As armas de cada um

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Mantega prepara petistas para reverberar que a economia vai bem, apesar de crescer pouco. Dar a sensação de país vai bem e está em crescimento é o principal instrumento de Dilma para fazer frente a qualquer adversário

Autor(es): Denise Rothenburg

A confirmar o cenário que se avizinha para 2014, já se tem uma ideia do que os atuais pré-candidatos farão a partir de agora no sentido de arregimentar aliados às suas pré-campanhas. O governo “venderá” cargos, emendas ao orçamento. Aécio e Eduardo, entretanto, venderão esperanças. Da parte do PSDB, a mercadoria será a esperança de uma gestão mais eficiente, especialmente, na economia. E do PSB, vem por aí o jeitão da nova política, sem o toma-lá-dá-cá explícito dos últimos anos, quando o partido que não recebia o ministério do seu desejo fazia beicinho e acabava levando. E todos os três tratarão de “vender” apoios nos estados, algo que, se bem trabalhado, pode fazer a diferença, caso a disputa fique apertada na hora do voto.

Os exemplos do toma-lá-dá-cá são fartos. Basta ver o PR com o Ministério dos Transportes, onde está hoje o ministro César Borges, da Bahia. Ou o Ministério do Trabalho, lote do PDT. As últimas denúncias só não afastaram o atual ministro porque os petistas não desejam ver o PDT pular para do palanque de Dilma. O mesmo vale para o PP no Ministério das Cidades.

Obviamente, os cargos que dão direito a carro oficial com placa verde e amarela têm seu charme e, às vezes, desgastes, como o uso do helicóptero em Santa Catarina pela ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, estampada com exclusividade nas páginas do Correio. Mas pode representar uma faca de dois gumes e tirar voto se a coisa ficar tão explícita ao ponto de colar em Dilma a imagem da velha política.

Ela já tem a desvantagem, para o público jovem, de ser a única pré-candidata com mais de 60 anos, a contar pela preferência da cúpula do PSDB e do PSB registradas até o momento, um ano antes da eleição. Será ainda a única que comeu o pão que o diabo amassou no período da ditadura militar, quando Eduardo e Aécio ainda eram crianças. Até por isso, os dois tratarão de colocar o PT e a relação do partido de Lula com o PMDB, no papel da velha política espelhada na candidatura pela reeleição da presidente.

Enquanto isso, no Planalto…
A presidente, embora tenha plena consciência de que a junção de Eduardo e Marina Silva não é a melhor notícia que ela poderia receber, jogará com a principal arma que tem, ou seja, o próprio governo. Ontem mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estava no Instituto Lula, dando munição aos petistas para defender a economia nos próximos dias. Lá estavam, por exemplo, Devanir Ribeiro, Rui Falcão, Arlindo Chinaglia e o senador Wellington Dias, ex-governador do Piauí. Coincidência ou não, na quarta-feira haverá reunião do Conselho de Política Monetária (Copom) que traz a perspectiva de mais uma alta nos juros. Isso, sim, na avaliação do PT, é um problema.

Dilma e Mantega estão preparando o PT para responder diretamente aos adversários na hora em que o Copom trouxer uma verdadeira má notícia. Para isso, Mantega explicou ontem a diversos integrantes da legenda reunidos no Instituto Lula que a partir de 2014, o crescimento será maior, o Brasil está investindo em infraestrutura e a economia cresce, ainda que devagar, num momento em que a Índia cai, e que a China caiu e se estabilizou. É isso que, na opinião do partido de Lula, fará a diferença na hora do voto. E é isso que os petistas farão chegar aos aliados, como forma e manter todos na órbita governamental.

E nos partidos…
Nada disso, entretanto, será suficiente para fazer os partidos entrarem de corpo e alma na campanha de Dilma se, nos estados, ela e Lula ficarem apenas voltados aos palanques petistas. O escaldado Geddel Vieira Lima, pré-candidato a governador da Bahia, por exemplo, ligou ontem para Eduardo Campos. Sabe como é, Geddel já viu Dilma desfilar com o petista Jaques Wagner em 2010 e se reunir com o PMDB apenas em recintos fechados. Por isso, busca hoje outros candidatos a presidente para chamar de seu. Há quem diga que Geddel abre uma porta que outros podem seguir. Mas essa é outra história que hoje depende mais do PT do que de qualquer outro candidato.