Visão do Correio :: Urgência para qualificar o servidor

337

Correio Braziliense – 19/03/2013

 

 

Não surpreende o fato de o Distrito Federal ter mais funcionários públicos que as demais unidades da Federação. O DF acumula duas funções — a de estado e de município. Eis por que o Legislativo local se chama Câmara Legislativa — mistura de câmara de vereadores e de assembleia legislativa. O representante eleito também tem denominação diferente. Em vez de vereador ou deputado estadual, é deputado distrital.

Segundo a Pesquisa de Informações Básicas Estaduais (Estadic), divulgada semana passada pelo IBGE, 1,6% da população brasileira compõe quadros das burocracias estadual e municipal. São 3,128 milhões de pessoas. Deles, 5% figuram na folha de pagamento do Governo do Distrito Federal (GDF). O percentual é maior que o dobro da média nacional. O Acre aparece em segundo lugar com 4,9%. Bahia e Ceará contam com o menor índice — respectivamente 0,9% e 0,7%.

Dizem que os números não mentem jamais. Levando-se em conta a veracidade do dito popular, pergunta-se o porquê da aparente contradição. Brasília ostenta o título de capital dos concursos. Atrai profissionais dos grandes centros urbanos em busca de emprego estável e de salários irrecusáveis. Eles já vêm preparados, a maioria com pós-graduação. Muitos, para garantir o êxito na seleção, frequentam cursinhos e se dedicam integralmente aos estudos. 

 Apesar do empenho e da premiação da meritocracia, os servidores da capital da República ocupam o 16º lugar em instrução. Dos 108.633 servidores, menos da metade — 49,8% — possuem nível superior ou pós-graduação. Santa Catarina, primeira colocada no ranking, tem 74,3% do total, seguida de São Paulo (68,4%), Goiás (63,2%) e Paraná (61%). Os pouco mais de 50 anos de idade da capital precisam ser levados em conta ao analisar a 16ª posição.

No período da construção, inauguração e crescimento da cidade, muitos brasileiros sem a qualificação adequada ocuparam cargos na administração pública. Aproveitar a precária mão de obra disponível foi a saída encontrada para fazer frente às urgências da nova capital. O ingresso mediante concurso só se tornou obrigatório depois da Constituição de 1988. Apesar do despreparo dos profissionais, os sucessivos governos não tomaram medidas aptas a azeitar a máquina pública.

A pesquisa da Estadic pode servir de bússola para as melhorias por que a população clama. Aperfeiçoar os serviços exige mais que palavras e delírios nascidos em gabinetes com carpetes e ar condicionado. Exige treinamento contínuo, exigência de produtividade e avaliação de desempenho. Sem profissionalizar a burocracia, o cidadão continuará a desembolsar uma das cargas tributárias mais escorchantes do mundo sem receber a contrapartida. O Distrito Federal, que nasceu sob o signo da vanguarda, tem a obrigação de fazer mais e melhor — por menos.