Indústria parada sinaliza piora no PIB do 3º trimestre
Autor(es): Indiana Tomazelli / Maria Regina Silva / Renan Carreira
Dando uma trégua à gangorra de resultados positivos e negativos dos últimos meses, a produção industrial se manteve estável em agosto em relação a julho, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas o resultado, apesar de interromper a queda de julho, serviu para reforçar as expectativas de economistas de estagnação ou até recuo no Produto Interno Bruto (PIB) do País no terceiro trimestre. Na comparação com agosto de 2012, a retração foi de 1,2%.
Para o gerente da pesquisa André Luiz Macedo, da coordenação de Indústria do IBGE, o desempenho do setor foi relativamente bom, em função da melhora registrada em três das quatro categorias de uso. O único resultado negativo veio da indústria de bens de consumo semiduráveis e não duráveis, que caiu 0,3% sobre julho. Por ser responsável por 25% do total, essa categoria conteve a influência de alta das demais.
Trimestre fraco. Assim como na divulgação passada, economistas dizem que o resultado indica para um terceiro trimestre bastante fraco em termos de crescimento. A falta de dinamismo do setor, somada ao comportamento errático da produção, que até julho intercalava períodos de avanço e de redução pode acabar em estagnação ou queda do PIB no trimestre até setembro, afirma o economista sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano; “Depois de uma queda, a indústria não conseguiu se recuperar.”
A revisão do indicador de produção industrial de julho reforça essa tese. O IBGE informou que a queda naquele mês, ante junho, foi de 2,4%, em vez dos 2% divulgados originalmente. “Isso gera uma piora do carrego estatístico para o crescimento do PIB no terceiro trimestre. Se havia chance de revisão do PIB para cima, a chance se elimina”, avalia a economista Camila Monteiro, da ARX Investimentos. Para o período de julho a setembro, ela espera retração de 0,5% na economia em relação ao trimestre anterior.
A desaceleração da indústria começou a ser detectada a partir de maio, segundo Macedo. Foi quando a maior presença de importados no mercado interno, a redução no consumo das famílias, o acúmulo de estoques e a retração nos índices de confiança passaram a pesar mais. Até abril deste ano, de acordo com o IBGE, a produção da indústria acumulava alta de 3,1%. Entre maio e agosto, o resultado se reverteu para uma perda de 2,3%. Nos oito meses de 2013, o avanço é de 1,3%, e em 12 meses, de 0,7%.
“É preciso ter melhora da confiança e queda dos estoques para ficar um pouco mais otimista. Os investimentos continuam surpreendendo (positivamente), mas a confiança ainda está muito baixa”, ressalta Camila. O desempenho aquém do esperado levou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (ledi) a reduzir sua estimativa de crescimento da produção para 2% em 2013, ante os 2,5% da projeção anterior.
Os bens de capital (máquinas e equipamentos que alimentam a própria indústria) foram o destaque de agosto, com crescimento de 2,6% sobre julho, influenciado pelos segmentos de outros equipamentos de transporte e de máquinas agrícolas. Na comparação com agosto de 2012, a alta foi de 11,8%.
O segmento é o único que mantém uma trajetória firme, com resultados positivos em todos os meses de 2013. Nos cálculos do Itaú Unibanco, a alta sustentada por bens de capital aponta para uma evolução de 1,4% nos investimentos em agosto em relação a julho. Em relação a igual mês de 2012, o investimento cresceu 4,6%.
Para o economista da LCA Consultores, Rodrigo Nishida, a tendência é favorável para este ano. Ele acredita que a FBCF deve subir 7,1% em 2013, o que deve compensar a retração de 4% do ano passado. O resultado deve alavancar os investimentos para 19,8% do PIB. Em 2012, essa proporção ficou em 18,1%. / COLABOROU RICARDO LEOPOLDO