Visão do Correio :: De olho na inflação

228

Correio Braziliense – 03/04/2013

 

 

Nada incomoda mais na economia do que a incerteza. A história recente ensinou aos brasileiros responsáveis que, de todos os impostos, o mais perverso para o pobre e para quem se dispõe a correr riscos em projetos de longo prazo tem nome: inflação. Por isso mesmo, a prudência recomenda que se tenha alguma visibilidade à frente. A neblina, nesse caso, provoca o retraimento dos honestos e atiça a esperteza dos oportunistas, sempre prontos a tirar alguma vantagem sobre o vizinho.

Discussões acadêmicas à parte, é certo que vivemos um desses momentos de incerteza quanto à inflação. Ela ameaça romper, nos próximos 30 ou 40 dias, o teto de 6,5% no acumulado de 12 meses. E basta essa perspectiva para causar uma perigosa corrida de aumentos de preços, principalmente nos segmentos em que não há a concorrência dos importados, como é o caso dos serviços, ou quando se trata de produto sujeito à sazonalidade — que, no Brasil, costuma significar autorização para exageros (o tomate puxa a fila deste começo de ano).

Como em toda fase de incertezas, não faltam previsões de fim do mundo. Mas especialistas mais experientes enxergam sinais de que esse aumento de preços não terá como se sustentar por muito tempo. Apostam que, depois de bater no teto, ou mesmo de ultrapassá-lo, a inflação deverá ceder e, na pior das hipóteses, ficaria entre o sonhado centro da meta, de 4,5%, e algo como 5,7%. Menos mal, mas nada garantido.

Em meio a essas incertezas, somente o governo poderia piorar as coisas. Mas é preciso reconhecer que não há um desastre anunciado. Pelo contrário. Ontem, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, aproveitou uma audiência de rotina no Senado Federal e cumpriu com rigor seu papel de autoridade monetária. “A inflação está sob controle, mas encerra riscos à frente”, disse ele. Piorar as coisas seria não reconhecer aquilo que até o consumidor mais distraído está percebendo.

Quer dizer que o BC vai apertar a política monetária, aumentando os juros? Nem tanto. “Estamos acompanhando isso com cuidado para trabalhar a necessidade de outras medidas no combate à inflação em um período pela frente”, assegurou Tombini. Ele foi enfático apenas ao negar que trabalha sob pressão, o que o impediria, por exemplo, de aumentar os juros para conter a corrida dos preços, ou mesmo de divulgar sua leitura do que vem ocorrendo: “O BC não doura a pílula, apresenta suas melhores projeções em relação à inflação.”

Tombini sabe que, como estão, os preços começam não apenas a roubar parte dos salários como a desaconselhar aquilo de que o país mais precisa: investimentos em infraestrutura, que demandam longo prazo de maturação e muita confiança na disposição e na capacidade do governo de manter o compromisso com a estabilidade monetária. Não foi por outro motivo, aliás, que a presidente Dilma Rousseff fez questão de esclarecer que o combate à inflação é importante em si e que, em seu governo, não será abandonado. Ela se empenhou em desafazer a impressão de que tinha anunciado, durante visita à África do Sul, que a promoção do crescimento se imporia a tudo. Assim, enquanto o governo se diz atento à inflação, o consumidor e o mercado estão de olho no compromisso do governo de combatê-la.