Reflexão ministerial no Torto

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“Pesquisa, a gente não discute. Pesquisa, a gente vê, a gente entende, e a gente age”, disse a presidente Dilma Rousseff a todos os seus ministros durante a reunião ministerial da última segunda-feira, na Granja do Torto, quando procurou motivar sua equipe para cumprimento do que vem sendo chamado de “agenda das ruas”. As manifestações, motivo central do encontro para uma reflexão em equipe, correm o risco de influenciar na decisão dos investidores de voltar seus recursos a outros mercados, conforme expôs o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Mas, em nenhum momento, se falou abertamente de cortes de despesas como forma de fazer frente à agenda cobrada pelos manifestantes, embora o ministro da Fazenda, Guido Mantega, tenha dito em sua fala que, “se quisermos atender a demanda social, tem que dizer de onde vem o dinheiro”.

Tanto Mantega quanto Tombini disseram que a inflação está sob controle. Mas o presidente do BC foi menos enfático nesse quesito ao dizer que esse período agora requer atenção diante do que chamou de “fator China, Estados Unidos e manifestações”, deixando claro que esse tripé atrapalha o curso seguro da economia.

O presidente do Banco Central foi um dos poucos ministros chamado a discorrer em detalhes sobre sua área, ao lado de Mantega; Miriam Belchior, do Planejamento; e Gleisi Hoffmann, da Casa Civil. Aloizio Mercadante, da Educação, tratado entre os colegas como uma espécie de “primeiro-ministro”, não compareceu por causa de uma forte gripe. Os demais se inscreviam e era passada a palavra pela ordem de inscrição.

Nas conversas paralelas — sim, entre os ministros, esse comportamento também ocorre — muitos citavam a necessidade de contenção de gastos, mas, da parte da presidente, nada foi mencionado a esse respeito. Tampouco houve qualquer citação sobre uma reforma administrativa. A única reforma a que a presidente se referiu foi a política, com a defesa do plebiscito.

O vice-presidente Michel Temer passou a maior parte do tempo calado e discorreu sobre o plebiscito. O momento que, de acordo com alguns ministros, causou algum constrangimento foi quando o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, citou que se estava tudo tão bem no cenário (referia-se à economia) não haveria motivos para a reunião ministerial. Chegou a usar a expressão “estamos aqui fazendo o quê?”. Foi a hora em que a maioria olhou para o ministro da Fazenda.

Dilma, entretanto, não manifestou qualquer contrariedade em relação a Gilberto Carvalho. Afinal, estava ali para ouvir e pedir união da equipe. Quanto à Copa das Confederações, a própria presidente fez questão de dizer que as pesquisas aprovaram a realização dos jogos no Brasil. A menção ao levantamento do Datafolha que detectou a queda na popularidade foi feita no início da reunião. No fim, depois da fala de quase toda a equipe, ela mencionou a necessidade de transparência nas ações.