Tombini diz que inflação será contida

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BC fará o que for preciso para conter a inflação, diz Tombini em Davos

Autor(es): Por Sergio Leo | De Davos, Suíça

Valor Econômico – 24/01/2013

 

 

Em jantar promovido pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, rejeitou as acusações de que o governo abandonou os instrumentos tradicionais de controle da economia. Ele garantiu que o BC trará a inflação para a meta de 4,5%. “Vamos controlar a inflação”, prometeu. E lembrou que dos 14 anos do sistema de metas, em 9 a inflação foi inferior aos 5,8% do ano passado.

Tombini justificou as medidas tomadas pelo governo para beneficiar empresas ameaçadas pela concorrência internacional. Numa das reuniões do evento, o sócio do BTG Pactual, Persio Arida, disse o contrário. “Não sigam o exemplo brasileiro”, recomendou ao ministro de Finanças da Colômbia, Maurício Cárdenas, que se queixou da pressão de empresários para adotar medidas semelhantes às brasileiras.

 

 

Para garantir uma saída sustentável da crise, as economias desenvolvidas serão obrigadas a tornar mais dura a competição por mercados, e o Brasil precisa se preparar para a disputa, disse o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, em jantar promovido pelo Fórum Econômico Mundial, em Davos, para participantes brasileiros do evento. Tombini rejeitou, mais uma vez as acusações de que o governo abandonou os instrumentos tradicionais de controle da economia, e afirmou que o Banco Central está comprometido em fazer a inflação convergir para a meta de 4,5% até o fim de 2013.

“O Banco Central está vigilante e vai fazer o que tiver de fazer para controlar a política monetária no Brasil. Vamos controlar a inflação, como foi o caso nos últimos nove anos”, prometeu. “Podemos fazer melhor, queremos fazer e vamos fazer”, garantiu, ao lamentar as pressões dos preços dos alimentos no quarto trimestre de 2012.

Tombini defendeu as medidas tomadas nos últimos meses pelo governo de Dilma Rousseff para beneficiar empresas ameaçadas pela concorrência internacional. Ele mencionou explicitamente a redução de tributos para setores selecionados, a mudança favorável à participação do capital privado nos investimentos em infra-estrutura e a redução na taxa de juros, que, acredita, estimularão o aumento da produtividade total dos fatores de produção, com impacto positivo sobre o investimento.

“O peso dos tributos no Brasil é alto e o governo tem algum espaço fiscal para cuidar disso”, disse.

Ele defendeu a gestão Dilma das acusações, no mercado, de que o país abandonou o chamado tripé macroeconômico, formado pelo câmbio flutuante, a meta de inflação e a responsabilidade fiscal. Dos 14 anos de existência do sistema de metas, em nove a inflação foi inferior aos 5,8% do ano passado, e o dólar teve grande variação no ano passado, estabilizando-se neste ano para lidar com o enorme fluxo de capital proveniente dos países com economia em recessão, argumentou.

“Temos uma política de acumulação de reservas no Brasil. Não abandonamos essa política”, afirmou. As fortes mudanças no cenário mundial, com o crescimento excessivo da liquidez obrigaram o BC a agir para evitar instabilidades no mercado financeiro, argumentou. Para Tombini, o mercado internacional estava excessivamente otimista com o Brasil no passado recente e pode estar, agora, exagerando no sentido oposto.

A crítica à guerra cambial nos mercados globais, termo popularizado pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi uma expressão muito “afortunada”, mas não é mais uma grande preocupação para o Brasil, afirma o presidente do Banco Central. O governo agiu para minimizar o impacto da desvalorização de moedas internacionais, que afetou a competitividade brasileira. “Lutamos contra essa guerra cambial e sabemos lidar com isso”, disse, referindo-se a medidas como o controle de entrada de capital especulativo e a atuação no mercado que desvalorizou o real em relação ao euro e dólar.

“A guerra fiscal continua a ser uma questão, mas não é tanto um problema para o Brasil [quanto para outros países]”, comparou. A intervenção responsável do governo não afetou a atratividade do país para o capital internacional, que continua sendo desejado para garantir o crescimento, argumentou. Hoje, cerca de 70% do fluxo de capital ao Brasil é investimento direto, o maior volume da América Latina, US$ 65 bilhões em 2012, o quarto maior do mundo e US$ 41 bilhões acima do que foi investido no segundo maior receptor de investimentos no continente latino-americano, comentou.

Tombini previu que deve aumentar a pressão sobre os países desenvolvidos por medidas de afrouxamento monetário, que levam à desvalorização das moedas fortes. Sem espaço fiscal e com juros chegando a zero, não há alternativa para esses países, previu.

O Brasil vem se preparando para esse momento, está com o setor financeiro mais sólido e, ao contrário do que apontam alguns críticos, não caiu na “armadilha do baixo crescimento” dos emergentes. O país, ao contrário do que prevê a teoria nesses casos, está com pleno emprego, não tem moeda subvalorizada e nem tem uma situação demográfica desfavorável, com menos pessoas entrando no mercado de trabalho do que na aposentadoria, listou Tombini.