Joaquim Levy tornou-se um ministro ornamental

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Joaquim Levy tomou posse, em janeiro, como o ministro que dominaria o governo com suas medidas de austeridade e responsabilidade fiscal. Passados nove meses e meio, o titular da Fazenda tornou-se um ministro ornamental. A situação de Levy vai ficando dramática, como admitiu um de seus auxiliares, em conversa com um executivo do sistema financeiro nesta quinta-feira.

O executivo tocara o telefone para o membro da equipe de Levy, seu amigo de duas décadas, para tomar-lhe o pulso depois que a agência de classificação de risco Fitch rebaixou a nota de crédito do Brasil. Ouviu um desabafo que dá ideia da insatisfação que vigora Fazenda. Avalia-se no ministério que o esforço para barrar o impeachment leva o governo a negligenciar a crise econômica, agravando-a.

Quando o Brasil perdeu o selo de bom pagador da agência Standard & Poor’s, a ficha do governo parecia ter caído, disse o auxiliar da Fazenda. Mas os projetos da agenda econômica não saem do lugar no Congresso. O personagem citou como exemplo o projeto de lei que cria regras para a regularização de dinheiro enviado por brasileiros ilegalmente para o exterior.

A proposta foi remetida à Câmara no início de setembro. Deveria tramitar em regime de urgência. Mas encontra-se parada numa comissão especial. Com essa iniciativa, o governo esperava arrecadar algo como R$ 11 bilhões ainda em 2015. Não vai rolar. Foi para o beleléu a perspectiva da Fazenda de entregar um superávit primário de 0,15% do PIB neste ano. Dá-se de barato que haverá déficit.

Nas palavras do auxiliar de Levy, a economia brasileira está em marcha a ré e o governo, politicamente enfraquecido, não consegue engatar a primeira marcha. Vigora na Fazenda, disse ele, uma sensação de ‘saco cheio’ que vai do ministro ao porteiro. De dominante, Levy passou à condição de ministro figurativo. Como se fosse pouco, virou alvo preferencial de Lula, do PT e de suas ramificações nos movimentos sindical e social.