Ata indica fim de ciclo de corte de juro e inflação acima da meta

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Valor Econômico – 19/10/2012

 

 

O Comitê de Política Monetária (Copom) retirou mais um dos véus que cobrem suas decisões na ata da reunião da semana passada, quando reduziu a taxa básica de juros em 0,25 ponto para 7,25% e sinalizou o fim do ciclo de afrouxamento monetário iniciado em agosto de 2011.

A realização do décimo corte seguido da Selic, para o patamar mais baixo de todos os tempos, surpreendeu a grande maioria do mercado financeiro, que contava com a manutenção dos juros. Mas a ata lançou um pouco mais de luz para essa decisão polêmica, que não foi unânime dentro do próprio Copom, além de confirmar o fim do ciclo atual de ajuste monetário.

Além do conjunto de informações econômicas que o Copom levou em conta ao tomar sua decisão, a ata incluiu, pela primeira vez desde que passou a identificar o voto de cada membro, em maio, os principais argumentos que embasaram a decisão dos cinco diretores que resolveram reduzir a taxa e a dos três que preferiam mantê-la estável.

De acordo com a ata, a maioria dos membros do Copom decidiu aprofundar o corte dos juros diante das incertezas em relação “à velocidade da recuperação da atividade, em grande parte, em decorrência das perspectivas de que o período de fragilidade da economia global seja mais prolongado do que se antecipava, com repercussões desinflacionárias sobre a economia doméstica”. Para esse grupo, as pressões inflacionárias vão diminuir a médio prazo, uma vez que são decorrentes, principalmente, “de choques de oferta, internos e externos”. A maioria dos membros do Copom viu, portanto, espaço no cenário da inflação para “um último ajuste nas condições monetárias”.

Já o grupo de três diretores que defendeu a manutenção dos juros não estava tão seguro disso e achava que o “cenário prospectivo para a inflação não recomendava um ajuste adicional nas condições monetárias”. Esse grupo minoritário acredita que a recuperação econômica vai se sustentar com os estímulos monetários, fiscais e creditícios já concedidos e, “eventualmente, pressões de demanda e de custos poderão incidir sobre a inflação”.

Assim, além do fim do atual ciclo de corte de juros, a ata revela a divisão dentro do Copom em relação à consistência da recuperação econômica e à trajetória da inflação, que, de resto, são as dúvidas básicas que emergem em todas as análises econômicas. Por trás delas está ainda a preocupação com o compromisso do Copom com a meta de inflação.

A própria ata revela que o Copom trabalha com um cenário de referência em que a inflação ficará acima do centro da meta pelos próximos dois anos. A projeção de inflação do Copom para este ano ficou estável em relação à da reunião de agosto e segue acima do centro da meta de 4,5%. Já a inflação projetada para 2013 caiu entre os dois encontros, mas continua acima do centro da meta; e para o terceiro trimestre de 2014, a inflação projetada também está acima. O cenário de referência considera manutenção da taxa de câmbio em R$ 2,05 por dólar e da taxa Selic no patamar de 7,5% em que estava até a reunião da semana passada. Em mais de um trecho a ata expressa a confiança de que a inflação tende a se deslocar na direção da trajetória de metas, ainda que de “forma não linear”.

As projeções do Copom levam em conta a manutenção dos preços da gasolina e do gás de bujão neste ano, mas embutem queda de 1,3% nas tarifas de telefonia fixa, acima da redução de 1% prevista anteriormente. A expectativa para os preços administrados é de reajuste de 3,6% neste ano; e a previsão para 2013 foi reduzida de 4,5% para 2,4% por causa da redução das tarifas de energia elétrica depois das medidas do governo para a área. Essa suposição se baseia, porém, em premissas frágeis. É possível contar com a redução do custo da energia elétrica que virá da decisão do governo de abolir algumas antigas contribuições, o que somará 7 pontos percentuais da esperada diminuição média de 20,2% do preço da energia em 2013. Mas o restante depende da adesão das concessionárias de energia ao plano de renovação de contratos, que impõe a diminuição das tarifas. Se nem todas aderirem da forma planejada, o preço não cairá tanto.

Fica claro também na ata que o Copom continua contando que o cenário internacional terá um viés desinflacionário a médio prazo na trajetória da inflação. Apesar de a China ter divulgado ontem o sétimo trimestre consecutivo de desaceleração, com expansão de 7,4% em 12 meses, a aposta na influência deflacionária do mercado internacional certamente não deixa de ser arriscada.