Inflação mexe mais com juro que fala do BC

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Autor(es): Por Alex Ribeiro | De Brasília

Diretores do Banco Central têm dito que a mudança na sua comunicação já provocou um aperto das condições financeiras antes de uma eventual alta de juros. Mas a análise dos dados mostra que as informações sobre inflação são as que mais têm puxado os juros futuros neste ano. Desde 14 de janeiro, véspera da primeira reunião do Copom deste ano, os juros futuros reais (swap DI pré de 360 dias) subiram 0,88 ponto percentual. Mais da metade dessa alta (0,46 ponto) ocorreu em dias em que foram divulgados índices de inflação, o IPCA e o IPCA-15, maiores do que o esperado. Nos dias em que o Copom mandou mensagens ao mercado, nas atas e comunicados das reuniões e no relatório de inflação, os juros futuros subiram um total de 0,24 ponto percentual.

Representantes do Banco Central têm dito que a mudança na comunicação da autoridade monetária já provocou um aperto das condições financeiras mesmo antes de uma eventual alta de juros. Mas uma análise detalhada dos dados mostra que a inflação fora do controle é o que mais tem puxado os juros futuros neste ano.

Desde 14 de janeiro, véspera da primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deste ano, o juro futuro real embutido nos contratos de swap entre a taxa DI e a prefixada de 360 dias subiu 0,88 ponto percentual. Cerca de metade dessa alta (0,46 ponto percentual) ocorreu em dias em que foram divulgados índices de inflação, o IPCA e o IPCA-15, maiores do que o esperado.

Nos dias em que o Copom mandou mensagens ao mercado, nas atas e comunicados das reuniões e o relatório de inflação, os juros futuros subiram um total de 0,24 ponto percentual. Na sexta-feira, uma entrevista coletiva do presidente do BC, Alexandre Tombini, no Rio, provocou uma alta de mais 0,22 ponto percentual na taxa. Ele disse que o BC acompanha “atentamente” todos os indicadores econômicos, usando uma palavra que no passado indicou o início de ciclos de alta na taxa básica de juros.

Um único participante do mercado teve influência sobre os juros futuros tão grande quanto o Banco Central. Em 15 de fevereiro, o sócio da Mauá Sekular Investimentos, Luiz Fernando Figueiredo, concedeu uma entrevista ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor, prevendo um aperto monetário. Os juros futuros subiram 0,23 ponto percentual em apenas um dia. Figueiredo é visto pelo mercado como próximo de Tombini, por terem trabalhado juntos no BC.

Os dados colocam em xeque a visão de que a comunicação do BC, por si só, tem um efeito central para alterar as condições monetárias da economia e para conter as pressões inflacionárias. Também corrobora dúvidas de que o BC seria capaz de manter as condições restritivas sem levar a cabo altas na taxa básica – estratégia que o mercado chama de “manter os juros altos no gogó”.

Economistas do próprio Banco Central, em seus estudos, têm examinado o real poder da comunicação da instituição sobre os juros futuros. Um dos mais completos desses trabalhos, intitulado “O Impacto da Comunicação do Banco Central do Brasil sobre o Mercado Financeiro”, de Marcio Janot e Daniel El-Jaick de Souza Mota, não encontrou evidências de que os comunicados, as atas e o relatório de inflação do Banco Central afetam significativamente a inclinação da curva de juros. A inflação medida pelo IPCA tem um peso maior.

Mais importante ainda para definir a inclinação dos juros futuros são as surpresas na alta da taxa básica, conclui o estudo. Por esse princípio, pronunciamentos como o de Tombini na sexta-feira têm impacto mais forte nos juros porque sinalizam a intenção de passar da conversa para a ação.

Desde fins de março, Tombini vem afirmando que a comunicação do Banco Central não é apenas uma forma de preparar para uma eventual alta de juros.

“Essa mudança na comunicação do Banco Central é parte integrante da condução da política monetária”, disse Tombini. ” Nós já tivemos algum impacto nas condições financeiras e monetárias em função dessa alteração na postura. Se olhar as taxas de um ano, subiram 100 pontos.”

De fato, de janeiro para cá, a comunicação do Banco Central teve alguma repercussão no aumento dos juros futuros. Em 7 de março, por exemplo, os juros subiram 0,13 ponto percentual, em virtude do comunicado divulgado na reunião do Copom encerrada na noite anterior que indicou possível alta nos juros. No entanto, o IPCA de fevereiro, divulgado um dia depois, ficou acima do esperado e teve um efeito ainda mais forte sobre os juros, que subiram 0,2 ponto percentual naquele dia.

Em alguns momentos, a comunicação do BC levou à queda nos juros futuros. É o caso da ata da reunião do Copom de março. Os juros futuros caíram 0,02 ponto percentual no dia da divulgação desse documento, que pregava “cautela” no manejo da política monetária. No dia do depoimento de Tombini na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), a taxa apresentou um recuo de 0,03 ponto percentual.

Ruídos produzidos por outros setores do governo também levaram à queda – e mais volatilidade – nos juros futuros. Em 11 de março, por exemplo, o anúncio do corte de tributos sobre a cesta básica levou o mercado a entender que havia restrições no governo a uma eventual elevação dos juros básicos. Os juros futuros recuaram 0,12 ponto percentual naquele dia.

Declaração da presidente Dilma Rousseff na África do Sul questionando a validade de esfriar a economia para baixar a inflação levou a questionamentos sobre a autonomia do Banco Central para fazer um aperto monetário, estimulando uma queda de 0,05 ponto percentual nos juros futuros.