Tombini vê inflação ultrapassar teto da meta

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Autor(es): Eduardo Cucolo Célia Froufe Adriana Fernandes

O Estado de S. Paulo – 03/04/2013

 

 

Presidente do BC diz, porém, que instituição não faz cara de paisagem” para a alta dos preços, “que está sob controle, mas encerra riscos à frente”

Menos de uma semana depois da polêmica causada pela presidente Dilma Rousseff ao criticar políticas que reduzam o crescimento em prol de controle dos preços, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse ontem que vê a inflação caindo no segundo semestre, após um efeito “estatístico” neste início de ano. Segundo Tombini, os altos índices inflacionários do ano passado vêm contaminando o índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que deve ultrapassar o teto da meta (6,5%) no primeiro semestre.

“A inflação está sob controle, mas encerra riscos à frente”, disse Tombini ao mesmo tempo, em que frisou que o BC não faz “cara de paisagem” para a inflação em alta, que está atuando para derrubá-la e que o comportamento dos preços é o fator que irá guiar a decisão sobre a possível alta de juros neste ano. O norte para a decisão sobre a taxa básica de juros, estável em 7,25% desde outubro do ano passado, será o IPCA de março. O indicador será divulgado daqui a uma semana, sete dias antes da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Em sua primeira aparição pública depois de Dilma acusar “manipulação” de sua visão sobre inflação, Tombini deu mais ênfase ao controle de preços e disse que há sinais de recuperação da economia, inclusive na indústria e no investimento. Para ele, a tendência é de aceleração da atividade ao longo do ano, pois parte do efeito do corte de juros do ano passado ainda não entrou na “engrenagem” da economia. O economista participou de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

Comunicação. Segundo Tombini, o BC já começou a agir por meio de seus comunicados, o que provocou efeitos sobre o mercado de juros. Durante a audiência, Tombini afirmou que a queda dos preços agrícolas, já vista no atacado, não chegou a consumidor, o que pode estar ligado a custos no setor de serviços e aumento do frete, entre outros fatores.

O BC reafirmou, no entanto, a expectativa de recuo do índice de preços no segundo semestre. A instituição prevê que o IPCA ultrapasse o teto da meta de inflação nos 12 meses encerrados em junho de 2013, antes de recuar para 5,7% em dezembro. Para ele, porém, ultrapassar a marca limite ao longo do ano não pode ser considerado um descumprimento da meta, porque a tarefa do BC deve ser atingida apenas no fechamento de cada ano. Foi o que ocorreu em 2011, quando a inflação chegou a superar 7,3% nos 12 meses acumulados em setembro, mas terminou o ano em exatos 6,5%.

Apesar de ter acenado com a alta de juros, Tombini afirmou que taxas de juros mais baixas na economia são um legado que fica para o País, independentemente do que ocorra com a política monetária.

Acompanhamento

Alexandre Tombini
Presidente do BC

“É um quadro de inflação que o BC está olhando com cuidado e acompanhando as condições macroeconômicas para avaliar suas ações.”

“O IED tem sido uma fonte de recursos importante para financiar a conta corrente, mas não é a única possível”