Mulheres que inspiram: “Posso ser uma exceção, sou negra e mulher”

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No primeiro texto destinado a homenagear as mulheres que são exemplos de profissionais dedicadas e vencedoras em suas áreas de atuação, considerando os avanços que elas tiveram na sociedade ao longo dos anos, a Associação de Servidores da Carreira de Planejamento e Orçamento (Assecor) apresenta um pouco dos desafios enfrentados pela Analista de Planejamento e Orçamento Tereza Cleise para ter o devido conhecimento profissional.

Tereza Cleise é uma jovem negra que estudou e batalhou desde cedo para alcançar seus principais objetivos profissionais. Formada em economia, Tereza ingressou no funcionalismo público em 2006, quando trabalhou no Ministério das Cidades, tendo atuado também na Advocacia Geral da União (AGU).

Antes de assumir um dos maiores desafios na carreira, como Coordenadora Geral de Política Fiscal na Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, a economista contou um pouco sobre o baixo de número de mulheres em cargos de chefias. Mais do que isso, Tereza aponta que a desigualdade de gênero é sim um desafio a ser vencido, mas ela destaca também que é necessária a equidade de raça nos principais cargos de gestão, em corporações públicas e privadas.

Confira, a seguir, um pouco da história vencedora da economista Tereza Cleise.

Quando entrou na carreira de planejamento e orçamento?

Entrei na Carreira no último concurso, em julho de 2017, mas já era servidora desde 2006. Antes de ser APO, fui economista do Ministério das Cidades e da AGU.

Como era a participação das mulheres e pessoas negras na carreira quando você entrou?

Por ser um concurso em que havia cotas para pessoas negras – diferente dos meus concursos anteriores – a proporção de pessoas negras era maior. Embora tenha entrado mais pessoas pardas e menos pessoas pretas, ainda assim a minha turma apresentava uma considerável participação de negros. No que se refere à questão de gênero, há uma participação majoritariamente masculina na carreira. As mulheres eram minoria em minha turma.

Houve alguma percepção de melhora ou piora na participação das mulheres e das pessoas negras na carreira desde então?

Como não conhecia os Analistas antes da minha entrada na carreira, não tenho como avaliar a evolução da participação de mulheres e negros antes do meu concurso. (2017).

E com relação à participação das mulheres e pessoas negras na ocupação de cargos em comissão, você enxerga alguma mudança desde a sua admissão na carreira?

Sim. Definitivamente, desde janeiro de 2023 notei uma mudança expressiva em relação à participação de mulheres em cargo de chefia. Há mais mulheres ocupando cargos em comissão, no entanto, não reparei essa mudança em relação a pessoas negras. Posso ser uma exceção, sou negra e mulher, que agora vai ocupar um cargo de Coordenadora Geral, mas não reparei muitas outras pessoas negras tendo a mesma oportunidade. Há, sim, poucas mulheres negras conhecidas que assumiram cargo no governo, mas são em número bem reduzido. Com exceção de mim, conheço duas apenas.

Você já ocupou cargos em comissão? Se sim, quais foram os principais desafios enfrentados?

O primeiro cargo em comissão que ocupei foi no ano passado, um cargo de Assessora Técnica (DAS 3) na então Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República. Agora em 2023, fui nomeada como Coordenadora Geral de Política Fiscal na Secretaria de Política Econômica no Ministério da Economia. Sinto que o maior desafio é demonstrar, a todo o momento, a sua capacidade para estar ali, ocupando aquele cargo. A dificuldade é dupla: ser mulher e ser negra. Eu trabalho com uma política que é dominada majoritariamente por homens brancos. O ambiente em que é debatida a política fiscal no Brasil não é muito permeado por mulheres e pessoas negras, no entanto, tenho visto uma evolução nos últimos tempos. Vejo mais mulheres debatendo política fiscal.

O que você acha que poderia ser feito para ampliar a participação das mulheres e das pessoas negras nas carreiras das finanças públicas?

Continuar com a atual política de cotas para o ingresso na carreira, bem como ampliar a divulgação sobre a importância das finanças públicas ainda no ensino médio das escolas públicas e privadas, e no ensino superior.

Que conselho você daria para as mulheres e pessoas negras que estão ingressando ou que pensam em ingressar em alguma das carreiras das finanças públicas?

Eu diria que é possível e que aqui é o nosso lugar sim. Os desafios são grandes, mas com muito esforço e oportunidade, é possível demonstrar nossa capacidade.

Por que você escolheu a carreira no serviço público?

A minha escolha pelo serviço público foi por vocação. Sinto que sou vocacionada a “servir o Público”. Sempre tive consciência que um dia deveria devolver à sociedade tudo que o Estado investiu em mim, desde a minha infância. Sempre estudei em escola pública, fiz um curso superior em uma Universidade pública e gratuita, fui bolsista durante a graduação, fiz Mestrado em uma Instituição pública (IPEA). Entendo que é não é mais do que minha obrigação devolver à sociedade – por meio de um serviço público bem prestado, com a implementação de boas políticas públicas – tudo que o Estado investiu em mim.

Quando e quem despertou esse interesse em você?

Tive esse interesse desde a adolescência. Meu pai é servidor público aposentado e tive grande influência da minha família.

Na sua opinião, quais devem ser as principais características de um bom gestor?

Um bom gestor na Administração Pública precisa ser coerente, atento com a realidade a seu redor, humano e, acima de tudo, comprometido com o bem-estar social. Não podemos ter outro objetivo maior do que entregar bens e serviços públicos de qualidade para a população. Nós, gestores públicos, devemos ter compromisso com o desenvolvimento do Brasil, ter uma visão de Estado e preocupar, sobretudo, com aqueles que ainda estão à margem, em termos de pobreza e desigualdade de renda.

De alguma forma, você acredita que seu trabalho incentiva mulheres a ingressarem ou progredirem na carreira?

Acredito que sim! Representatividade importa e muito. Sempre foi muito importante para eu encontrar com outras mulheres e pessoas negras no mesmo ambiente profissional. Você olha para essas pessoas e pensa consigo: eu não estou só. É possível.