Mercado financeiro, eficiência produtiva e investimento

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Autor(es): Paulo Oliveira e André Sacconato

O Brasil experimentou em 2012 uma taxa de crescimento que decepcionou tanto o setor público quanto o privado. Quais seriam as causas de tal crescimento limitado? Uma leve análise dos dados mostra que o componente mais frágil desse cenário é a taxa de investimentos.

E como podemos fomentar o investimento no país? O canal direto de investimento público está esgotado. Em que pese análises de que poderia haver, dentro do orçamento, remanejamento de gastos para investimento, é um processo lento e muito difícil de levar a cabo politicamente. Não é possível que esperemos o fim desse processo, sob a ameaça de deixarmos passar uma oportunidade única de crescimento.

Outra fonte de investimento que está no limite é o BNDES. O próprio banco já reconheceu que não é possível carregar todo investimento que o Brasil necessita, pois as fontes primárias de recursos estão esgotadas. Acrescente-se a esse cenário a crescente ameaça de sobreconsumo e inflação. Enfim, não é possível mais que se financie essa expansão via recursos do Tesouro. Nesse contexto, tampouco podemos contar apenas com os bancos e organismos multilaterais que, embora importantes, não dispõem de recursos totais necessários.

A vinda de capital externo para o país depende da confiança e da existência de um local estruturado

Conclui-se, portanto, que essas três fontes não podem ser consideradas como solução quando pensamos em um incremento necessário do investimento – incremento a mais do que já foi investido em 2012 – de aproximadamente US$ 150 bilhões. Isso, para podermos crescer a taxas próximas de 5% ao ano. Essa cifra, em princípio, assusta. O primeiro pensamento que nos vem à cabeça é como é possível, ou se é possível, arrecadar tal quantia. A resposta é que sim, e mais, não é difícil.

Para entender essa afirmação, é só considerarmos o cenário econômico atual. É possível que nunca tenhamos tido na história econômica tantas flexibilizações monetárias, com políticas expansionistas e aumento sem precedentes da oferta monetária, principalmente nos países ricos. Paralelo a isso, as taxas de retorno financeiras reais dos principais países, como Japão e Estados Unidos, estão negativas. Em resumo, existe muito dinheiro no mundo e não existe destino para ele. Conjuntura perfeita para atrair esses recursos.

Para isso, devemos ter atenção em duas frentes: a confiança no país e um local estruturado para receber esses recursos. Cada tema merece uma reflexão.

O primeiro remete ao cuidado que se deve ter para não espantar o investidor, principalmente o de longo prazo. Nesses tempos de excesso de políticas monetárias expansionistas é normal que os países se protejam contra a exagerada entrada de recursos, fundamentalmente de curto prazo. Por quê? Pelo risco de verem sua competitividade ruir pelo câmbio – mesmo que devamos lembrar que câmbios valorizados facilitam a compra de bens de capital importados. Essa estratégia tem que ser estruturada e não pode responder a simples impulsos de curto prazo.

Os investidores de longo prazo são muito sensíveis às condições de confiabilidade da economia, afinal é um investidor que entra, por exemplo, em uma concessão de 30 anos. Ele começa a ter seu investimento de volta em 15 anos, 20 anos, e entre esses dois períodos podemos ter cinco ou seis diferentes presidentes. O que decerto interessa aqui é a certeza de que o Brasil, institucionalmente, respeita as regras de mercado.

O segundo ponto remete a um mercado financeiro forte, estruturado e líquido. Apesar de o Brasil ser o centro financeiro da América Latina, o País ainda não é um polo de investimentos e negócios. Para se ter um exemplo um chileno que queira comprar uma ação da Petrobras vai a Nova York comprar o que chamamos de um “sintético”. Ou seja, um ativo baseado nos rendimentos da ação em discussão. Isso faz com que perdamos liquidez, serviços, renda e principalmente empregos.

Em um estudo recente, lançado pela BRAiN – Brasil Investimentos e Negócios, foram definidos sete pilares que podem transformar o País em um centro financeiro e ajudar a estruturar o mercado financeiro, são eles: ambiente macroeconômico, ambiente institucional, talentos e capital humano, infraestrutura física, infraestrutura financeira, conectividade e imagem. É importante que sigamos o diagnóstico e o que pode ser feito para desenvolver cada um dos pilares, principalmente no que temos mais deficiência, como talentos e capital humano, infraestrutura física, conectividade e imagem.

Algumas dessas deficiências já vêm sendo atacadas ou estão na pauta do poder público. No curto prazo, tentamos atrair capital humano estrangeiro em setores onde não temos oferta suficiente no Brasil. Em termos de infraestrutura física, já é realidade o plano de concessões à iniciativa privada de grandes projetos de infraestrutura, em conectividade estamos em um processo de implementação da rede 4G e em imagem estão sendo feitos trabalhos e estudos sobre os maiores rankings de competitividade e atratividade mundiais para saber o que necessitamos ajustar ou desenvolver internamente.

É necessário que se tenha um plano de longo prazo que estruture todos esses avanços e trace metas a serem atingidas nos próximos anos. Isso em conjunto com o setor industrial, de comércio, serviços e agrícola, com o objetivo simples de fazer chegar a estes os financiamentos necessários para a produção. O mercado financeiro não é um fim em si, mas um passo intermediário e necessário para a construção de um país competitivo.

De qualquer forma, o cenário de necessidade de investimentos pede que essas medidas sejam aceleradas. Isso é imprescindível para que possamos usufruir de um mercado financeiro forte e capaz de suportar os recursos que venham a financiar a construção de um sistema produtivo eficiente e competitivo no país. Um novo Brasil passa por novo nível de investimentos e novo nível de investimentos passa por um sistema financeiro, forte, saudável e estruturado.

Paulo Oliveira e André Sacconato são diretor presidente e diretor de pesquisa, respectivamente da BRAiN, Brasil Investimentos & Negócios.