Pelo valor dos sindicatos. Um chamado à consciência.

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A crise social vivida pelo mundo de hoje tem diversos níveis, e não pretendemos aqui estudá-la como fariam os sociólogos e antropólogos, que são mestres na ciência social. Mas do ponto de vista de um sindicato, como a Assecor, com tudo o que este tipo de entidade coletiva representa, nos parece claro que a mesma crise de individualismo e egocentrismo que vem destruindo a juventude e as famílias ganha uma expressão no mundo do trabalho através da repulsa ao sindicalismo.

Da mesma forma como a regra geral do “cada um por si e Deus por todos” vem entregando a sociedade à ditadura dos algoritmos e a uma busca desenfreada por consumo e padrões inatingíveis de beleza e riqueza, também no mundo do trabalho as categorias profissionais se deixam levar por um clima de competição e busca por vantagens pessoais acima de tudo. Tudo justificado por uma leitura muito equivocada da ideia de meritocracia.

A verdade é que o ser humano não existe em isolamento, somos sociais desde os primórdios e continuaremos a ser assim. As evidentes relações de interdependência que temos uns para com os outros deveriam bastar para nos provar o óbvio, mas hoje elas são obscurecidas pela ideia de que vamos mediar todas as nossas relações por dinheiro, numa espécie de mercado infinito onde a sociedade só pode ser mantida por meio da geração de valor e troca de mercadorias.

Ao longo das últimas décadas, essa visão de mundo está praticamente saturada e vem corroendo os valores mais elementares da sociedade, tanto em nível nacional como ao redor do mundo. Já não é difícil perceber a desintegração das famílias, da vida comunitária dos bairros, dos espaços de socialização, assim como a deterioração da infância e da adolescência. No mundo do trabalho, essa tendência se releva no antissindicalismo.

Historicamente, sindicatos são associações de trabalhadores para sua defesa profissional e econômica. Porém, ao longo de mais de um século, eles foram se transformando. Passaram a ser espaços de convivência dos trabalhadores de uma mesma profissão ou categoria. Esta convivência revelou-se um espaço importante para uma construção coletiva de sua visão de mundo, para a criação de laços de amizade e apoio mútuo, e em certos casos até mesmo para participar da gestão de empresas e órgãos públicos afins à vida daqueles trabalhadores. Ou seja, os sindicatos provaram ser essenciais para o desenvolvimento da democracia e do progresso social como um todo.

A ideologia hoje predominante leva os trabalhadores a pensarem que sindicatos são um clube de vantagens, e que só vale a pena ser associado a eles se os benefícios desse ‘clube’ forem significativos. Não é errado que hoje eles façam convênios com prestadores de serviços e ofereçam vantagens para seus afiliados, como a própria Assecor faz, com muita dedicação e vontade de apoiar o servidor APO. Porém, como fica a nossa atuação conjunta? Nós hoje conhecemos o que o colega pensa a respeito do governo, do país, do mundo? Seríamos capazes de comunicar à sociedade e ao governo uma visão pertinente e positiva sobre o planejamento nacional, sobre as práticas orçamentárias?

É preciso retomar o sindicalismo de antigamente, porém filtrado de certos vícios que hoje já não cabem. Sindicato não é correia de transmissão de partidos políticos, é verdade. Também não pode ser degrau para carreiras políticas individuais. Também é verdade. Mas isso não pode significar que nós vamos perder o espaço privilegiado de construção de laços humanos, troca de ideias e construção de consensos e visões que ajudam a nos fortalecer diante do governo, dos empregadores privados, e da sociedade como um todo.