‘O investimento vai crescer pelo menos 5% este ano’

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Luciano Coutínho, presidente do BNDES, estima que a taxa de investimento vai chegar a 20% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2014, último ano do mandato da presidente Dilma Rousseff. O indicador ainda estaria distante dos 25% considerados ideais para um crescimento sustentável, mas significaria a “retomada dos investimentos”. A seguir, os principais trechos da entrevista:

A alta de juros promovida pelo Banco Central pode desestimular os investimentos?

A estabilidade é a mãe de toda a virtude em qualquer economia, especialmente a brasileira. O movimento do BC foi adequado, porque sinalizou a intenção de não permitir o descontrole inflacionário. Isso é positivo para o crescimento do País. É preciso entender que as decisões de investimento têm um período médio de maturação de 18 meses – em alguns casos, chega a 4 ou 5 anos. Nesse sentido, é positivo manter a inflação sob controle. Até porque não é necessário produzir uma recessão para coordenar as expectativas de inflação.

Qual é a sua percepção sobre os investimentos no., primeiro trimestre?

A recuperação dos investimentos parece ter sido muito forte em janeiro e fevereiro. Ainda não temos os dados de março, mas os indicadores preliminares são de que o impulso se manteve. A expectativa de todos os analistas qualificados é de aumento do investimento no primeiro trimestre entre 4,5% e 9%. Parte disso se deve a fatores sazonais, como as vendas de máquinas agrícolas e caminhões, mas, mesmo descontando esses impactos, os nossos números mostram que há uma recuperação do investimento industml O investimento vai crescei pelo menos 5% este ano.

E em 2014? Qual deve ser a taxa de investimento do fim do governo Dilma? A tendência do investimento é acelerar no ano que vem, porque o programa de concessões tende a ter os efeitos concentrados em 2014 e 2015. Acredito que o investimento pode crescer 8% em 2014, o que levaria a uma taxa de 20% do PIB.

Mas ainda não é uma taxa capaz de garantir um crescimento sustentável.

Não é. Mas devemos lembrar que o investimento estava caminhando para 20% do PIB em 2008, quando o Lehman Brothers quebrou. A economia mundial está em crise desde 2009. Em 2010, houve um forte esforço de recuperação, puxado pelos países em desenvolvimento, mas os países desenvolvidos continuaram em crise, que recrudesceu na Europa. O Brasil está retomando uma trajetória virtuosa em que o crescimento volta a ser liderado pelos investimentos.

Qual é a sua expectativa para 0 crescimento do PIB em 2013 e 2014?

No ano que vem, o PIB pode crescer tranquilamente 4,5%. Para este ano, no mínimo 3%, podendo ser 3,5%.

O IBGE está estudando mudanças na metodologia do cálculo do PIB. Na sua opinião, os investimentos e 0 crescimento estão subestimados no Brasil?

Sim. A metodologia avançou muito nos Estados Unidos e na Europa e nós estávamos relativamente defasa dos. Hoje sabemos que uma pare ela significativa do investimento empresarial é para tecnologia da informação. Às vezes, isso é contabilizado como investimento, mas às vezes como serviço ou leasing. Acredito que o IBGE já se moveu para fazer um ajuste nesse campo, mas há outras áreas em que uma avaliação metodológica deve ser efetuada.

Quais?

No Brasil, o peso da compra de maquinas e equipamentos é muito forte nos investimentos, o que destoa um pouco das médias internacionais. Não tenho certeza se todos os investimentos em construção são corretamente capturados pela metodologia.

Existem muitos investimentos em construção de pequena escala. Mas não quero me estender nessas considerações porque tenho um enorme respeito ao IBGE, e essa é uma questão totalmente técnica.

Uma mudança no cálculo do PIB pode gerar desconfiança em relação aos dados, como ocorre,na Argentina? Acredito que não. O País já está numa fase de maturidade em que não vai acreditar que os investimentos aumentaram por causa de uma mudança de metodologia. Se o investimento melhorar, a tendência vai aparecer em qualquer patamar.

O senhor está satisfeito com o atual nível do câmbio?

Através de um conjunto de medidas, o Banco Central inverteu uma trajetória de apreciação do câmbio, que era muito preocupante. Foi feito um ajuste no câmbio, que melhorou a competitividade. Mas foi feito com cautela e hoje chegamos a um patamar que é compatível com a manutenção da estabilidade. Alguns formadores de preço estavam querendo projetar um câmbio de R$ 2,20 a R$ 2,25, que poderia ter efeitos desestabilizadores sobre a inflação.

O BNDES vai precisar de uma capitalização no segundo semestre?

