Crise deve baixar inflação só a partir de junho, dizem economistas

217

A queda da conta de luz e do dólar são os principais fatores que têm puxado para baixo a inflação. O agravamento da recessão econômica, no entanto, só deve produzir efeitos sobre os índices de preços a partir do segundo semestre, de acordo com economistas ouvidos pela Agência Brasil. Os especialistas mantêm a previsão de que, apesar do recuo, a inflação fechará 2016 acima do centro da meta pelo segundo ano seguido.

Ontem (8), o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou março em 0,43%, a menor taxa para o mês desde 2012. No acumulado em 12 meses, o índice está em 9,39%, abaixo de dois dígitos pela primeira vez desde outubro.

Segundo os especialistas, a queda da inflação já era esperada, depois de o índice atingir o pico de 10,71% nos 12 meses terminados em janeiro. “O principal fator é o fim do impacto dos aumentos de preços como combustíveis e energia. Isso porque os preços administrados respondem por um quarto dos índices oficiais de preço”, explica o economista André Braz, responsável pelo Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas (FGV).

De acordo com Braz, a queda do dólar também interfere na inflação, mas em grau menor. O agravamento da recessão, no entanto, ainda não surtiu efeito sobre os índices. “Os preços de bens duráveis ainda não começaram a cair. Os preços dos serviços livres pararam de acelerar, mas ainda estão subindo. Somente quando esses preços começaram a cair para conquistar consumidores, poderemos dizer que a recessão contribui para a queda da inflação”, diz.

Acima da meta

Para o economista da FGV, somente a partir de junho existem chances de que a retração da atividade econômica ajude a diminuir a inflação. Com a mudança da bandeira na conta de energia, Braz estima redução de 7,4% para 7,2% da expectativa de inflação pelo IPCA para este ano. A estimativa é um pouco mais otimista que a das instituições financeiras, que projetam inflação oficial de 7,28% em 2016, segundo o Boletim Focus, pesquisa semanal divulgada pelo Banco Central.

Professor de Finanças do Ibmec no Distrito Federal, Marcos Sarmento Melo diz que ainda é difícil cravar um percentual de quanto a inflação oficial fechará o ano. Ele, no entanto, aconselha os consumidores a não se iludirem em relação à queda dos preços. “Mesmo com a recessão e a queda do dólar agindo para conter a inflação, esse processo só começará a ser sentido nos próximos meses. O fato é que a inflação ainda está alta e com grandes chances de fechar acima do teto da meta [de 6,5%]”, alerta.

Para Melo, existe a possibilidade de que a queda do dólar, que caiu 10,2% em março e 0,15% em abril, seja apenas temporária. “Caso o Banco Central dos Estados Unidos aumente os juros e a China continue a desacelerar, o câmbio voltará a ser pressionado para cima. Os efeitos da crise política sobre o dólar já estão precificados [incorporados à expectativa], e o ambiente externo não é favorável”, adverte.

Consumidores sentem pouco

Apesar da queda da inflação, os consumidores ainda sentem pouca diferença no bolso. “Os preços de alguns alimentos caíram, mas continuam maiores que no ano passado. Percebi uma redução no valor da conta de luz, mas nada significativo”, diz o funcionário público George Wellington Gouvea, 57 anos. Mesmo com a redução recente nos preços da comida, o subgrupo alimentos e bebidas acumula alta de 13,27% em 12 meses conforme o IBGE.

Para quem viu o orçamento encolher nos últimos meses, a inflação continua a corroer o poder de compra. “Os preços só têm aumentado, e a conta de luz, para mim, permanece a mesma”, afirma o desempregado Fábio Rubens, 35 anos. A aposentada Creuza Medeiro Gomes, 68 anos, ainda não percebeu queda nos preços dos alimentos. “Ainda está difícil encher a dispensa. Tem gente passando fome. A minha conta de energia até agora não caiu”, conta.