Uma crise geral de representatividade é uma ameaça

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Duas pesquisas recentes sobre a confiança da sociedade brasileira nas instituições do país apresentaram um quadro preocupante.

Em ambas, as instituições que estruturam a nossa democracia aparecem como as menos confiáveis, enquanto as instituições mais confiáveis são, em sua maioria, espaços privados onde o exercício social é de fé ou autoridade.

A pesquisa do instituto Quaest lançada em setembro deste ano mostrou que as cinco instituições que mais merecem a confiança do povo brasileiro são, pela ordem:
1º) Igreja Católica (73%),
2º) Polícia Militar (71%),
3º) Forças Armadas (70%),
4º) Igrejas Evangélicas (65%) e
5º) Prefeito Municipal (63%).

Enquanto isso, as cinco instituições de menor credibilidade junto à sociedade seriam, conforme a pesquisa:
1º) STF (50%),
2º) Congresso Nacional (45%),
3º)Juízes de Futebol (43%),
4º) Redes Sociais (41%) e
5º) Partidos Políticos (36%).

Já a pesquisa feita pelo instituto Ipsos e lançada em julho mostrou um cenário parecido, apenas destoante porque algumas opções apresentadas ao respondente eram diferentes da pesquisa Quaest. Segundo o Ipsos, as cinco instituições mais merecedoras de confiança no Brasil seriam:
1º)
Corpo de Bombeiros (85%),
2º) Igrejas (67%),
3º) Escolas Públicas (66%),
4º) Polícia Federal (66%) e
5º) Forças Armadas (64%).

Nesta pesquisa, as cinco menos confiáveis seriam:
1º) Governo Federal (46%),
2º) Sindicatos (41%),
3º) Presidente da República (41%),
4º) Congresso Nacional (37%) e
5º) Partidos Políticos (32%).

Nota-se uma similaridade na tendência geral. Confia-se mais naqueles espaços sociais e institucionais onde o cidadão procura acolhimento pessoal, transcendência e autoridade, e menos naqueles espaços sociais e institucionais onde o cidadão encontra (ou deveria encontrar) participação, arena pública, debate e ação política.

É preciso encarar com coragem e frieza dados que nos colocam em uma situação problemática e em certa medida contraditória.

Somos servidores de um Estado que é muito demandado e reconhecido como necessário em muitas pesquisas. Sabemos que, quando perguntado, o povo brasileiro demonstra sua crença nos serviços públicos essenciais. Porém, os apontamentos que surgem em pesquisas como essas dão conta de uma compreensão fraturada, segundo a qual o servidor e o governo parecem ser uma coisa diferente do serviço prestado.

As exceções, quando há, parecem confirmar a regra: quando os bombeiros aparecem no topo da lista, certamente não é porque a sociedade os conecta com uma abstração que traduz a ideia de Estado e serviço público, mas sim porque eles são visíveis e reconhecidos em momentos de extrema necessidade.

Porém, a “ponta” dos serviços públicos depende da retaguarda de um Estado que funciona e seja bem equipado. Mas quando pensa na retaguarda do Estado, a sociedade percebe algo de ruim que a faz desconfiar. Cabe fazermos uma reflexão agora a respeito dos porquês desta condição, e de como dela sairmos. Muito diálogo é necessário para evitar que estas desconfianças institucionais descambem para um apoio ainda maior às soluções de força para nossos conflitos internos.

Sintoma grave desta possibilidade que sempre nos ameaça é a crise de representatividade de instituições que, em tese, estão entre as mais próximas do interesse popular: o Congresso Nacional e os Sindicatos. O Congresso, tomado por uma lógica de bancadas que representam interesses setoriais ou paroquiais, sofre com uma ilegitimidade crescente. E os Sindicatos sofrem de uma prolongada crise de representatividade, alimentada por sucessivas investidas legais contra sua estrutura, pelas reformas jurídicas do mundo do trabalho e os efeitos perversos do contexto neoliberal em todo o mundo. Tudo isso nos leva a uma crise de representação coletiva, quer seja pela via do voto popular, quer pela via da representação de classe. O povo não projeta uma ideia de representatividade naqueles que ainda estão ali para representá-lo. E isso é um risco enorme para as democracias.

Nossa democracia, tão jovem e ainda frágil, precisa ser cultivada e protegida todos os dias. Comunicar bem à sociedade sobre o papel do Estado e de seus servidores é uma tarefa a mais nesta missão de manter o Brasil como um país democrático e aberto ao diálogo. Todos os sindicatos, e a Assecor quer estar sempre junto a este esforço, deveriam contribuir para restabelecer esse diálogo.