O banco tem um nível capitalização bastante confortável: 15,4%. Em relação ao índice de Basiléia, estamos folgados. Considerando o aumento da demanda por infraestrutura, a base de capital terá de ser reforçada. Mas quero sublinhar que o BNDES gera lucro suficiente para a sua capitalização. Temos ajudado o Tesouro Nacional a suportar o superávit primário, pagando dividendos. O entendimento é que o Tesouro nos forneça capital nos momentos em que isso se torna necessário. Mas essa não e uma questão urgente.

O BNDESPár teve queda no Lucro de 93%. As apostas foram equivocadas?

O ano passado foi mim para todo o mercado de capitais. Mas o BNDESPar teve bom resultado, se não consideramos a necessidade de registrar a preços de mercado as ações nas empresas em que possui mais de 20% de capital. Tivemos perda de valor das ações da Eletrobrás. Quero ressaltar que isso afeta o patrimônio, mas não é perda de caixa. Só seria se vendêssemos as ações. O fato de não registrar essa perda do BNDESPar no BNDES, para não afetar o balanço do banco, criou toda essa celeuma. Não foi um efeito financeiro efetivo, mas o que chamamos de marcação a mercado, que pode ser revertida no futuro, à medida que a Eletrobrás se recuperar. E vamos ajudar com o que estiver ao nosso alcance.

Mas isso levou a Moody”s a rebaixar a classificação de risco do BNDES. Vai prejudicar as captações externas do banco? Essa classificadora de risco concedia um rating ao BNDES maior que o ra-ting da República e corrigiu. As outras classificadoras mantiveram os ratings iguais. Nas nossas emissões, a 1 referência são os papéis do Tesouro, e sempre pagamos um pouquinho a mais. Era inconsistente um rating superior. O BNDES continua mantendo uma posição favorável em relação a outros emissores, que não vou nominar. Temos um balanço sólido e com bom retorno para os acionistas.

O BNDES está abandonando a política de campeãs nacionais?

E preciso corrigir esse termo. A promoção da competitividade de grandes empresas de expressão internacional é uma agenda que foi concluída. É uma política que tinha méritos e chegou até onde poderia ir. Até porque o número de setores em que o Brasil tem competitividade para projetar empresas eficientes no cenário internacional é relativamente limitado a commodities e algumas pseudocommodities. E já fizemos isso nesses setores: petroquímica, celulose, frigoríficos, parte da siderurgia, suco de laranja, cimento. Não enxergo outros setores com o mesmo potencial. Nos últimos anos, o BNDESPar tem se concentrado no fomento a novas empresas em setores intensivos em inovação tecnológica. Vejo um potencial interessante no complexo saúde e no setor farmacêutico. Há vários anos, o BNDESPar já vem trabalhando na área de tecnologia da informação. Também há iniciativas importantes nas empresas supridoras de bens de capital. Essa agenda combina desenvolvimento e inovação e é a tônica da política que vem sendo praticada nos últimos anos.

A política de criação de multinacionais decepcionou?

Não. É claro que temos de amadurecer os resultados em alguns segmentos; A concorrência é global e muito forte. O nosso potencial possível foi realizado. Foi bem-sucedi-do em todos os setores? É uma resposta para o futuro, porque o jogo continua. Não posso dizer que consegui e me deitar sobre os louros. Construímos as bases e agora vamos acompanhar.

O governo está se preparando para divulgar o custo dos subsídios dos empréstimos do Tesouro ao BNDES.

O senhor pode antecipar os valores? Não quero adiantar, porque ainda não li o trabalho técnico. O Ministério da Fazenda, respondendo ao TCU (Tribunal de Contas da União), produziu uma metodologia de cálculo. Ainda não fizemos uma análise técnica, mas tenho confiança dé que é consistente. Eu queria chamar a atenção para os benefícios dos empréstimos do BNDES. Olhar só os custos é uma avaliação enviesada. Ao estimular os investimentos, os empréstimos do BNDES geram impostos, emprego, renda e elevam a produtividade da economia. Temos estudos sobre os efeitos positivos e os divulgaremos oportunamente.

Qual é o tamanho da exposição do BNDES ao grupo de Eike Batista?

O BNDES está tranqüilo em relação ao grupo EBX. Não gostaria de fazer comentários adicionais.

O banco é criticado por ser pouco transparente. Como o senhor reage? Poucas instituições têm tanta transpárência como o BNDES. Nós publicamos todas as nossas operações, de crédito ou de mercado de capitais. Recentemente tornamos nosso site ainda mais amigável a consultas. Consideramos que informar a opinião pública é um dever do servidor público e buscamos responder, preservado o sigilo bancário das empresas.