Tombini rebate Bernanke e critica medidas

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Autor(es): Ricardo Leopoldo
O Estado de S. Paulo – 16/10/2012
 

 

Para o presidente do Banco Central, a política econômica dos países ricos prejudica o Brasil

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que as políticas de afrouxamento quantitativo – injeção de re­cursos no mercado para reani­mar a economia – adotadas por países desenvolvidos afetam o Brasil. O comentário foi um rápi­do contraponto à avaliação feita no domingo, em Tóquio, pelo presidente do Fed, Ben Bernanke, segundo a qual não há sinais claros de que tais ações não con­vencionais provocam desequilí­brios nos mercados emergentes.

“De maneira que sim, afetam, tornam a condução da política macroeconômica mais comple­xa”, destacou Tombini. “Nos não queremos que o Brasil seja uma praça de desvalorização de moedas de outros países.”

Tombini ressaltouque o gover­no está atento a essa conjuntura e o País tem condições de se defen­der como julgar mais convenien­te, caso seja preciso. “Temos con­dições de nos proteger”, afirmou.

Os comentários de Tombini estão em plena harmonia com a manifestação do ministro da Fa­zenda, Guido Mantega, na reu­nião do FMI, de que o Poder Executivo vai fazer tudo o que for necessário para que os efeitos da crise internacional não atinjam o País. E, nesse comentário, foi sinalizado de forma indireta que os impactos negativos do afrou­xamento quantitativo sobre o aumento da pressão de valorização do câmbio também serão comba­tidos pelo governo com rigor.

O presidente do BC também afirmou que a entidade “tem mandato duplo, que é assegurar a estabilidade monetária e finan­ceira” no Brasil. Ele ressaltou que a deterioração da economia internacional, um cenário acom­panhado de perto pelo governo há um bom tempo, leva o País a ser afetado por um “típico ciclo de negócios”, marcado por desa­celeração até o primeiro semestre e recuperação na segunda me­tade do ano. “Mas a retomada da economia está ocorrendo e a in­flação deve continuar sob contro­le”, disse, ao participar em semi­nário promovido pela Câmara do Comércio Brasileira no Japão.

Crescimento. Tombini afirmou que economistas de mercado ponderam que o Brasil deve cres­cer 4,3% no segundo semestre e 4% em 2013, o que são previsões em linha com as projeções reali­zadas pelo FMI na semana passa­da o Fundo reduziu as proje­ções de expansão do Brasil de 2,5% para 1,5% em 2012 e de 4,6% para 4% para o próximo ano.

Ele destacou que o governo adotou um conjunto de medidas em 2011, sobretudo na área de política monetária, para estimu­lar o nível de atividade. Além dis­so, afirmou que o BC ampliou a liquidez do mercado, pois os depósitos compulsórios foram re­duzidos de R$ 449 bilhões no ano passado para R$ 353 bilhões em outubro de 2012.

Inflação. O presidente do BC afirmou ainda que o fraco desem­penho da economia mundial – que deve perdurar por um prazo longo – deve fazer com que o ce­nário externo dê uma contribui­ção desinflacionária ao Brasil nos próximos anos. “A inflação no Brasil está sob controle e o processo de convergência à me­ta continua”, destacou.