Câmara corta horas extras

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Autor(es): ADRIANA CAITANO

Correio Braziliense – 18/03/2013

 

Em esforço para melhorar imagem, o presidente da casa, Henrique Eduardo Alves, quer evitar pagamentos indevidos. Servidores serão recompensados com folgas. Controle não vale para assessores que trabalham nos estados

A mesa diretora da Câmara dos Deputados prepara para esta semana uma resolução que vai alterar o controle de presença dos funcionários e permitir economia para os cofres públicos. Para reduzir até a metade o gasto com horas extras noturnas — que custaram R$ 44,4 milhões em 2012, como apontou o Correio em fevereiro —, todos os servidores, efetivos ou não, serão obrigados a utilizar o ponto eletrônico e terão um banco de horas. 

A ideia é garantir que apenas quem trabalha mais de 40 horas semanais receba a remuneração extra nos dias em que a sessão se prolongar. A medida vai evitar que servidores burlem o sistema e recebam por horas extras não trabalhadas. A iniciativa, porém, não atinge os secretários parlamentares que têm base nos estados, situação em que há o maior número de funcionários fantasmas. 

A ordem de apertar o cerco contra gastos indevidos partiu do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), que tenta melhorar a própria imagem e a da Casa. Assim que tomou posse, no mês passado, ele encomendou um estudo técnico para a diretoria-geral viabilizar a economia. A primeira sugestão foi mexer com o defasado controle de presença dos funcionários. 

Hoje, o horário de entrada e saída dos quase 9 mil trabalhadores que atuam em Brasília é registrado em uma folha de ponto manual. Não é raro ver funcionários assinando a ficha antecipadamente para ir embora mais cedo ou até faltar no dia seguinte. O ponto eletrônico só é utilizado para aferir horas extras noturnas quando a sessão de votação do plenário passa das 19h.

“Insulto”

O primeiro secretário da Câmara, Márcio Bittar (PSDB-AC), comenta que a frouxidão acaba prejudicando quem cumpre a carga horária — e facilita a vida dos que aproveitam para trabalhar menos e ganhar o mesmo benefício. “Hoje é possível alguém receber a hora extra mesmo se não fizer as 40 horas semanais, o que é um insulto para quem carrega o piano sozinho e faz tudo certo”, destaca. 

Com a mudança, que deve ser formalizada na reunião da mesa diretora na quarta-feira, todos os horários de entrada, almoço e saída serão marcados na máquina eletrônica com a digital do funcionário. Ao fim de cada semana, o período trabalhado a mais será incluído em um banco de horas, a ser compensado com folgas. A regra não vale, porém, para as horas extras noturnas. Estas continuarão sendo pagas, sem entrarem no banco de horas. 

Nos dias em que houver sessão noturna, só receberá acréscimo no salário quem tiver cumprido a carga horária mínima semanal — e no limite de duas horas extras por sessão, como já é hoje. A regra não vai valer para os 6,5 mil secretários parlamentares que atuam nos estados de origem dos políticos. “O caso deles é na base da confiança, ainda não sabemos como garantir o cumprimento das 40 horas deles, porque não tem como ter ponto eletrônico em todos os escritórios”, justifica Márcio Bittar.

A mudança estará em consonância com exigências feitas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) após auditoria na folha de pagamentos do Congresso. A expectativa da Câmara é reduzir pela metade os gastos com pagamento de horas extras. Em fevereiro, o Correio revelou que, no ano passado, a Câmara desembolsou R$ 44,4 milhões para pagar horas extras, enquanto o gasto do Senado, onde o ponto eletrônico já funciona, caiu de R$ 42,4 milhões, em 2010, para R$ 8 milhões em 2012. “Essa é uma medida que vai ajudar a Casa a recuperar a autoestima”, diz Bittar. 

Já o presidente do Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União (Sindilegis), Nilton Paixão, é cauteloso. “Em princípio, vemos com bons olhos medidas que seguem princípios da legalidade e da moralidade e que impliquem em economia do gasto público e no aperfeiçoamento do Congresso”, afirma. “Mas somos contra qualquer tentativa de arrumar a imagem dos políticos à custa de denegrir ou vilanizar o trabalho de servidores sérios”.

» Controle

Como é

»  Todos assinam ponto manual e horários são observados pelos próprios chefes

» Quando há sessão noturna, os servidores efetivos registram até duas horas extras no ponto eletrônico e recebem o valor em dinheiro

» Não há fiscalização para quem trabalha menos de 40 horas semanais e ainda ganha extra noturno

Como fica 

» Os cerca de 9 mil servidores que trabalham em Brasília serão obrigados a registrar chegada, saída e almoço no ponto eletrônico com a digital

» Só vai receber hora extra noturna quem trabalhar além das 40 horas semanais – e no limite de duas horas a mais por sessão

» O tempo trabalhado a mais (com exceção das horas noturnas) ou a menos será contabilizado no banco de horas, a ser compensado com folgas

» Secretários parlamentares que atuam nos estados continuarão assinando 
folha de ponto manual

 

“Hoje é possível receber extra sem cumprir as 40 horas semanais. Essa medida vai ajudar a Casa a recuperar a autoestima”
Márcio Bittar, primeiro secretário da Câmara

 

R$ 44,4 milhões
Desembolso da Câmara dos Deputados em 2012 para o pagamento de horas extras