Planalto tenta se descolar da crise
Autor(es): PAULO DE TARSO LYRA |
Correio Braziliense – 27/11/2012 |
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Estratégia do governo ao exonerar e afastar os indiciados rapidamente é deixá-los isolados para que respondam por conta própria pelo escândalo da venda de pareceres fraudulentos
A presidente Dilma Rousseff considera que as medidas tomadas pelo governo nos dois últimos dias — as exonerações dos servidores envolvidos na Operação Porto Seguro e o pente-fino em todos os contratos questionados pela Polícia Federal — são suficientes para afastar a crise do Palácio do Planalto. Na última sexta-feira, a Polícia Federal desmontou uma quadrilha que vendia pareceres jurídicos para empresários com negócios em diversos órgãos reguladores, como as agências nacionais de Águas (ANA), de Aviação Civil (Anac) e de Transportes Aquaviários (Antaq). Dilma reuniu os ministros mais próximos por duas vezes nas últimas 48 horas. No sábado, no Palácio da Alvorada, exonerou todos os indiciados na operação, incluindo a chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha, e o número dois da Advocacia-Geral da União (AGU), José Weber Holanda Alves. Ontem, nova reunião, desta vez no Palácio do Planalto, para definir as medidas anunciadas ao longo do dia. Segundo apurou o Correio, Dilma avalia que, após essas ações, não há por que se questionar o governo quanto à operação. A partir de agora, caberá aos indiciados a tarefa de dar explicações sobre os fatos em relação aos quais estão sendo investigados. Além disso, a presidente quis dar um recado bem claro aos subordinados. A caneta presidencial seguirá impiedosa para combater o “malfeito”, termo que costuma utilizar. Depois de um primeiro ano de governo tumultuado pelas sucessivas demissões de ministros, Dilma está sendo orientada por especialistas a dar respostas rápidas em momentos de crise. É um discurso poderoso, a dois anos das eleições presidenciais. Sobretudo após Dilma ter aparecido, pela primeira vez, à frente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em pesquisas espontâneas de intenção de voto para a sucessão em 2014. A situação de Lula, contudo, causa preocupação, especialmente no PT. Rose, como é conhecida Rosemary Noronha, era muito próxima ao ex-presidente e, quando Lula deixou o governo, sendo substituído por Dilma, ela assumiu o escritório da Presidência em São Paulo. Para os petistas, o episódio abre brechas para críticas da oposição ao ex-presidente, que já tem sido questionado no episódio do mensalão, sobretudo após o suposto novo depoimento prestado por Marcos Valério ao Ministério Público Federal. No Instituto Lula, contudo, o silêncio ainda impera. Não houve nota oficial após a deflagração da Operação Porto Seguro e a alegação de pessoas ligadas ao ex-presidente é de que ele não está sendo investigado. Aliados do petista tentam minimizar o fato de Rosemary ter sido indicada para Lula para o cargo e, a pedido dele, Dilma tê-la transferido para o escritório em São Paulo. “Lula indicou oito ministros para o Supremo Tribunal Federal e outras tantas pessoas para diversos cargos. Cada um tem de responder pelos próprios atos”, declarou ao Correio o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP). Prestígio abalado Aliados de Dilma, contudo, afirmam que ainda é preciso esperar para avaliar os desdobramentos da operação da Polícia Federal. Segundo uma fonte do governo, “por enquanto, a avaliação é de que o esquema de corrupção era restrito à quadrilha indiciada pela Polícia Federal”, o que afasta Adams do centro das suspeitas por ter insistido na indicação de Weber. “Mas é preciso esperar. Muita gente vai do céu ao inferno em instantes. Outros não sobem mais”, vaticinou um aliado da presidente. |