Investimento não decola

387
Correio Braziliense – 10/10/2012
 

 

Nenhum pacote ou medida parece ter sido suficiente para impulsionar mais fortemente o crescimento da economia. A avaliação de integrantes da equipe econômica é de que o empresariado não está disposto a tirar projetos da gaveta a uma velocidade adequada para incrementar a taxa de investimentos do país em 2013. Segundo esses técnicos, se o ritmo do setor privado não se alterar nos próximos meses, essa taxa pode ficar próxima do que o mercado espera para 2012, algo ao redor de 18% do Produto Interno Bruto (PIB), ou pouco acima disso.

Dados da Fundação Getulio Vargas (FGV) reforçam a percepção de que os empresários ainda não estão à vontade para bancar novos projetos ou ampliar suas operações. A previsão é de que, no terceiro trimestre, a taxa de investimento recue 1% e termine o ano com retração de 1,5%. O diagnóstico do governo e de economistas independentes é semelhante: sem investimentos, o país não crescerá a uma taxa mais robusta.

“Embora haja melhora dos fundamentos e algumas evidências de crescimento mais disseminado, a incerteza permanece elevada”, observou Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco. Segundo ele, há possibilidade de um desempenho fraco no quarto trimestre do ano e a contribuição do setor automobilístico, no período, tende a ser menor. “Logo, os investimentos precisam acelerar para que a expansão do PIB se mantenha mais alta, mesmo com menor crescimento do consumo”, ponderou.

Além dos investimentos, especialistas alertam para outros fatores que têm travado o Brasil. “Destaco como causa do crescimento brasileiro ter ficado abaixo das expectativas, a piora do cenário externo e dos reflexos, ainda discretos, da substantiva redução da Selic”, explicou Sidnei Nehme, economista e diretor-executivo da NGO Corretora. Na visão dele, os efeitos da queda da taxa de juros, que recuou de 12,5% ao ano para 7,5%, foram mais fracos devido à inadimplência dos consumidores.

O cenário de fraqueza econômica é evidenciado pelas constantes revisões das projeções do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o Brasil e para o mundo. Na reunião que ocorre esta semana em Tóquio, economistas das duas entidades devem fazer um alerta para as economias emergentes, que dificilmente conseguirão se proteger da desaceleração dos países ricos.

“Até a Alemanha”
Em artigo publicado recentemente, o megainvestidor húngaro-americano George Soros prevê que até mesmo a poderosa Alemanha deve entrar em recessão dentro de seis meses. Além disso, a China, maior parceiro comercial do Brasil, tem se apresentado como um problema a mais com o que tem sido chamado de “pouso suave do dragão” — ou seja, a queda do ritmo de expansão da economia chinesa.

Esse cenário de incerteza já levou o governo a fazer seguidas revisões das projeções econômicas. A última estimativa do Banco Central aponta para uma alta de apenas 1,6% do PIB neste ano. Na segunda-feira, foi a vez do FMI revisar números. Para a instituição, o Brasil não avançará 2,5% em 2012 como projetado em julho, mas apenas 1,5% — um dos piores desempenhos da América Latina e também entre os países que foram a sigla Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).