Um casamento tumultuado

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A um ano do início da campanha presidencial de 2014, a presidente Dilma Rousseff não tem certeza com quem poderá contar no palanque no ano que vem. Eleita em 2010 com a maior coalizão da história recente do país, Dilma sempre teve problemas de relacionamento com os aliados, mas sustentava-se no argumentos de que a rua a apoiava. Não mais. A queda vertiginosa na aprovação popular, despencando de 67% para 30% na aprovação e deixando claro que terá de disputar o segundo turno se quiser ser reeleita, faz Dilma ter que rever seus conceitos e buscar corrigir rumos. Animados, os aliados veem uma oportunidade única de colocar suas faturas à mesa e pressionar a presidente.

A ausência de um denominador comum na base aliada é explícita. O PT apoia o plebiscito, critica a relação com aliados e os rumos da economia, projeta segundo turno e elabora um documento com todos esses pontos após uma reunião do Diretório Nacional. Depois, num inédito caso de censura posterior, revisou o documento apoiando a política econômica e afirmando a esperança de que Dilma seja eleita em primeiro turno.

O PMDB dá as costas para a proposta da presidente de fazer um plebiscito para discutir a reforma política e ainda teve a ousadia — vocalizada pelo presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN) — de diminuir de 39 para 20 o número de ministérios na Esplanada. Receoso com a rebelião, o vice-presidente Michel Temer pediu ao deputado Eliseu Padilha (PMDB-RS) que organizasse uma pesquisa interna para saber se os peeemdebistas querem ou não manter a aliança com o PT em 2014. A consulta aos deputados se encerra nesta semana, os senadores serão ouvidos e até os presidentes dos diretórios estaduais darão suas opiniões. Por enquanto, eles querem manter o casamento. Mas a relação, segundo eles, precisa passar por uma discussão aprofundada.

Dilma também vê partidos como o PP, PR, PDT e PSD, sem qualquer cerimônia, abrindo diálogo com candidatos de oposição, como o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). “Para Dilma recuperar o controle sobre a própria base, precisará recuperar a popularidade, pelo menos, para 40%. Sem isso, a vida dela não será nada fácil”, disse um peemedebista histórico. A retomada do céu de brigadeiro de 67% de aprovação popular é algo impensado, segundo aliados. Para todos, esse percentual era irreal, fruto inercial da memória dos anos de governo Lula.

Como não dá para pensar em 2014 sem corrigir o pesadelo atual, Dilma precisa azeitar sua relação com a base a partir da reabertura do Congresso, amanhã. A presidente Dilma Rousseff deve receber os líderes de todos os partidos governistas no Palácio do Planalto para discutir a pauta de votações prioritárias para o governo. Mais do que uma simples reunião, o encontro entre a presidente e sua base reflete o empenho em destravar o relacionamento e garantir o apoio a projetos tanto na Câmara quanto no Senado.

No plenário da Câmara, a debandada já é bastante explícita. Legendas que no início do mandato davam demonstrações de fidelidade inconteste, como o PMDB, hoje apresentam comportamento errático nas votações. Um levantamento de uma empresa de consultoria política mostra que o partido ficou a favor do governo em menos da metade das votações no primeiro semestre deste ano — 44, 59% foi o “índice de fidelidade do PMDB, nesse período, contra 64,4% em 2011. Governista “independente”, apesar de contar com uma vaga na Esplanada, o PSD votou com o governo apenas 38% das vezes, até junho. Hoje, apenas PT, PDT e PC do B estão a favor do governo em mais da metade das votações, segundo o levantamento.

Emendas

Foi para reduzir esse atrito que a presidente anunciou a liberação de R$ 6 bilhões em emendas parlamentares até o fim do ano, divididos em três parcelas de R$ 2 bilhões. É com esse argumento que Dilma se colocará à frente dos líderes aliados. A pauta oficial do encontro será centrada em três itens: a votação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que devia ter acontecido no início de julho, antes das férias forçadas dos parlamentares, os vetos presidenciais e a destinação dos royalties do petróleo para as áreas de educação e saúde.

No Planalto, o entendimento é que os levantes populares transformaram os cenários do próximo ano em areia movediça. Dilma despencou, mas Marina Silva tem apenas 30 segundos no horário eleitoral, Aécio Neves precisa unificar o PSDB e Eduardo Campos (PSB) ainda é um nome restrito ao Nordeste.

Fortalecimento do Mercosul
Uma parte da população que sempre tem uma postura de afastamento da política. Precisamos aperfeiçoar a democracia brasileira, não negá-la.