Inflação resiste e preocupa o governo

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A resistência da inflação em patamar elevado começa a preocupar o governo. O Planalto teme que a discussão do comportamento dos preços possa inflamar ainda mais o debate eleitoral de 2014 e colocar em risco as chances de reeleição da presidente Dilma Rousseff. Nesse cenário, um elemento novo foi a divulgação, ontem, do Índice de Preços ao Consumidor — Semanal (IPC-S) de abril (0,52%), que, apesar de mostrar desaceleração frente a março, acumula alta de 6,17% nos últimos 12 meses.

Os números apenas reforçam o que o mercado já vem reiterando há meses: mesmo com a ajuda dos cortes de impostos promovidos pelo governo, a carestia não está nem perto de caminhar para o centro da meta que deveria ser perseguida pelo Banco Central (BC), de 4,5%. Pelo contrário, parece flertar mais com o teto de 6,5%, dando margem à oposição para armar uma estratégia de ataque à gestão econômica do Partido dos Trabalhadores.

Ontem, o governador de Pernambuco, o presidenciável Eduardo Campos (PSB), disse que a inflação é um problema que não poderia ser escondido. Um dia antes, o também presidenciável Aécio Neves (PSDB), senador por Minas Gerais, criticou a “leniência” do governo com a disparada da inflação. Nesse fogo cruzado, a presidente Dilma Rousseff chamou a Brasília o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que, a princípio, daria expediente no escritório do Banco do Brasil em São Paulo. Além de inflação, a conversa teve como tema o Orçamento e a munição disponível para conter a alta dos preços. Hoje, está prevista a divulgação do primeiro relatório de contingenciamento de gastos do governo, que deverá rever os parâmetros, divulgados em março, da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2013.

Mantega já anunciou que o governo tem bala na agulha para gastar até R$ 70 bilhões este ano com desonerações. A estratégia é manter a política adotada nos pacotes anteriores, que estenderam o desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) até o fim do ano e, com isso, amenizaram um pouco o comportamento explosivo da inflação.

Cortes
Nas contas da economista Basiliki Litvac, da MCM Consultores, sem os cortes de tributos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) já estaria em 7,32% nos últimos 12 meses. Até por isso, reforça Alessandra Ribeiro, economista e sócia da Tendências, o Palácio do Planalto está preparando mais medidas de alívio da carga fiscal. “O que se comenta no mercado é que ainda haverá mais desonerações principalmente para o setor de transporte público e para os planos de saúde, que interferiram muito no custo dos serviços ao consumidor”, contou.

Na opinião do economista-sênior da Austin Rating, Felipe Queiroz, os serviços ainda continuarão sendo o calcanhar de aquiles do governo por um longo tempo. Segundo ele, nas próximas o preço dos alimentos in natura deve cair. “Em contrapartida, os serviços deverão continuar a pressionar bastante o custo de vida”, disse.

“A inflação está se tornando objeto da política porque é um dos fatores capazes de fazer a Dilma perder a reeleição em 2014. Os candidatos da oposição já perceberam isso e estão explorando muito esse tema”, observou o estrategista-chefe do banco WestLB, Luciano Rostagno. “Um assunto que chega à mesa dos mais pobres, como a alta do preço dos alimentos, é claramente um fator de decisão de voto”, comentou.