Relator diz que vai tirar CPMF do Orçamento de 2016
Apesar de o governo federal ter colocado a recriação da CPMF, o imposto pode ficar fora do Orçamento do ano que vem, segundo afirmou ao Valor o deputado federal Ricardo Barros (PPPR), relator do Orçamento. “A CPMF não será computada como receita para 2016. Não vamos considerar porque é muito improvável [ser aprovada pelos parlamentares]. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy já está avisado”, afirmou. Com isso, um superávit primário correspondente a 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) no ano que vem, algo amplamente defendido por Levy, não está mais garantido. “Eu não tenho compromisso com o 0,7%. O meu compromisso é com um orçamento equilibrado, superavitário. O 0,7% não é meu problema, é do governo”, afirmou Barros. O deputado disse que a CPMF irá seguir o rito de tramitação no Congresso e o primeiro passo é passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, onde ainda não há um relator escolhido para o tema. Mesmo com o prosseguimento do projeto, a contribuição só poderia ser aprovada pelo Senado em junho, calcula Barros, e entraria em vigor apenas nos últimos meses do ano que vem. “Vamos tramitar a CPMF. Se ela for aprovada em algum momento em 2016, o governo pode usar essa receita. Mas, para o Orçamento de 2016, está decidido. Não vai ter”, disse. A intenção de recriar a CPMF foi anunciada oficialmente pelos ministros Levy e Nelson Barbosa há cerca de um mês, como parte de um pacote de medidas adicionais criadas para transformar o Orçamento deficitário de 2016 em superavitário. Muitas delas, no entanto, dependem do aval do Congresso. A proposta do governo é de uma CPMF que dure quatro anos, com alíquota de 0,2% o que geraria R$ 32 bilhões em arrecadação no ano que vem, nos cálculos do governo divulgados em setembro. Apesar de Levy se dedicar a defender repetidamente a CPMF em seus discursos, o imposto enfrenta enorme resistência no Congresso. “Você é um homem correto e decente, mas esqueça a CPMF. Qualquer um dessa casa sabe que ela não será aprovada”, afirmou esta semana a Levy o líder do Solidariedade na Câmara, deputado Arthur Maia (BA), em sessão pública na Câmara. “Assistir o anúncio da criação da CPMF não entra na minha cabeça”, disse o líder do Pros, deputado Domingos Neto (CE). O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDBRJ), também tem dito que a contribuição não será aprovada. Como alternativa, Barros afirma ter sugerido ao governo o aumento da Contribuição Sobre o Domínio Econômico (Cide) sobre os combustíveis. Essa medida não precisaria de aprovação dos parlamentares. “A Cide, que é uma solução que estamos propondo de imediato e é de autonomia do governo, demonstraria que se está agindo para tapar o buraco, teria boa repercussão no mercado e daria fôlego ao setor sucroalcooleiro”, disse. Segundo Barros, o governo ainda tem certas possibilidades de arrecadação extraordinária como a venda de terrenos da Marinha, já em tramitação no Congresso, e de fatias de estatais. Para o deputado, no entanto, essas não são as melhores saídas porque os recursos são finitos. “Não é uma solução aceitável de longo prazo”, afirmou. Barros tem afirmado que tem intenção de cortar recursos no ano que vem do Bolsa Família, carrochefe das políticas sociais do PT que, diz, consome R$ 28 bilhões ao ano do Tesouro. Mas ele afirma que não há um valor para a redução por enquanto. Também defende, já para 2016, mudanças na normatização de programas previdenciários, com estabelecimento de uma idade mínima para aposentadoria e maior restrição no auxílio doença. “Temos feito reuniões com o governo e tenho insistido que a saída é fazer ajustes previdenciários. Temos que trabalhar onde está o problema. É uma tese que estou propondo e tenho apoio de todos os líderes da base. Mas o governo ainda não se movimentou, não se convenceu disso”, disse.