País precisa entrar logo na economia do conhecimento

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Autor(es): Por Ediane Tiago | Para o Valor, de São Paulo

Valor Econômico – 19/03/2013

 

 

Por trás da cifra de R$ 32,9 bilhões em estímulos para inovação, o governo federal revela uma postura vigorosa para conquistar o almejado salto qualitativo na economia. O norte está voltado para atributos como competitividade, produtividade e modernidade – características de países que têm a inovação como matriz do desenvolvimento. No centro da articulação do programa Inova Empresa, no qual trabalhou lado a lado com a presidente Dilma Rousseff, o ministro Marco Antonio Raupp, da Ciência, Tecnologia e Inovação, afirma que é preciso ampliar substancialmente a criação local de bens industriais com alto valor agregado e fazer com que o Brasil entre definitivamente na economia do conhecimento.

Em entrevista ao Valor, Raupp afirma que ainda é difícil projetar os resultados do pacote, lançado na quinta-feira, mas afirma que ele representa uma aposta alta na inovação e fortalece o desenvolvimento tecnológico como instrumento indispensável ao desenvolvimento sustentado do país.

Valor: Em que sentido o plano Inova Empresa se diferencia de outros já lançados?

Marco Antonio Raupp: O governo federal reuniu esforços e recursos de diversas áreas em um único instrumento. Com isso, o valor financeiro total é bem maior do que o que vínhamos destinando à inovação. Além de mais recursos, o programa permite a combinação dos instrumentos: crédito, subvenção e fomento. Em relação aos negócios de menor porte, instituímos um sistema descentralizado de acesso ao financiamento. As fundações estaduais de amparo à pesquisa, bancos e agências de desenvolvimento regionais atuarão como agentes da Finep na execução de programas de crédito e de subvenção. Por último, a questão do acompanhamento. O plano Inova Empresa terá um comitê gestor, composto por cinco ministérios – MCTI, MDIC, Fazenda, Casa Civil e Secretaria da Micro e Pequena Empresa -, que vai estabelecer as diretrizes, monitorar a execução e avaliar os resultados.

Valor: A integração entre os ministérios fortalece a pasta de Ciência e Tecnologia?

Raupp: Fortalece a ciência, a tecnologia e a inovação (CT&I) como instrumentos fundamentais e indispensáveis para o desenvolvimento sustentado do país. O MCTI é apenas um meio para que isso aconteça. O importante é que estamos constituindo uma política de Estado para CT&I e não apenas um programa de governo.

Valor: O governo quer chegar logo ao patamar de 2% do Produto Interno Bruto (PIB) em investimentos em atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação?

Raupp: Esse é o objetivo de fundo do plano. Ainda não nos dedicamos a fazer a previsão de quanto ele contribuirá para melhorar a relação entre os gastos com pesquisa e desenvolvimento em relação ao PIB. Pelo volume de recursos, esperamos uma elevação expressiva do índice de investimentos. Mas a política somente renderá frutos se as empresas utilizarem os recursos disponíveis. As empresas pleiteavam mais dinheiro público para inovação. Subimos o valor a patamares inimagináveis até muito pouco tempo atrás. Agora é a vez de as empresas entrarem firmes no jogo.

Valor: Que vantagens trará para as empresas a atuação conjunta da Financiadora de Estudos e Projetos e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social?

Raupp: Previsibilidade de investimentos, redução de custos e mais segurança para entrarem no risco da inovação. A atuação conjunta Finep-BNDES nos possibilitou criar programas em que estão articulados crédito e subvenção econômica. Com fluxo contínuo, juros subsidiados e largos períodos de carência e prazo de pagamento, o crédito oferecido possibilita às empresas reduzir significativamente os custos de capital envolvidos com a inovação. Já a subvenção ajuda as empresas a reduzir o risco tecnológico. Em resumo, a atuação conjunta oferece às empresas melhores condições para inovar.

Valor: A descentralização do crédito e da subvenção econômica para as micro e pequenas empresas será capaz de promover o adensamento tecnológico nas cadeias produtivas?

Raupp: A ideia é essa. Inovação não pode acontecer somente nas empresas âncoras, precisa acontecer na cadeia toda. É assim que uma economia vai se tornando cada vez mais inovadora. Acreditamos na eficácia da descentralização do crédito e da subvenção por duas razões fundamentais. O financiamento à inovação descentralizado aumenta a capilaridade do sistema e sua capacidade de enxergar aquilo que Brasília não enxerga. Além disso, os agentes estaduais estão sendo convidados a entrar com recursos. Dessa forma, somamos aportes federais e estaduais. É mais capilaridade, mais dinheiro e melhor capacidade de intervenção.

Valor: Como vai funcionar?

Raupp: A subvenção conta com o Tecnova, cujo orçamento é de R$ 350 milhões. Para as operações de crédito, o programa é o Inovacred, com R$ 1,2 bilhão. Ambos serão executados por parceiros estaduais, credenciados pela Finep. Os parceiros do Tecnova são as fundações de amparo à pesquisa. Do Inovacred – e aí temos mais uma característica inédita -, são bancos estaduais ou agências de desenvolvimento.

Valor: A maior parte dos aportes está alocada em crédito reembolsável. O atual ambiente de negócios será suficiente para incentivar as empresas a pedir empréstimo para financiar projetos?

Raupp: Sabemos que o cenário é complexo. Não estamos crescendo o quanto queremos, mas temos uma moeda estável e um mercado interno considerável e em expansão. Existem gargalos na infraestrutura, mas nossa relação dívida pública/PIB é das melhores. Portanto, temos condições de investimento. Para cada situação supostamente desfavorável, temos uma contrapartida favorável. Além disso, sabemos que para sermos competitivos no mercado global precisamos de uma economia moderna, abastecida por empresas inovadoras. Isso tudo nos faz crer que nossas empresas investirão, sim, em pesquisa, desenvolvimento e inovação. Nossa expectativa é que os dispêndios das empresas passem a superar os do governo.