Sem dinheiro para pagar as contas

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Washington — Depois de três dias de paralisação dos serviços públicos e férias forçadas para milhares de funcionários federais nos Estados Unidos, servidores se lançam à difícil tarefa de chegar ao fim do mês sem salário. Na quarta-feira, Maria Njoku, 27 anos, auxiliar de informação do Pentágono, sede da Secretaria da Defesa, ligou para o proprietário da casa em que mora para avisar que atrasaria o aluguel de US$ 1,3 mil e recebeu um aviso: se não tiver dinheiro para a próxima parcela, que vence em 11 de outubro, pagará taxas adicionais. “É uma carga econômica enorme”, disse ela.

Njoku já pensa em alternativas se o governo continuar fechado por muito tempo. “Vou tentar conseguir um segundo trabalho, algo nos fins de semana que me permita pagar as contas, se é que (a situação) vai chegar a esse ponto. Espero que não”, disse a jovem. Morar com a mãe ou com o pai não é uma opção, porque eles também foram enviados para casa sem remuneração.

Mesmo antes do fechamento dos serviços públicos, o ânimo dos funcionários civis do Pentágono estava abalado. Mais da metade deles já tinha recebido seis dias livres sem remuneração, este ano, devido a cortes no orçamento.

Alguns dos 800 mil servidores afetados pelo bloqueio protestaram na quarta-feira em frente ao museu Smithsonian de história natural. Em meio aos turistas que caminhavam pelos arredores da instituição fechada, os manifestantes vestiam camisas verdes com os dizeres “preferia estar trabalhando para você”.

“Estou muito preocupada”, disse Cheryl Claus, funcionária do Departamento de Agricultura que participou do protesto. “Tenho obrigações financeiras que preciso honrar, mas não sabemos quando nos pagarão de novo”, disse ela. “É muito assustador. Estamos muito descontentes porque os congressistas não fazem seu trabalho e, mesmo assim, recebem seus pagamentos, e nós, não”, acrescentou.

Piada
Alguns trabalhadores já tiveram que recorrer à família, aos amigos ou ao banco para pedir dinheiro emprestado. Em um momento em que os bares oferecem menus “especiais de fechamento”, Erik Brine, 37 anos, tenta levar a situação com bom humor. Ele tem três empregos públicos: é funcionário civil da Força Aérea, realiza um trabalho de meio período para o escritório do secretário de Defesa e é bolsista de um senador.

Brine passou a terça-feira organizando os trâmites para as férias forçadas de seus três empregos. “Ser despedido três vezes acabou com a melhor parte do dia”, contou o piloto aposentado, que serviu no Iraque e no Afeganistão. Com três filhos, ele decidiu aceitar o trabalho na Força Aérea, em vez de um posto mais bem remunerado, acreditando que teria mais segurança. “Escolhi cargo pela estabilidade, e isso acabou sendo uma piada”, disse.