País menos desigual

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Correio Braziliense – 29/11/2012

 

O Brasil atingiu no ano passado a menor desigualdade de renda desde a década de 1980, de acordo com a Síntese dos Indicadores Sociais (SIS), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo a pesquisa, o Brasil tinha em 2011 Coeficiente de Gini de 0,508. Em 1981, era 0,538. O índice varia entre zero, situação de absoluta igualdade, e um, hipótese em que toda a renda seria concentrada em uma só pessoa.

Apesar do avanço, o país ainda é um dos mais desiguais do mundo. Na União Europeia, por exemplo, o Gini chegou a 0,305 em média em 2010. No ano passado, foi 0,290 na Alemanha; 0,308 na França; e 0,244 na Suécia. A pesquisa SIS, do IBGE, apontou outros sinais de queda na disparidade entre os ricos e os pobres brasileiros. Houve redução na renda dos 20% mais ricos, de 60% para 57,7% do total entre 2001 e 2011. Mesmo assim, no ano passado, os 40% mais pobres ganhavam apenas 11% da riqueza nacional, diz o estudo.

Grande parte do avanço se deve, aparentemente, aos programas de transferência de renda. Segundo a SIS, nos 10 anos considerados no estudo disparou a renda de “outras fontes” para famílias com rendimentos domiciliares por pessoa de até um quarto de salário mínimo. Esse item passou de 5,3% para 31,5% dos rendimentos de 2001 a 2011. Na faixa de um quarto a meio salário mínimo, também houve aumento: de 3,1% para 11,5%.

 De acordo com os pesquisadores do IBGE, a hipótese mais provável para explicar esse aumento é a expansão ocorrida no período em programas como o Bolsa Família, para famílias de baixa renda com filhos em idade escolar, e o Benefício de Prestação Continuada, destinado aos extremamente pobres. “A modificação ocorreu apesar de o rendimento do trabalho haver crescido o período”, registra o texto da SIS.

A SIS constatou ainda que subiu de 2,6% para 3,5% a renda dos 20% brasileiros mais pobres na mesma década. Houve aumento de 0,9 ponto percentual no rendimento dos mais desfavorecidos e uma queda de 2,3 pontos na riqueza apropriada pelos 20% mais ricos. No mesmo período, esse grupo social no topo da pirâmide, que recebia 24 vezes o que ganhavam os 20% mais pobres em 2001, viu essa disparidade cair para 16,5 vezes em 2011.

A redistribuição registrada pela SIS não foi equivalente para todos os grupos sociais. “Avançou-se mais na redução da desigualdade de raça que na de gênero”, disse a pesquisadora Cristiane Soares, do IBGE. Em 2001, as mulheres ganhavam 69% do que recebiam os homens, e em 2011, 73,3%. Os pretos e pardos passaram de 50,5% do rendimento dos brancos para 60% no período. Portanto, enquanto eles avançaram quase 10 pontos, as mulheres cresceram apenas 4,4 pontos.

O IBGE também avaliou a pobreza e a desigualdade com base em indicadores monetários e não monetários. Constatou que 22,4% da população brasileira estava em situação vulnerável em 2011 segundo critérios sociais e/ou de renda, mas esse percentual tem fortes variações regionais. Chega a 40% no Norte e 40,1% no Nordeste (53% no Maranhão, em primeiro lugar), mas não passa de 11,3% no Sul. A unidade da Federação com melhor posição em 2011 era São Paulo, com apenas 7,7% da população em situação vulnerável.

O Gini mais baixo da história brasileira é o de 1960: 0,497. Esse resultado baseia-se, porém, no Censo Demográfico daquele ano, o que impossibilita a comparação com a SIS, baseada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), inexistente à época.