PIB cresce menos no governo Dilma do que com Lula e FHC

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Valor Econômico – 04/03/2013

 

 

Nos dois primeiros anos do governo Dilma Rousseff, a economia cresceu num ritmo mais lento do que nos mandatos de Lula e de FHC. Os presidentes deveriam ser cobrados mais pelo que fazem para melhorar as perspectivas de expansão de longo prazo do Produto Interno Bruto (PIB) do que pelas suas flutuações de curto prazo. Mesmo sob esse critério, porém, os números de 2012 divulgados na sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) causam preocupação, dada a retração nos investimentos.

A economia brasileira cresceu 0,9% em 2012, abaixo dos 2,7% observados em 2011. Na média, o avanço do PIB no governo Dilma, até agora, ficou em 1,8%. É menos da metade da média de 4% registrada nos oito anos de Lula e atrás dos 2,3% de FHC.

Em grande parte, o fraco crescimento reflete fatores cíclicos. Em 2010, o PIB aumentou 7,5%, acima das estimativas mais otimistas sobre o PIB potencial, levando à aceleração da inflação. O Banco Central, que se manteve inerte no fim do governo Lula, foi obrigado a subir a taxa básica de juros nos primeiros meses do mandato de Dilma. O aperto monetário foi o principal responsável pela desaceleração econômica de 2011.

O Banco Central mudou a direção da política de juros em fins de 2011, mas, ao contrário do esperado, a distensão monetária não foi capaz de reanimar o PIB. Entre as várias teorias que tentam explicar esse fenômeno, uma das mais plausíveis é a de que os mecanismos de transmissão da política monetária não funcionaram. O acirramento da crise na Europa atrapalhou a propagação do estímulo pelo canal das expectativas. O aumento da inadimplência nos empréstimos bancários, por outro lado, causou certa obstrução no canal do crédito.

Para aferir o desempenho do governo Dilma na economia, o dado divulgado pelo IBGE mais revelador é a retração de 4% no investimento em 2012. A acumulação de capital é um dos determinantes da tendência de crescimento de longo prazo do PIB, ao lado da expansão da oferta de mão de obra e dos ganhos de produtividade. A taxa de investimento foi de 18,1% do PIB em 2012, bem abaixo da faixa entre 21% e 25% que economistas afirmam necessária para aumentar o PIB potencial acima de 4%.

O IBGE mostra que, em vez de investimentos, mas uma vez o crescimento da economia foi puxado pelo consumo, com avanço de 3,1%, num modelo que muitos afirmam ter se esgotado. O consumo do governo cresceu 3,2%. Na ótica da oferta, a indústria se retraiu 0,8%, os serviços cresceram 1,7% e a agricultura caiu 2,3%. As exportações avançaram 0,5% e as importações apresentaram redução de 0,2%.

Boa parte da queda dos investimentos, é justo reconhecer, deve-se a fatores cíclicos. Esse é o componente mais volátil do PIB, subindo mais forte nos ciclos de expansão e caindo com mais vigor nas contrações. A desaceleração econômica induzida pelo Banco Central no começo de 2011 e a crise internacional levaram ao adiamento de planos de investimento das empresas.

Há razões para supor, porém, que escolhas de política econômica do governo Dilma tenham tido repercussões na chamada Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). A discussão tarifária no setor de energia elétrica, por exemplo, foi anunciada em meados de 2012 e sua resolução levou meses. A Petrobras reduziu a produção, com efeitos sobre a cadeia do petróleo. O cenário macroeconômico ficou mais incerto e volátil, dificultando o planejamento dos agentes econômicos. Natural que, num ambiente de incerteza, empresas adiem projetos.

É possível que a queda do investimento já esteja criando constrangimentos à ampliação da oferta. Foram quatro trimestres seguidos de contração. Em média, os projetos de investimento levam de cinco a seis trimestres para maturar.

O dado positivo do PIB é que o investimento voltou a crescer no último trimestre de 2012, com uma expansão de 0,5%. Os mais pessimistas dirão que, depois de quatro trimestres de queda, em algum momento a FBCF iria reagir, pois as empresas precisam voltar a investir nem que seja para manter a sua posição de mercado. Mas a retomada dos investimentos, ainda que fraca, não deixa de ser um dado alentador. A grande questão é se a acumulação de capital se firmará num patamar mais alto que permita o Brasil crescer a taxa mais altas.