Olimpíada ainda não tem custo definido

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Autor(es): Felipe Wemeck

Amenos de três anos dos Jogos Olímpicos de 2016, a prefeitura do Rio e os governos federal e estadual ainda não divulgaram um orçamento completo das grandes obras e intervenções urbanas que já mudam a rotina de cariocas. O anúncio da conta da primeira Olimpíada brasileira foi adiado duas vezes este ano. . Em 2009, o dossiê de candidatura da cidade apresentou valor de US$ 14,4 bilhões, sendo US$ 2,8 bilhões para o Comitê Organizador e US$ 11,6 bilhões para obras de infraestrutura, mas muita coisa mudou desde então.

A nova linha de metrô, por exemplo, que deve ligar a zona sul do Rio à Barra da Tijuca, na zona oeste, não constava do dossiê. A prefeitura aponta o projeto de mobilidade como a “mudança mais transformadora”. Serão abertos 152 km de novas vias para o sistema de ônibus articulados em faixas segregadas, chamado de BRT (Bus Rapid Transit, na sigla em inglês).

No entanto, d plano já foi alterado após a constatação de que faltava integração principalmente com os trens do subúrbio, entre outros problemas, como a passagem pelo centro histórico. Além das quatro linhas de BRT e do metrô até a Barra, o Rio promete construir um sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) com 28 km na zona portuária e no centro, por meio de consórcio privado que já explora os serviços de barcas, metrô, trens e ônibus. A prefeitura afirma que a atual frota de 9 mil ônibus será reduzida em um terço e que 60% das viagens por transporte público serão feitas em sistemas de alta capacidade livres de congestionamento (hoje são menos de 20%) até 2016.

Relatório confidencial do Comitê Olímpico Internacional (COI) revelado pelo Estado há dois meses mostrou, porém, que apenas metade da preparação para os Jogos estava em diá. Um dos pontos mais preocupantes, segundo o COI, é a infraestrutura, capítulo totalmente classificado de vermelho. O prefeito Eduardo Paes (PMDB) reconhece os atrasos e problemas na execução de obras, mas diz que “são normais”.

“Mais uma vez, os urubus vão se frustrar. A imprensa tem de cobrar e fiscalizar, mas os que torcem contra vão dar com a cara na porta, vão se ferrar. Vamos entregar tudo e Barcelona vai ficar no chinelo”, disse Paes na sexta-feira, durante visita ao terreno do futuro Parque Olímpico, na Barra, evento que marcou a contagem regressiva de mil dias para os Jogos. Citada pelo prefeito, a capital catalã foi sede dos Jogos de 1992, apontados como exemplo de sucesso de transformação urbana.

Protestos. As críticas aos gastos e prioridades na preparação do Rio para grandes eventos como Copa e Olimpíada se transformaram em um dos principais motes das manifestações de rua desde junho. De acordo com o Comitê Popular da Copa e Olimpíada, pelo menos 65 mil pessoas foram removidas de suas casas nos últimos quatro anos. A Anistia Internacional identificou violações e remoções forçadas.

“Talvez o maior legado seja justamente essa consciência, surgida a partir dos protestos, de que os investimentos públicos, que apareceram, não estão ; direcionados adequadamente, de acordo com a demanda social”, avalia o presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil j (IAB), Sérgio Magalhães. Para ele, seria “ilusão” imaginar que haveria aplicação diferente de recursos com o histórico de falta de planejamento. “Para beneficiar os cronogramas, o governo liberalizou ainda mais o modo de concorrência, permitindo que se contrate empreiteiras a partir do anteprojeto. Foi um retrocesso. Permitir licitação sem projeto completo estimula o aumento de custos, a perda de qualidade e a corrupção.”

O arquiteto também critica a escolha da zona oeste como principal destino dos investimentos para 2016. “Essa ideia de que o novo é o bom está por trás da escolha da Barra como lugar dos Jogos. O que já existe é mim, é velho, não interessa. O modelo que vigora na produção habitacional da Barra e que continua ditando as regras na cidade, com edifícios isolados e monofuncionais, está superado.”

Magalhães avalia que a oportunidade de levar atividades olímpicas à zona portuária foi perdida. “No porto cabem três Olimpíadas. Seria espetacular, mas não houve compreensão. Parte está em desenvolvimento, mas parte se perdeu, e essa perda é muito grave. Primeiro porque se continuou levando para a Barra habitações subsidiadas, e também porque se deixou de aplicar no centro. Hoje o porto vive um problema, pois precisa ter habitação para adquirir qualidade urbanística. Vai ser um grande mico se o Rio insistir em um lugar absolutamente corporativo.” O projeto Porto Maravilha prevê a revitalização de 5 milhões de m2 por parceria público-privada.