Crescer não é fácil

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Autor(es): Luiz Carlos Mendonça de Barros

Valor Econômico – 19/11/2012

 

 

A chamada da coluna de hoje tomei emprestada do livro escrito por meu irmão, Jose Roberto, e publicado recentemente pela Editora Campus. Nele estão presentes alguns dos artigos escritos por ele sobre o crescimento econômico no Brasil. José Roberto é um observador qualificado das coisas da economia no Brasil e o título de seu livro é bastante atual nestes anos de Dilma Rousseff.

Estamos chegando ao fim de 2012 sem que os analistas consigam ter uma visão clara do crescimento nos próximos doze meses. Os mais otimistas falam em algo entre 4 a 4,5%; os mais pessimistas não acreditam em um crescimento muito acima de 3%. Eu, que me colocava no primeiro grupo, estou agora em dúvida e, se pressionado, falaria em 3,5%, no máximo. Minhas incertezas sobre o ritmo do crescimento da economia brasileira estão centradas em duas questões principais.

A primeira tem a ver com a onda de pessimismo que tomou conta das empresas nas principais economias de mercado do mundo e que levou a uma queda acentuada dos investimentos. Esse movimento aprofundou-se nos últimos meses com a questão do ajuste fiscal de mais de 4% do PIB já contratado para 2013 nos Estados Unidos. Sabemos que, quando o chamado espírito animal dos empresários entra na geladeira, a volta dos investimentos só ocorre muito tempo depois de superadas as fontes de insegurança. Se tudo der certo nas negociações políticas que serão comandadas pelo presidente Obama nas próximas semanas, somente no segundo e terceiro trimestre do ano próximo é que poderemos ter a normalização dos investimentos.

Será no front do investimento, privado, que a batalha pelo crescimento econômico terá lugar

E o Brasil entrou claramente para o clube das economias de mercado com seus empresários assustados com o futuro e pouco dispostos a grandes desembolsos para a compra de máquinas e equipamentos. Com isso, falar em 4,5% de crescimento do PIB para o ano fechado de 2013 me parece um pouco exagerado. No máximo poderemos ver esse nível de crescimento a partir do segundo semestre.

Mas existem outras questões internas, independente dessa verdadeira greve de investimentos que ocorre no mundo ocidental, e que também tem travado nosso crescimento. A primeira delas é representada por uma série de gargalos, no lado da oferta, e que vêm criando atritos cada vez mais graves no funcionamento de vários mercados importantes. Com isso, as respostas às medidas de estímulo ao consumo que formam o eixo principal da política econômica do governo Dilma – e que fizeram o sucesso dos anos Lula – estão sendo cada vez mais débeis. Os principais itens desse grupo de redutores do crescimento são: a taxa de desemprego muito baixa, principalmente nos segmentos de melhor formação profissional, gargalos na infraestrutura e que provocam custos crescentes de produção no Brasil e um endividamento dos consumidores que já chegou ao limite de sua renda disponível.

Para mostrar ao leitor do Valor como estão agindo esses limitadores de crescimento apresento o gráfico com a expansão do crédito ao consumo nos últimos anos. Até meados de 2011, tínhamos um crescimento anual real de 10%; depois dessa data ele está estagnado. Com isso uma das forças auxiliares importantes dos anos Lula deixou de agir sobre o consumo das famílias e, daqui para frente, seu crescimento vai estar relacionado diretamente com a renda real. Outra implicação importante desse fato é o aumento da dependência do consumo à estabilidade da inflação. Toda vez que houver uma aceleração não prevista na taxa de inflação – como ocorreu recentemente com o choque de preços agrícolas – a massa de salários perde valor real e o consumidor não consegue honrar seus compromissos financeiros. A inadimplência sobe e o consumidor e os bancos pisam no freio.

Essa diferença estrutural entre os anos Lula e agora não foi devidamente entendida pelos formuladores da política econômica do governo e ainda vai dar muita dor de cabeça à nossa presidenta. É preciso entender que nos próximos anos será no front do investimento, principalmente privado, que a batalha pelo crescimento econômico terá lugar. E para ter êxito nessa missão o governo vai precisar rever tanto sua agenda de ações como seu comportamento em relação ao setor privado.

No caso da política econômica o foco principal precisa ser mudado – como disse acima – para o lado da oferta de bens e serviços, com ações que melhorem as condições produtivas das empresas brasileiras, principalmente no setor industrial. No caso do comportamento do governo em relação ao setor privado será preciso mostrar mais respeito pela preservação de contratos e aceitação da legitimidade da busca de lucros nas atividades empresariais. Essas mudanças não parecem fáceis de acontecer dado o histórico dos primeiros dois anos do mandato da presidenta Dilma Rousseff.

Mas como diz meu irmão José Roberto, crescer não é fácil não.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é diretor-estrategista da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.