A taxa de desemprego é 5,9% ou 7,4%?
Autor(es): Giuliano Guandalinio
No futuro provavelmente será possível medir com precisão absoluta, em tempo real, o desempenho econômico de um país. Esse dia não chegou. Apesar de a capacidade de processamento de informações ter crescido exponencialmente, existem limitações na capacidade de coletá-las. Para mensurar o PIB, os estatísticos fazem estimativas a partir de dados como o consumo de energia elétrica, o valor dos carros produzidos e o total de grãos colhidos. Os técnicos também não podem visitar a casa de absolutamente todas as pessoas para medir o desemprego e por isso fazem a pesquisa com base em uma amostra de domicílios. Essas aferições são constantemente aperfeiçoadas, com o objetivo de acrescentar informações e deixar a fotografia revelada pelas estatísticas mais semelhante à realidade. Foi o que ocorreu com a taxa de desemprego brasileira. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou uma metodologia mais precisa para avaliar o mercado de trabalho — e a real situação é pior do que os números anteriores indicavam.
Até recentemente, por restrições em seu orçamento, o IBGE pesquisava apenas a taxa de desemprego nas seis maiores regiões metropolitanas. A partir de agora, o Brasil se alinhará a países mais avançados e terá uma taxa de desemprego verdadeiramente nacional. Serão avaliados mais de 200000 domicílios, em 3500 cidades. Os primeiros números divulgados trouxeram a confirmação daquilo que alguns economistas já haviam antecipado: o total de desempregados é na verdade maior. Pela nova metodologia, a taxa de pessoas desocupadas em relação ao total da população economicamente ativa (ou força de trabalho, como agora a classifica o IBGE) ficou em 7,4% no segundo trimestre de 2013, o último dado disponível até o momento. A antiga metodologia havia apontado uma taxa menor, de 5,9%. Não é correto, estatisticamente, fazer uma comparação direta dos números, porque a área de abrangência das pesquisas é completamente diversa. Porém, a diferença de 1,5 ponto porcentual entre os resultados equivale a um contingente de aproximadamente 1,5 milhão de pessoas. Em outras palavras, se a taxa de desemprego captada pela nova metodologia fosse tão baixa quanto a indicada pela anterior, haveria 1,5 milhão de desocupados a menos no país.
O IBGE divulgará os números mais detalhados sobre municípios e regiões metropolitanas apenas no fim do ano. Mas, pelas informações já apresentadas, é possível estabelecer algumas conclusões sobre onde o problema do desemprego é mais grave. O Nordeste é a região na qual os trabalhadores mais enfrentam dificuldades para encontrar um emprego. Lá, a taxa de desemprego atinge dez a cada 100 pessoas no mercado de trabalho. No Norte, o índice também é elevado, 8,3%. No Sul, em contrapartida, apenas 4,3% dos trabalhadores estão desocupados. Uma análise mais simples poderia concluir que faltam oportunidades de trabalho nas regiões Norte e Nordeste. A realidade, porém, de acordo com os especialistas, é mais complexa e desafiadora. A dificuldade não está na falta de demanda por trabalhadores, mas na falta de trabalhadores com capacidade para exercer funções mais complexas. No Nordeste, 42% das pessoas ocupadas não concluíram o ensino fundamental. No Sudeste, esse porcentual fica em 27% — elevadíssimo na comparação com países desenvolvidos, onde o ensino básico foi universalizado há décadas, mas inferior ao das regiões mais pobres. Entre os desempregados nordestinos, um terço não concluiu o ensino fundamental, enquanto apenas 5% daqueles com ensino superior completo estão sem trabalho. Por esses números, fica evidente por que mais da metade dos beneficiados do Bolsa Família são do Nordeste.
Para o time dos economistas que fazem pouco-caso da inflação, os números mais altos do desemprego seriam um sinal de que o mercado de trabalho não está aquecido como se imaginava, e por isso o governo deveria continuar despejando estímulos na economia. Mais uma vez, a realidade é mais complexa e desafiadora. “Os números sugerem na verdade a existência de uma taxa de desemprego estrutural mais elevada no país”, diz o economista Cláudio Adilson Gonçalez, sócio-diretor da MCM Consultores. “Trata-se de uma mão de obra pouco qualificada, incapaz de preencher as vagas oferecidas.” Como resultado, o mercado de trabalho permanece aquecido, com os empregados obtendo ganhos reais de salário, mesmo em um ambiente de crescimento baixo. São números que apontam para um baixo crescimento na produtividade — e, portanto, um baixo potencial de crescimento sustentável para o país. ?