Instituição mostra maior preocupação com inflação e indica que vai subir juros

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Autor(es): Por Mônica Izaguirre e Murilo Rodrigues Alves | De Brasília

O Banco Central indicou ontem que os dois aumentos recentemente promovidos na taxa básica de juros não são suficientes para fazer com que a inflação feche 2013 abaixo dos 5,84% registrados pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2012. Na hipótese de a Selic, hoje em 8% ao ano, não subir novamente, o índice no qual se baseiam as metas de inflação do governo aumentaria 6% este ano. A previsão está no relatório trimestral de inflação e pressupõe a taxa de câmbio estacionada em R$ 2,10, cotação de 7 de junho, data de corte para a elaboração do documento.

A expectativa inflacionária da autoridade monetária piorou desde março, quando projetava inflação de 5,7% para este ano, considerando o chamado cenário de referência, que leva em conta juros e câmbio estáveis. Naquele momento, o dólar era cotado a R$ 1,95 e a Selic estava em 7,25% ao ano.

O atual patamar de juros não evitaria o aumento da inflação anual, mesmo diante de um crescimento econômico menor que o esperado em março. A projeção de incremento real do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 caiu de 3,1% para 2,7%, segundo o relatório, ainda assim um ritmo superior ao 0,9% de 2012. A taxa de crescimento do PIB em 12 meses só chegaria à casa dos 3% no fim do primeiro trimestre de 2014.

A inflação projetada para 2014 também piorou. O BC prevê que o IPCA vai subir 5,4%, e não mais 5,3%, no último ano do mandato da presidente Dilma Rousseff. Com juros no atual patamar, pelo menos até junho de 2015, a autoridade monetária não vislumbra colocar a inflação acumulada em 12 meses no centro da meta, que é de 4,5%. As projeções apontam inflação na casa de 5,5% no fim do primeiro semestre de 2015.

Ao comentar o relatório, o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, disse esperar que o IPCA feche 2013 abaixo do nível de 2012, diferente, portanto, do que a projeção do cenário de referência indica. “O ano ainda não acabou”, disse ele. “Estamos trabalhando para isso”, acrescentou, sinalizando novos aumentos da Selic.

Embora também tenham piorado em relação a março, as projeções feitas pelo BC com base nas trajetórias de juros e câmbio esperadas pelo mercado corroboram a ideia de que novos aumentos da taxa básica de juros possibilitariam uma inflação pelo menos no mesmo nível de 2012, ou ligeiramente mais baixa, em vez de mais alta. No chamado cenário de mercado, o IPCA aumentaria 5,8% em 2013. Comparada à do cenário de referência, a inflação também seria menor em 2014 e nos 12 meses medidos até junho de 2015, fechando esses períodos em 5,2% e 5,3%, respectivamente.

O cenário de mercado pressupõe Selic média de 8,75% ao ano no último trimestre de 2013, percentual que subiria para 8,92% ao ano, no último trimestre de 2014, e chegaria a 9% ao ano no segundo trimestre de 2015. Com esses patamares de juros, a inflação seria menor, apesar da trajetória da taxa de câmbio, que no cenário de mercado é mais alta (o dólar ficaria em R$ 2,10 no fim deste ano, mas subiria até o último trimestre de 2014, quando alcançaria R$ 2,15).

Segundo Araújo, o BC notou na última década uma queda no repasse da desvalorização cambial aos preços. Atualmente, só 6% do aumento do dólar se transforma em inflação ao consumidor ao fim de 12 meses, percentual bem abaixo dos últimos anos, disse ele, sem informar, no entanto, qual era o nível de repasse há uma década.

O relatório sinaliza a necessidade de aperto monetário mais forte no Brasil, num momento em que as perspectivas para o mundo são de melhora da atividade, combinada com aumento de inflação. O cenário central com que trabalha o BC, segundo o documento, “contempla ritmo de atividade global mais intenso”, o que, se confirmado, “tende a se manifestar em pressões de preços nos mercados globais”.

O diretor do BC chamou a atenção para projeções que mostram taxa de crescimento global subindo nos próximos dois anos, com recuperação nos Estados Unidos, na área do euro e nos principais países emergentes. A taxa de inflação mundial, por sua vez, também subiria em 2014 e só recuaria em 2015, graças aos emergentes e aos latino-americanos, pois os preços continuariam a se acelerar nos Estados Unidos e na área do euro.

As projeções para a inflação brasileira pioraram, desde março, apesar de já incorporarem a primeira consequência prática dos protestos de rua que tomaram conta do país nas últimas duas semanas: a revogação dos reajustes de tarifas de transporte coletivo urbano em diversas capitais. O BC entendeu que esse fator não podia ser ignorado, apesar de ter ocorrido após a data de corte adotada no relatório (7 de junho). Depois desse dia, também houve elevação da taxa de câmbio, mas, nesse caso, o BC optou por não atualizar os parâmetros. Com a suspensão do reajuste das tarifas de transporte coletivo, os preços administrados por contrato e monitorados vão subir 1,8% neste ano, ante 2,7% da previsão divulgada em março.

O diretor disse que, de um modo geral, o BC ainda não tem como fazer uma avaliação do impacto econômico decorrente das manifestações populares. Isso vai depender das respostas institucionais que forem dadas, na medida em que elas forem adotadas. Ainda não é possível medir o impacto nem na confiança dos investidores nem nas contas públicas.

Por enquanto, no que se refere à política fiscal, a hipótese de trabalho do BC continua sendo a geração, pelo setor público não financeiro, de superávit primário de R$ 155,9 bilhões em 2013 e R$ 167,4 bilhões em 2014, com a possibilidade de que esses valores sejam reduzidos em função dos investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), como permite a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

O BC ainda não incorporou à sua hipótese fiscal, a promessa feita pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, de um superávit de, pelo menos, 2,3% do PIB neste ano, o que pressupõe não usar plenamente os mecanismos de flexibilização de meta previstos na LDO.