PT e PMDB como Caim e Abel
ADRIANA CAITANO
A renúncia do agora ex-deputado José Genoino (PT-SP), anunciada na terça-feira e publicada ontem no Diário Oficial da Câmara, ajudou a colocar lenha na fogueira que há muito queima na relação entre PT e PMDB no Congresso. Petistas dispararam contra o presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), culpando-o por ter forçado Genoino a deixar o cargo para escapar de processo de cassação e ficaram “magoados” com Alves. O presidente colocou panos quentes na briga, mas seus colegas partidários saíram em sua defesa, destacando que o governo do PT é que deve desculpas ao comando do parlamento.
A tensão atual aumentou na última segunda-feira, quando o líder do PT e irmão de Genoino, José Guimarães (CE), fez uma ameaça clara a quem votasse a favor da cassação do petista preso. “Aqui se faz aqui se paga.” Na terça, quando a carta de renúncia foi lida na hora em que o resultado desfavorável a Genoino seria anunciado na reunião da Mesa Diretora, foi a vez de o vice-presidente da Casa, André Vargas (PT-PR): “Não haverá retaliação, porque o PT é responsável. Governa o país ao lado do PMDB, mas, pessoalmente, me sinto absolutamente decepcionado com o presidente Henrique”, disparou.
No mesmo dia, logo após discurso de Guimarães sobre a renúncia do irmão, o presidente demonstrou irritação no plenário ao dizer que cumpriu seu “dever constitucional” no caso. Ontem, evitou polemizar. “O líder Guimarães falou na tribuna, foi respeitoso como deveria ser e esta é uma página virada”, concluiu. Mas os demais peemedebistas não perdoaram. “Não é justo culparem o Henrique, que, se quisesse cassar o Genoino, teria cumprido logo o que o STF decidiu”, argumentou o líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ). “De todos nós do partido, o Henrique e o Michel Temer (vice-presidente da República) são os que têm melhor relação com o PT e o governo, mas é preciso distinguir o aliado do comandante da Casa, que precisa cumprir seu papel”, completou o vice-líder, Marcelo Castro (PI).
Apesar de não querer comentar o incômodo do partido com Alves, Guimarães voltou a criticá-lo indiretamente ontem. “O Genoino foi maior, (foi) um gesto grandioso, talvez maior do que de alguns dos membros da Mesa”, provocou. “Ninguém queria cassar o Genoino na Casa.” O comentário entre petistas é de que o presidente influenciou os outros integrantes do colegiado a votarem de acordo com seu entendimento.
Descontentamento
A troca de farpas entre os dois partidos, teoricamente aliados no governo federal, começou em fevereiro, quando Eduardo Cunha foi eleito líder do partido, à revelia do que a própria presidente Dilma Rousseff gostaria. Em entrevista ao Correio em julho, Cunha destacou que a bancada não estava nada contente. “Hoje, o governo finge que tem base e a base finge que é governo”, disparou, na época. Durante o ano, o clima esquentou em episódios como a briga do líder peemedebista para derrubar a Medida Provisória dos Portos e para aprovar o piso nacional dos agentes comunitários de saúde, principal temor do Planalto. Em nenhuma das situações Cunha ganhou, mas conseguiu atrapalhar bastante os planos governistas.
De acordo com peemedebistas, a tendência contrária à aliança do PMDB com Dilma tem crescido cada vez mais. Um dos motivos recentes foi a resistência do Planalto em aprovar o orçamento impositivo, que tem o carimbo do PMDB. Comentários recentes de petistas, como o presidente do PT, Rui Falcão, desmentindo um anúncio feito pelo comandante da sigla peemedebista, Valdir Raupp, contribuem para piorar a situação. “A nossa impressão é de que o PT quer usar o PMDB de novo, mas fazendo força para nos afastar, com ofensas de boteco”, reclamou o também vice-líder do partido, Darcísio Perondi (RS).
Cunha reeleito no PMDB
O líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), foi reeleito ontem pelos colegas de partido e permanecerá no posto até o fim de 2014. No início do ano, ele enfrentou uma disputa acirrada para comandar a bancada. Desta vez, até mesmo o deputado Sandro Mabel (GO), que foi seu concorrente, apoiou a reeleição. Cunha é conhecido por incendiar as votações com comentários incisivos e se opor inúmeras vezes aos comandos do governo, em especial à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Sua manutenção no posto é mais um sinal de que o incômodo com o governo petista é majoritário na bancada do partido.