‘Mesmo sem atingir a meta, situação fiscal não é calamitosa’

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Membro da equipe de consultores econômicos dos governos petistas desde a gestão Lula, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, disse em entrevista ao Broadcast, serviço em tempo real ad Agência Estado, que considerou com um bom sinal o corte de R$ 10 bilhões no Orçamento de 2013, anunciado ontem pelos Ministérios do Planejamento e Fazenda.

Para ele, o governo precisava dar uma resposta ao mercado, que perdeu toda a confiança nas promessas de redução dos gastos públicos. Belluzzo disse que o governo fez “uma grande trapalhada” no começo do ano ao fazer o que ele mesmo chamou de “manobra fiscal” para atingir a meta.

Perguntado sobre a eficácia do corte, disse que não acredita que o valor seja suficiente para atingir a meta estabelecida, mas afirma que a situação das contas não é “calamitosa”.

Belluzzo preferiu não fazer uma previsão para o superávit primário deste ano e disse que do ponto de vista prático o corte não será suficiente para cumprir a meta fiscal de 2,3% do PIB. A seguir, os principais trechos da entrevista.

Qual a sua avaliação sobre o corte no Orçamento de 2013?

Eu acho que é um bom sinal e que mostra ao mercado e a analistas que o governo está tentando recuperar a credibilidade perdida na política fiscal.

Na sua opinião, quando o governo perdeu a credibilidade na condução de sua política fiscal?

No começo do ano. O que aconteceu foi que governo fez uma trapalhada. Foi muito infeliz. Com a manobra tirou a credibilidade da política fiscal.

O corte anunciado é suficiente para recuperar a credibilidade e levar o superávit primário a fechar 2013 na proporção de 2,3% do PIB?

Não porque a situação fiscal se torna mais complicada com o comportamento ruim da arrecadação. É uma situação muito parecida com o que está acontecendo na Europa. Ou aperta a política fiscal ou vai continuar correndo atrás do rabo. E a economia neste ano vai crescer modestamente.

O que o governo precisa fazer para recuperar a credibilidade?

Criar regras para equilibrar o Orçamento com uma conta de capital para garantir investimentos. E ao longo do tempo, cumprir o que promete.

Mas o senhor é um dos conselheiros econômicos do governo. Nunca o alertou para o risco de a situação chegar onde chegou?

A gente não aconselha o governo. A gente conversa. É muito fácil falar quando se está de fora. Não podemos ter a arrogância que fazemos isso ou aquilo, como muitos economistas jovens que quando chegaram ao governo não conseguiram fazer o que falavam aqui fora.

Qual é a maior dificuldade em se fazer um contingenciamento?

Quando se faz um contingenciamento, tem de se olhar para todos os ministérios. Mas devo dizer que apesar de não conseguirmos entregar a meta de superávit este ano, a situação fiscal do País não é calamitosa.

O próximo ano é eleitoral. Será que o governo não gastará mais com o apelo político?

A partir do segundo semestre, a própria lei eleitoral limitará os gastos públicos. Ficarão restritos ao primeiro semestre, mas como na elaboração do Orçamento os ministérios colocam qualquer coisa para atingir os gastos orçados, muitos deles poderão ser cortadas.