Investimento rateia apesar da retomada da economia

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Valor Econômico – 25/10/2012

 

 

Vários indicadores divulgados nas últimas semanas sinalizaram que, depois de um agosto bastante animador, houve uma certa retração da atividade econômica em setembro. De toda forma, o ritmo é suficiente para inflar as previsões para o fim de ano, após os resultados desapontadores nos meses anteriores. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu apenas 0,1% no primeiro trimestre sobre o quarto de 2011, e 0,4% no segundo trimestre sobre o primeiro. A previsão do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV) é que o PIB cresceu pouco mais de 1% no terceiro trimestre. O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, sancionou o número ao projetar 4% anualizados para o segundo semestre, em palestra a empresários nesta semana.

A produção industrial registrou a terceira variação mensal positiva consecutiva em agosto, de acordo com o IBGE, crescendo 1,5%, o triplo do 0,5% registrado em julho. Dos 27 ramos de atividade acompanhados pelo instituto, em 20 a produção aumentou, com destaque para os bens de consumo duráveis, que cresceram 2,6%, o terceiro avanço mensal consecutivo. A produção de bens de consumo semiduráveis e não duráveis registrou expansão de 1,2% em agosto; a de bens de capital, 0,3%; e a de bens intermediários, 2%.

O Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) na indústria de transformação, apurado pela FGV, ficou em 84,1% em setembro na série com ajuste sazonal, o maior valor desde julho de 2011 e meio ponto acima do registrado em setembro de 2011. A utilização da capacidade se intensificou no setor de bens de consumo e recuou no de bens de capital. De acordo com a FGV, o Índice de Confiança da Indústria segue em recuperação gradual e atingiu o maior valor desde julho de 2011 na série dessazonalizada.

No comércio, os números são mais exuberantes. De acordo com pesquisa do IBGE, o volume de vendas do comércio ampliado cresceu 10,2% em julho, em relação a julho de 2011, animado, em boa parte, pelos estímulos fiscais. A taxa de crescimento acumulada em 12 meses até julho ficou em 5,9%.

Com crédito relativamente disponível e emprego quase total, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) da FGV mostrou crescimento em setembro, depois de quatro recuos consecutivos, assim como o Índice de Confiança do Setor de Serviços (ICS), que havia registrado cinco recuos consecutivos. Já a Sondagem Industrial do mesmo mês, divulgada nesta semana pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), sinaliza recuo da produção, especialmente no setor de veículos. O lado bom dessa notícia é que a redução da produção diminui os estoques ainda elevados.

O vaivém desses indicadores está por trás da pior notícia de todas: a retração dos investimentos. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que reflete o investimento em máquinas e na construção civil, está em queda há quatro trimestres seguidos, o que não acontecia desde 2001, quando houve o racionamento de energia elétrica, e a economista do Ibre, Silvia Matos, disse ao Valor (18/10) esperar um novo recuo de 0,5% do segundo para o terceiro trimestre, tendo em vista o comportamento ruim das importações de máquinas e o fraco avanço da produção interna no setor entre junho e agosto.

Tombini disse que a situação na Europa desanima os empresários brasileiros, apesar da queda dos juros e do relativo controle da inflação. Certamente esse não é o único motivo que inibe os investimentos. Para Silvia, a recuperação da atividade ainda está concentrada no setor de bens duráveis, especialmente na cadeia automobilística, beneficiada pela redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Para a retomada do investimento, é necessário que a melhora contagie mais ramos da economia. Não adiantam medidas que privilegiem apenas determinados setores, por mais que tenham impacto em outras cadeias produtivas. Há ainda os velhos problemas do custo Brasil que, espera-se, serão enfrentados após as eleições.

Mas tudo indica que este ano está perdido do ponto de vista do investimento, apesar dos programas de infraestrutura anunciados pelo governo. O Ibre projeta um recuo de 2,3% da formação bruta do capital fixo em comparação com 2011, número que leva em conta uma alta de 0,7% no quarto trimestre. O resultado pode ser pior caso a ligeira expansão não se confirme. A taxa de investimento em relação ao PIB ficou em 17,9% em junho, a menor em três anos e bem distante dos 25% calculados como necessários para que o país cresça entre 4% e 5% ao ano.