Fórum discute as estratégias de desenvolvimento e o papel do Estado
Na manhã dessa quarta-feira (17) da 4ª Conferência Nacional das Carreiras Típicas de Estado, promovida pelo Fonacate, foi realizado o talk show “Estratégias de desenvolvimento e o papel do Estado”, mediado pelo jornalista Heraldo Pereira, da TV Globo.
Ricardo Berzoini, ministro de Estado das Comunicações, disse que o diálogo com as carreiras típicas de Estado é interessante para garantir a eficácia e eficiência das políticas da nação. No painel, ele analisou o período de transição pelo qual o vive o Brasil e as projeções para o novo momento da política econômica e social.
“Vivemos o fim de um ciclo, após as decisões dos governos Lula e Dilma Rousseff, que no ano de 2008 enfrentou a crise econômica mundial. Os países adotaram uma política de austeridade, e muitos deles erraram, tiveram um corte brutal de recursos orçamentários onde as reservas nacionais foram utilizadas para aplacar a crise de liquidez e de crédito. O Brasil tentou remar contra a correnteza, para não prejudicar a sociedade, mas as forças orçamentárias fiscais do Estado se exauriram e a crise agravou”, avaliou.
O ministro comentou sobre o agravamento de crise macroeconômica, da guerra fiscal e dos desafios a serem enfrentados no país numa economia mundial estagnada, com episódios de crises em países da América do Sul, recessão nos países europeus e os sinais de recuperação dos Estados Unidos. “O Brasil tem que buscar não perder as conquistas feitas nos últimos doze anos. Projetar para o futuro aquilo que é essência, manter o desenvolvimento adequado com as commodities, a mineração, a educação, investir e fortalecer os instrumentos públicos, e estimular o crescimento da área de ciência e tecnologia. Tem hoje o desafio de se inserir na economia globalizada, e o maior deles, desde o governo de Getúlio Vagas, que é a implementação de políticas corretas a estruturação de novos nichos de desenvolvimento. Migrar a parte industrial, hoje com baixa produção para uma economia produtora de patentes, capaz de disputar para um patamar mais estratégico e de se uma economia com capacidade de gerar inovação”, afirmou.
Exportar para crescer
Samuel Pinheiro, diplomata e professor do Instituto Rio Branco, criticou o atual modelo da economia brasileira e defendeu a necessidade de o país investir mais na promoção da exportação. “O caminho para o crescimento é na promoção das exportações. O Estado deveria traçar metas que reduzissem a distância entre os países desenvolvidos. Ele está navegando, mas sem destino, e assim, não chegará a lugar algum. É preciso ter consciência da presença do capital estrangeiro. Hoje em dia, a presença de empresas gigantes é muito grande, elas não estão aqui para criar benefícios, mas para obter lucros”.
Foco no crescimento incluso
Ricardo Bielschowsky, economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, traçou o panorama da estratégia social-desenvolvimentista (2003-2014) até o ano de 2015. Segundo ele, a nação brasileira passou por três fases de desenvolvimento. De 1930 a 1980 teve uma expansão acelerada marcada pela industrialização, de 1981 a 2001, foi um período de instabilidade macroeconômica e com o Plano Real pela conquista e priorização da estabilidade de preços, e de 2003 2004 teve um crescimento com inclusão social.
A série histórica, apresentada pelo especialista, apontou que o governo Lula começou o crescimento inclusivo, indicado pelo consumo de massa e proteção social, mas com a economia fragilizada é um modelo ameaçado. No balanço dessa gestão, Ricardo disse que o governo teve avanços extraordinários nos três mandatos, com problemas enormes por enfrentar. “Houve um aumento de 75% do salário mínimo, formalização do mercado de trabalho e seguro-desemprego. Na saúde, o SUS é motivo de orgulho, deveria ser fortalecido. Há estatísticas de quantidade de atendimentos, mas não há indicadores sobre a qualidade desse atendimento.”
Para concluir, Ricardo avaliou que houve um retrocesso no modelo de crescimento inclusivo. “Foi um patrimônio constituído com êxito e o cenário político contribuiu para o agravamento, como o escândalo da Operação Lava Jato, um acirramento das decisões dos banqueiros, a queda do spread, eleição muito competitiva, a perda de governabilidade do Congresso, por meio do PT, ameaças de impeachment, queda fiscal em cima da mesa de que quem tinha de tomar decisão. Um modelo redistributivo pode representar um retrocesso no modelo de consumo de massa. Vários elementos de proteção social, e enfim, o Brasil é muito grande e devemos torcer para que qualquer governo consiga preservar a estratégia de consumo inclusivo, deve ser um país para todos. A preservação para manter a estratégia inclusiva é enorme”.