interesse dos parlamentares sobre o assunto é mínimo. Os temas câmbio, política monetária e inflação não atraíram mais de sete parlamentares à sala, que além de representar a Comissão de Orçamento, também reunia outras cinco comissões das duas Casas. O evento atraiu, mesmo, jornalistas. Eram mais de 30 fazendo a cobertura do discurso.