Brasil se mantém firme no posto de campeão de juros reais elevados

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Menos de uma semana após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmar que o país mergulhou numa recessão técnica entre janeiro e junho, o Banco Central ignorou a debilidade do quadro econômico e, contrariando os anseios do próprio governo, resolveu ontem manter inalterada a taxa básica de juros. Em decisão unânime e amplamente esperada pelo mercado financeiro, os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) mantiveram a taxa Selic em 11% ao ano.

Com a decisão, o Brasil se mantém firme no posto de campeão internacional no ranking de juros reais elevados, à frente de países como China, Índia e Rússia. Enquanto na maior parte do mundo os juros básicos caíram para perto de zero, nos mercados emergentes vale a receita de sempre: elevar o custo do dinheiro para segurar a inflação e, de quebra, atrair investidores de curto prazo, acenando com as taxas nas alturas.

Não foi à toa, porém, que o BC decidiu manter a Selic. Apesar de ter se mostrado mais comportada nos últimos meses, a carestia continua elevada. Em 12 meses, até julho, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mostra avanço de 6,5%. Foi a segunda vez no ano que o indicador encostou no teto da meta fixada pelo governo, de 4,5%, com tolerância de dois pontos para cima ou para baixo. 

No radar da autoridade monetária, preocupa também o risco de fuga de capitais. Neste ano, o fluxo de entradas e saídas de dólares, que já havia fechado no vermelho em fevereiro, maio e junho, ficou negativo em US$ 3,056 bilhões em agosto — o maior rombo do ano, o que mostra que, mesmo com juros altos, o Brasil tem enfrentado dificuldade para atrair investidores estrangeiros.