Equipe econômica sob única direção
Confiando na articulação derradeira do expresidente Lula, consideremos que Dilma Rousseff conseguiu, com sua performática apresentação no Senado Federal voltada para as câmeras dos biógrafos, documentaristas e marqueteiros eleitorais, reverter votos suficientes de senadores para ser reconduzida à cadeira de presidente da República. Quem poderia ser considerado o mais óbvio integrante do seu novo governo pósprocesso de impeachment? O ministro interino do Planejamento do governo Michel Temer, Dyogo Oliveira. Alguém que, inclusive, já integrava a equipe de Dilma antes, em postos de responsabilidade e poder, nos quais até teve contato com a prática dos crimes de responsabilidade atribuídos ao desempenho da presidente na área de orçamento. Não só por isso vir do outro lado, ter ficado neste e certamente voltar para trás se o poder também voltar ao PT mas principalmente porque o presidente Michel Temer prefere Henrique Meirelles, ministro da Fazenda, na liderança da equipe e condução da política econômica, Dyogo será o primeiro a ser substituído. Nunca foi efetivado no cargo, permanece como interino, exatamente porque o interino Temer aguarda ser presidente de fato para escolher o ministro do Planejamento definitivo. Dyogo foi resgastado na demissão geral da equipe de Dilma pelo senador Romero Jucá (PMDB), que começou o governo como ministro do Planejamento. E foi útil, o Planalto reconhece, porque em tempo recorde era preciso apresentar nova meta fiscal e a lei orçamentária de 2017, além de aprovar a LDO, questões da sua área de domínio. Há um mês e meio, Temer achou que era o momento certo para definir de uma vez a equipe econômica definitiva e o desenho administrativo da área, prosseguindo com as discussões sobre a transferência da Secretaria de Orçamento para o Ministério da Fazenda, de forma a unificar ali a política fiscal. O Planejamento seria um ministério da gestão. Os interessados na manutenção de Dyogo Oliveira no governo Temer, com acesso aos dados, correram ao senador Jucá para denunciar a manobra e alertar para o incomensurável poder que a mexida daria a Meirelles, como se o ministro da Fazenda já não fosse poderoso total sem a secretaria. Alerta a que Jucá, e também o ministro José Serra, foram permeáveis, e as mudanças naquele momento foram abortadas. O ministrochefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, chamou a si as explicações para acalmar os ânimos e dizer que ainda não era momento de haver novo ministro, seria necessário esperar pela definição da volta ou não de Jucá, que aguarda uma improvável resposta do Ministério Público a respeito de suas implicações em delação premiada. Segundo Padilha, Dyogo, tal como outros que o estão assessorando na Casa Civil e foram plenamente fiéis e comprometidos com o governo Dilma, é um técnico, apenas um técnico. Neste momento, contudo, a história muda de figura. O presidente não parece suscetível a interferências de disputas internas entre os ministros economistas e o ministro da Fazenda. É o presidente interino que prefere a liderança total de Henrique Meirelles. E é ele, também, quem identifica uma diferença básica entre eles na concepção de seu projeto para a economia.
Principalmente por ser da área de Orçamento, e ter atuado nas secretarias executivas da Fazenda e do Planejamento no governo Dilma, que o trabalho de Dyogo foi útil ao governo interino, como certamente o terá sido ao governo Dilma na preparação de sua defesa centrada na questão orçamentária. Se o presidente Temer vai fazer agora a reforma da área econômica, levando a Secretaria de Orçamento para a Fazenda, ou não, ou deixar o Ministério do Planejamento íntegro para ter mais um cargo de ministro onde abrigar sua extensa e diversificada base de apoio no Congresso, ainda não é definição que o Palácio do Planalto admita. Mas com esvaziamento ou não, o presidente não parece mais permeável ao jogo de pressões que favorecem o ministro interino do Planejamento. Segundo interpretação de próximos a Temer, o presidente estaria convicto, até pelos despachos e intervenções em reuniões com Dyogo e Meirelles, que o considerado técnico tem posições e ideias que conflitam com os planos do novo governo, e não tem experiência de negociação com o Congresso, o principal parceiro de Temer na jornada presidencial. Exatamente por ser funcionário público, mas há muito tempo com fidelidade a um partido, Dyogo Oliveira encontrava dificuldades de superar algumas orientações, políticas e teses próprias ao projeto anterior. Como, por exemplo, o reajuste dos servidores públicos. Ou, também muito citada no governo, a divergência em torno da meta. Enquanto se fixava a meta em R$ 170 bilhões para este ano e R$ 130 bilhões para o ano que vem, Dyogo chegou a dizer que seria de R$ 194 bilhões, segundo informaram políticos que estiveram com ele a auxiliares do presidente. Suas discordâncias com o ministro Meirelles, e até com o presidente Michel Temer, são muito citadas internamente. Contase que, quando estão reunidos, e Meirelles é contestado pelas intervenções de José Serra, que usa a Camex como forma de entrar com autoridade na economia, Meirelles apenas dá uma risadinha e deixa prá lá; quando é Dyogo Oliveira, não tem paciência, cresce para cima dele. O presidente ouve. Porém, respeita Meirelles e ele é quem está e ficará no comando. O Planejamento, do tamanho atual ou menor com a transferência do Orçamento para o Ministério da Fazenda, ainda não tem dono. É outro segredo mantido para o pósimpeachment. Jucá é talvez o maior problema que o presidente Michel Temer terá que administrar. Mas como são realmente aliados, e Jucá participa de todas as reuniões políticas e econômicas do governo Temer, participa, decide e faz parte do triunvirato mais próximo, com Padilha e Geddel Vieira Lima, contase com sua concordância com as mudanças necessárias. Se não puder voltar ao Executivo ele poderá ser o nome do governo para a presidência do Senado, ou o presidente efetivo do PMDB, com a renúncia de Temer. Jucá carrega um troféu caro ao governo Temer: é o político que mais recebe empresários e investidores, para quem dá frequentes palestras e perscruta o futuro.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartasfeiras