Após dois anos, Dilma busca apoio de sindicatos

223

DILMA ABRE A PORTA PARA SINDICALISTAS E PREPARA MEDIDAS DE REAPROXIMAÇÃO

Autor(es): Roldão Arruda

O Estado de S. Paulo – 04/03/2013

 

 

A presidente Dilma Rousseff, virtual candidata à reeleição, decidiu seguir o conselho do ex-presidente Lula e tentar se reaproximar das centrais sindicais. Nos últimos dois anos, ela delegou os contatos ao secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, e os sindicatos se queixavam de falta de espaço no governo. Na semana passada, Dilma recebeu os presidentes da CUT e da UGT. Ela também determinou aos ministros que analisem as reivindicações dos trabalhadores e verifiquem quais podem ser atendidas a curto prazo. Outro possível candidato à Presidência em 2014, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), também tenta se aproximar dos sindicatos. Hoje, ele deve receber a direção da Força Sindical.

Na busca de aliados. Depois de ver relação com centrais estremecida por causa de embates durante greves, presidente segue conselho de Lula, recebe grupos organizados no Planalto e deve anunciar pacote de bondades até o Dia do Trabalho, em 1º de maio

 

A presidente Dilma Rousseff seguiu o conselho de seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, e iniciou um processo de reaproximação com as centrais sindicais. A agenda presidencial evidencia a nova estratégia: após dois anos sem muito espaço para reuniões com sindicalistas, Dilma tem tido agora uma série de encontros do gênero. Só na semana passada, recebeu dois presidente de centrais sindicais – Vagner Freitas, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), e Ricardo Patah, da União Geral dos Trabalhadores (UGT).Nodia12eladevepartici- par da inauguração da nova sede do Sindicato dos Comerciários de São Paulo, filiado à UGT e representante de um setor com cerca de 400 mil trabalhadores. A data foi acertada diretamente entre o Planalto e os organizadores. Também não está descartada a possibilidade de, amanhã, ao término da 7.ª Marcha das Centrais Sindicais, em Brasília, Dilma receber os sindicalistas no Planalto. Até ontem a agenda presidencial não registrava o compromisso, mas os sindicalistas não descartavam a hipóteses do encontro. Em outros anos, Dilma sempre preferiu delegar missões desse tipo ao secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Por causa disso, eram quase invariáveis nas centrais as críticas ao seu estilo. Nos confrontos entre o governo e os funcionários públicos, na greve que estes realizaram em meados do ano passado, eram comuns as comparações entre a presidente e Lula – todas sempre desfavoráveis a ela. O esforço de aproximação do Planalto com as centrais deve ir além de cumprimentos e reuniões. Paralelamente, o Planalto está reunindo ministros de diferentes áreas para analisar as principais reivindicações dos trabalhadores e verificar quais podem ser atendidas a curto prazo. De acordo com alguns líderes sindicais, o governo corre para fazer o anúncio de alguma “boa novidade ”até o Dia do Trabalho, comemorado em 1.º de maio.

Gentilezas.

Filiado ao DEM, o presidente da UGT, Ricardo Patah, sempre integrou o coro dos que criticavam o distanciamento entre Dilma e as centrais. Na quinta-feira passada, porém, ao deixar o Planalto, a opinião dele já era outra. Saiu “encantando” com as atenções que ele e seus acompanhantes, entre os quais quatro deputados ligados à central, receberam da presidente. O encontro, programado para durar uma hora, estendeu-se por uma hora e meia. Dilma interessou-se particularmente pelos problemas enfrentados pelos motoboys, uma das categorias em que a UGT tem maior penetração, e, ali mesmo, determinou  a Gilberto Carvalho a organização de um grupo interministerial para estudar essa questão. “Eu sempre tive contato com o Lula, que recebia as lideranças sindicais pelo menos uma vez por mês, visitava sindicatos e chegou a ir ao congresso anual da UGT. Com a Dilma sempre foi diferente, mas dessa vez ela nos surpreendeu”, diz Patah. “Ela nos recebeu com muita atenção, ouviu nossas reivindicações e opiniões sobre a política econômica do governo. Disse- mos a ela, por exemplo, que não é correto desonerar a folha de pagamento das empresas sem exigir contrapartidas dos empresários, para garantir o nível de em- prego. Foi um encontro histórico, na minha avaliação.” Dois dias antes de Patah, a presidente havia recebido Vagner Freitas de Moraes, presidente da CUT, a maior central do País, historicamente próxima do PT. Moraes também notou a mudança, mas não viu nela nenhuma “alteracão de rota”. “Acho que a presidente está aprimorando as políticas de um governo exitoso. Sempre dissemos a ela que os resultados das ações são melhores quando se fala diretamente com os interlocutores da sociedade”, diz. “Não é uma atitude eleitoreira nem oportunista, mas sim uma evolução.” Segunda maior central do País, a Força Sindical, do deputado Paulo Pereira da Silva, é a exceção .

Tendência.

Além de tentar se reaproximar dos sindicalistas, Dilma mudou a atitude com outros setores também. Passou a receber mais empresários, além de ter estreitado relações com o MST, outro histórico aliado do PT, ao visitar neste ano um assentamento rural ligado à organização.

Para entender

Ex-presidente faz interface

Em três diferentes ocasiões, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ganhou projeção política liderando greves de metalúrgicos no ABC Paulista, insistiu com Dilma Rousseff para afiar o diálogo com representantes empresariais, sindicais e de movimentos sociais. A primeira foi em 10 de dezembro, quando se encontraram em Paris e começaram a tratar da campanha de 2014. A segunda ocorreu no dia 25 de janeiro, durante encontro em São Paulo, Lula parecia preocupado com um possível isolamento do governo da afilhada. A terceira manifestação foi um recado à distância. No dia 3 de fevereiro, em Washington, ao discursar durante a conferência anual da UAW, central sindical do setor automobilístico dos EUA, ele afirmou: “O Obama tem de ouvir vocês, a Dilma tem de ouvir os sindicatos.” Na semana passada, Lula voltou a fazer o meio de campo: em festa de comemoração do aniversário da CUT, pediu aos sindicalistas que sejam “compreensivos” com Dilma . /R.A