Mercado reitera a BC receio com quadro fiscal

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O ceticismo com a evolução do ajuste fiscal deu o tom da primeira reunião trimestral do Banco Central de Ilan Goldfajn com economistas do mercado financeiro. Segundo relatos de participante, esse sentimento mais cauteloso com a correção das contas públicas foi interpretado como um dos motivos para o próprio BC não ter endossado expectativa de queda antecipada da Selic, especulação que ganhou força na semana passada. O receio de que o ajuste fiscal não avance como esperado tem travado o mercado de juros recentemente. Depois de uma trégua na sexta­feira, as taxas voltaram a subir com força ontem, sustentadas pela repercussão negativa ao noticiário do fim de semana. O DI de janeiro de 2021 ­ termômetro da percepção de risco de prazo mais longo ­ subiu 10 pontos­base, para 11,95% ao ano. “Há um sentimento mais cético em relação ao fiscal, um receio de que haja flexibilização em alguns pontos defendidos pela equipe econômica”, diz um interlocutor que participou do encontro no Rio de Janeiro ontem. Segundo esse profissional, essa deterioração das convicções parece ter ocorrido nos últimos dias, a despeito do esforço do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para tentar convencer o mercado de que os limites para os gastos envolverão também Estados e municípios e de que a proposta para a reforma previdenciária será encaminhada ainda este ano. “Talvez há duas semanas o tom teria sido outro”, afirmou essa fonte. No encontro, os diretores de Política Econômica, Carlos Viana, e de Assuntos Internacionais, Tiago Berriel, afirmaram que o momento da economia e da inflação é positivo, mas que ainda é preciso analisá­lo com uma certa cautela. O nível de incerteza segue elevado, e isso sugere que o Banco Central deve operar ainda com cuidado. A mensagem passada aos economistas, portanto, foi a de que não será apenas um número ou uma projeção que determinará o momento em que o ciclo de corte de juros será iniciado. “Eles reiteraram que o objetivo de política é 4,5% em 2017, o que é factível, mas que não é possível olhar apenas para as projeções da Focus”, relatou um dos participantes do encontro. Na semana passada, declaração do presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, de que as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) são “subjetivas’ levou o mercado a aumentar as fichas na possibilidade de corte de juros na reunião do colegiado do BC prevista para outubro. Ontem, a probabilidade de corte de 0,25 ponto percentual da Selic em outubro caiu a 66%, de 86% no fim da semana passada. “Acho que quem vê corte em outubro saiu com essa visão reforçada. Mas também quem espera corte para depois não teve informação suficiente para antecipar sua projeção”, diz outro participante do encontro. “O mercado tentou interpretar muito ao pé da letra essa informação. E não acredito que esse seja o correto”, acrescenta. De forma geral, os economistas presentes disseram esperar importante desinflação entre 2016 e 2017, mas não chegaram a citar números. Um participante avaliou, com base nas declarações dos economistas, que as projeções de variação do PIB em 2016 “estavam mais para ­3% do que ­4%”. Outro presente, contudo, viu dispersão maior entre as estimativas. Para ele, enquanto alguns economistas esperam crescimento de 2% em 2017, outros acreditam que o avanço pode ficar abaixo de 1%. Também não há consenso sobre 2018. Parte dos analistas espera que o crescimento acelere, mas há quem veja um avanço restrito a 2017, que perderá fôlego no ano seguinte. O receio com a política fiscal sustentou o dólar no começo do dia, mas a moeda sucumbiu ao apetite por risco exibido no exterior. A cotação terminou em ligeira queda de 0,09%, a R$ 3,1667, mínima em quase 13 meses. Profissionais ainda veem entradas de recursos até o fim do ano, com algumas projeções de ingressos em carteira variando de US$ 13 bilhões a quase US$ 42 bilhões entre julho e dezembro.