Batalha lenta e constante

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Apesar de conquistarem mais espaço na carreira pública, as mulheres têm dificuldade de chegar a cargos de gestão

 

SIMONE KAFRUNI

Uma data de luta, o Dia Internacional da Mulher celebra a cada ano diversas conquistas, mas ainda há muito a ser feito para que o Brasil experimente a verdadeira igualdade de gênero. As mulheres avançaram no mercado de trabalho, e hoje ocupam cargos antes jamais imaginados, como a Presidência da República. Além disso, estão à frente de vários ministérios e secretarias do governo federal. Elas já são maioria nas salas de aulas de cursos preparatórios para concursos, mas isso não significa que tenham conquistado mais espaço no serviço público ou salários iguais aos dos homens.

No ano passado, a participação da mulher na administração direta permanecia exatamente a mesma de 2003 – 45% do total -, segundo dados do Boletim Estatístico Pessoal do Ministério do Planejamento. Os números mostram que, em alguns órgãos do Executivo, a proporção aumentou e, em outros, diminuiu (veja quadro). Houve um avanço na quantidade delas em cargos de chefia, conforme levantamento da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP). O diretor de Comunicação e Pesquisa da entidade, Pedro Luiz Costa Cavalcante, conta que, exceto no cargo de direção e assessoramento superior 1 (DAS-1), que é o mais baixo e com menor salário entre os de gestão, as mulheres conseguiram se tornar mais presentes nos postos de liderança. Apesar disso, elas ainda são minoria.

“Quinze anos atrás, o país quase não tinha mulheres à frente de secretarias e ministérios. Hoje, a presidente é uma mulher. Ainda que quanto mais altos o cargo, a responsabilidade e o salário, menor é o número de mulheres, o percentual vem crescendo ano a ano. E a tendência é continuar aumentando, mesmo que em ritmo não muito acelerado”, explicou Cavalcante. Ele ressaltou ainda que a participação delas no serviço público está quase igual à da iniciativa privada, hoje em 47%. “As mulheres estão mais presentes em concursos públicos e nas aprovações também, sobretudo para cargos de alta escolaridade”, disse.

Funcionária pública desde 1977, a secretária nacional de Habitação, Inês Magalhães, 51 anos, tem hoje, nas suas três diretorias, mulheres no comando. “Não foi deliberado. Elas foram pessoas importantes que construíram as carreiras e se tornaram diretoras pelo talento”, contou Inês, que é socióloga de formação. Para ela, as mulheres são melhores na condução de processos coletivos e na tarefa de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, atributos importantes na pasta da Habitação. “O grau de dedicação das mulheres em geral tem de ser maior para conquistar espaço”, revelou.

Cenário melhor

A coordenadora-geral de Recursos Humanos do Ministério da Justiça, Aleksandra Pereira dos Santos, 36, faz parte do contingente de cerca de mil especialistas em políticas públicas e gestão governamental (EPPGG). Ela é vice-presidente da Associação Nacional dos Especialistas (ANESP), entidade na qual quatro dos 10 diretores são mulheres.

“Entre os gestores, 65% ainda são homens. Nessa parte gerencial, a presença masculina sempre foi muito maior. Mas é um quadro que está começando a mudar. O fato de o país ter uma presidente ajudou muito a melhorar o cenário no serviço público”, avaliou. Aleksandra entrou para o funcionalismo aos 25 anos e sentiu mais discriminação por ser jovem do que por ser mulher.

“Como o EPPGG já é direcionado para gestão, não tive muita dificuldade em chegar à chefia”, explicou. “Mas, quando mais elevado o nível cargo, maior a proporção de homens e menor a de mulheres”, lamentou ela. Nos cargos de DAS 1 a DAS 3, a participação é quase igual. Acima disso, o contingente feminino diminuiu. “Apesar de as mulheres terem qualificação igual ou até melhor que os homens, ainda há um longo percurso a ser percorrido para reverter a herança machista que persiste em nossa sociedade”, argumentou Aleksandra.

Fonte: Correio Braziliense