O novo Copom opta pelo desenvolvimentismo

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O Estado de S. Paulo – 18/01/2013

 

 

Se ainda existissem dúvidas a res­peito de uma mu­dança de 180° nas opções do Comitê de Política Mone­tária (Copom), desaparecem com a leitura do comuni­cado da reunião que, anteontem, manteve a taxa Selic em 7,25%.

O texto merece ser reproduzido em parte: “Considerando o balanço de riscos para a inflação que apresen­ta piora no curto prazo, a recupera­ção da atividade doméstica menos intensa do que o esperado e a complexidade que ainda envolve o am­biente internacional, o Comitê entende que a estabilidade das condi­ções monetárias por um período de tempo suficientemente prolongado é a estratégia mais adequada para ga­rantir a convergência da inflação pa­ra a meta”. No passado, diante de uma piora do risco de inflação, o Co­pom anterior não recearia em elevar a taxa de juros básica. Hoje, em no­me do desenvolvimento, opta por manter essa taxa para permitir um clima favorável à retomada do crescimento econômico.

Não faltarão economistas para ir buscar o exemplo dos EUA, ou da União Européia, para justificar essa mudança da política monetária. Ocorre que, nessas duas regiões, é preciso aumentar a demanda doméstica para dar impulso à indústria, que está com capacidade de produção não utilizada. No Brasil, a situação é muito diferente: a demanda domésti­ca é “robusta”, como gosta de assina­lar o Banco Central, enquanto nossa indústria, sem a competitividade ne­cessária, prefere importar os compo­nentes dos produtos que oferece. Es­se descasamento entre a demanda e a oferta foi sempre considerado, até agora, um foco de inflação, que exige conter o crescimento da demanda do­méstica para, num primeiro tempo, modernizar a indústria e elevar sua competitividade, que lhe permitirá conquistar fatias do consumo domés­tico em outros países.

O Copom atual comunga com uma visão totalmente diversa, menosprezando o fato de que a inflação sempre traz embutido um mecanismo que a autoalimenta e que é necessário con­tê-la o mais cedo possível, para evitar que sua disseminação comece a con­tagiar todos os preços da economia.

Na economia brasileira atual, só um fator pode realmente contribuir para reduzir os preços: os investimentos na infraestrutura. Eles adi­cionam valor à produção nacional, na medida em que o País disponha de um sistema de estradas rodoviárias capaz de reduzir o custo do transpor­te – custo que se torna ainda menor quando é possível utilizar ferrovias e vias fluviais que cheguem a portos marítimos bem equipados.